Mais uma
vez – já aconteceu noutros casos recentes – vão realizar-se jogos de futebol na
data das próximas eleições autárquicas, a 1 de outubro. A comissão nacional de
eleições ainda recomendou que tal coincidência fosse evitada, mas os
calendários futebolísticos intra e extra a isso obrigam, dado que não haveria
os tais tempos de descanso entre os diferentes jogos a disputar.
Para o
imediato nada ou com pouco efeito. Mas no futuro há quem sugira – sobretudo na
área de quem governa – que tais ‘diversões’ podem prejudicar a participação dos
eleitores, dando azo a que a abstenção cresça. Mas, quando têm marcado as datas
em tempos de veraneio, quem ousou sugerir que se fechassem as praias para que
os cidadãos tenham a obrigação de ir votar? Também alguém irá proibir as
pessoas de irem às compras e de passearem pelos centros comerciais, canalizando
os votantes para as mesas eleitorais vazias? Quem iria sugerir que fossem
fechados os cinemas – e porque não, teoricamente, as igrejas! – ou teatros que
assim distraíssem de ir votar?
Sim,
este condicionamento reduzido aos jogos de futebol sofre duma visão bastante míope
e um tanto controladora da população, senão mesmo uma espécie de infantilização
dos milhões de eleitores que têm de ser encarreirados para votar, mesmo que
possam estar mal esclarecidos ou pouco motivados para se pronunciarem sobre
assuntos – embora importantes – secundarizados para uma imensa maioria dos
cidadãos.
Fique
claro: defendo – já há bastante tempo por escrito e de forma oral – o voto
obrigatório, dado que não podemos continuar a permitir que haja pessoas que não
se pronunciem nas urnas de voto e depois se armem em reclamantes sem decisão.
No entanto, a vida continua como noutros dias e só uns tantos arregimentados
para a causa dos seus favores se aprontam para quererem manipular quem com eles
não concorda. Basta de vermos eleitos a ocuparem lugares com mais de dois
terços dos inscritos não-votantes e com isso prolongarem-se no poder de forma
legítima, mas um tanto ilícita!
= Mesmo
que este escrito possa entrar pela época da (dita) campanha eleitoral,
sugerimos alguns aspetos que exigem reflexão urgente, séria e amadurecida…até
mesmo depois dessa etapa:
* Quem
nos governa – ou vai governar – são (mesmo) os melhores? Dado que os diretórios
partidários e os gabinetes de promoção dos (pretensos) independentes são quem
escortina os lançados à eleição, não seria de incrementar a escolha dos mais
capazes e não só dos mais fiéis ao sistema e à ideologia? Porque se vai
esfumando da vida pública quem tem mais qualidade e capacidades de servir e não
de servir-se?
* Como
poderemos acreditar em quem não se credita a si mesmo? Certas atitudes de
candidatos aos postos de mando levam-nos a questionar essa espécie de
malmandados, isto é, de quem quer que os outros façam aquilo que eles não sabem
como fazer nem têm a mínima preparação para mandar fazer.
*
Perante o que já vimos nas lideranças passadas fica-nos uma amarga sensação
sobre um presente e até alguma apreensão sobre o futuro, dada a incapacidade de
haver uma substituição adequada e com visão mais abrangente do que o perímetro
da sua própria imagem. Estamos como que órfãos de líderes e reféns da
inutilidade dos que se aprestam para exercerem tais funções…
= Não
será com distrações de desencontro entre eleições e jogos de futebol que iremos
recuperar a verdadeira cidadania e o interesse pela vida política na sua
expressão mais digna, elevada e correta. É urgente dignificar quem está na vida
política. Os primeiros a fazê-lo devem ser os próprios atores dessa mesma
política. Ora, se vemos que nem eles mesmos se fazem creditar, como poderemos
levar quem os julga – desde a votação até à ação – a acreditarem que são, acima
de tudo, pessoas de bem?
De
facto, como portugueses temos a propensão em julgarmos os outros por nós
mesmos, mas nem assim será menos sério que se exija aos fazedores da ação
política – seja qual for a instância em que se coloquem – uma conduta
ética/moral o menos má possível.
Talvez
seja o que merecemos, nesta fase social em que nos encontramos, mas devemos
pugnar para que sejam os melhores aqueles/as que estão no exercício das tarefas
sociais e públicas. Só, deste modo, estaremos salvaguardados no presente e para
o futuro!
António Sílvio Couto
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