O recurso
à decoração do corpo sempre foi uma forma de embelezamento. Efetivamente é,
sobretudo, através do corpo que nós comunicamos uns com os outros. A nossa
realidade corporal revela quem somos muito para além daquilo que até
gostaríamos. Para a cultura cristã o corpo é santuário da presença de Deus, que
deve ser cuidado, respeitado e (sem falsos conceitos) amado na correta
proporção daquilo que é também a idêntica consciência para com os outros.
Como
poderemos entender – ligando causas a efeitos – esta onda de ‘embelezamento’ do
corpo através dos piercings, das tatuagens e de tantas outras formas
recentemente introduzidas na comunicação dos nossos dias? Serão tais adereços
sinais de respeito ou de desprezo pelo corpo humano? Que mensagem/linguagem
está subjacente a tais aspetos, hoje, como que vulgarizados? Será por moda ou
estará envolvida qualquer outra filosofia e/ou cultura?
Desde já
fique claro que não quero entrar na depreciação de tais formas de tratar o
corpo humano, antes pelo contrário: gostaria de entender o que se está a
passar… mas sem pensar, de forma alguma, em recorrer a essa moda de piercings,
tatuagens e outros artefactos quase que civilizacionais…
É digno
de ser referido ainda que piercings, tatuagens e outras artes decorativas
corporais vivem numa lógica de exibição, pois esta como que faz parte da
comunicação entre grupos, de setores afins de relacionamento entre sexos (uns
dizem antes de ‘género’) e até em agrupamentos socio-religiosos mais ou menos
influentes.
= Porque
será que o Cristiano Ronaldo não tem qualquer tatuagem, enquanto outros
jogadores de futebol ostentam dezenas de desenhos, grafitis, inscrições,
palavras e frases… no corpo, naquilo que é mais ou menos visível? O não ter
entrado nesta moda – já que da exibição dos piercings e brincos não escapou –
das tatuagens teve algo a ver com condicionamentos da publicidade que faz? Será
esta contenção por consciência ou por mero recurso da manipulação que dele,
frequentemente, fazem?
=
Bastará uma breve consulta, na internet, sobre piercings e poderemos encontrar
interpretações muito diversificadas, atendendo à sua colocação no corpo humano,
tanto de homens como de mulheres: em qualquer dos locais do corpo humano, um
piercing tem algum significado – no nariz, na orelha, no umbigo, na língua… e
em tantas outras partes do corpo. Cada um poderá considerar algo que possa
determinar o uso de piercings, na maior parte dos casos serão mais para se
fazer notar e/ou para destoar dalguma normalidade a influenciar… Sem com isto
querermos fazer qualquer juízo valorativo, em muitas das situações de recurso a
esta ‘arte’ de provocação poderemos encontrar algo que possa fazer-nos recuar a
estádios ancestrais de afirmação nas tribos e classes sociais… Embora seja
aceitável esta ‘arte’ teremos de nos situar quase sempre na evolução da cultura
humana. Certas linguagens mais parece que nos fazem involuir de forma
acentuada…
= Nem
que de forma sucinta poderemos encontrar na consulta sobre tatuagens um longo
historial mais ou menos exotérico e com necessidade de ser lido, interpretado e
discernido no contexto atual da complexidade de formulações de tantas das
tatuagens…exibidas. Efetivamente muitas das tatuagens são como que um
retrocesso a práticas pagãs um tanto difundidas no entendimento de que poderemos
usar o nosso corpo como bem desejarmos… Nem mesmo a colocação de imagens e
símbolos religiosos (cristãos ou não) fazem com que a tatuagem possa ser vista
com uma certa leviandade com que vemos tratar o assunto e gravá-lo na pele por
mais ou menos tempo.
Atendendo
ao ‘espetáculo’ de certas figuras que exibem tatuagens – muitas delas em claro
exagero e prolixa apresentação – dá a impressão que muitas pessoas aderiram a
este movimento de forma acrítica e sem pensarem nas consequências. Já nem
falamos dos locais onde as tatuagens são feitas e tão pouco o gosto que levou a
recorrer a tal adereço de beleza. Parece que muitas das tatuagens pecam pelo
mau gosto e até mesmo pela insensatez na sua colocação. Tal como outras modas
ou modos de estar, respeitamos quem disso se socorre, mas como o pequeno neto dizia
à avó, ao vê-la maquilhar-se: se é para ficares bonita, porque é que não ficas?
António Sílvio Couto
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