Nos
tempos iniciais da nossa democracia era um tanto fácil identificar as formações
partidárias pelas cores com que se faziam reconhecer… Daí adveio a designação
dalgumas agremiações e até a conotação de certas colorações: laranjas,
vermelhos, rosas, azuis, etc.
Outro
tanto se passava com as cores dos clubes desportivos mais representativos:
encarnados, azuis, verdes… sendo como que tomados por antonomásia nas narrativas
escritas ou orais, sabendo-se logo de quem se tratava, mesmo sem ser preciso
dizer qual era o dito…
Se no
campo desportivo a evolução do cromático tem sido mais denotativa, no espetro
partidário tem-se vindo a gerar alguma confusão, sobretudo, por parte daqueles
que foram tomando as rédeas das agremiações… desde os mais velhos até aos mais
recentes
Assim
aqueles que antes eram identificados com o vermelho foram passando a ostentar o
azul; os que antes tinham uma tonalidade rosa, já tiveram o amarelo por
referência; os que se apresentavam com a cor azul, vão flutuando por entre
outros matizes mais disfarçados; outros ainda introduziram várias outras cores,
tentando, ao que parece, destabilizar as referências ideológicas…
= Naquilo
que se pode entender – tendo em conta o passado histórico – a leitura das cores
na política resumir-se-ia em três tonalidades: o vermelho com a esquerda, o
branco com o centro e o azul com a direita… com todas as nuances que se possam
colocar na leitura deste espetro, tanto para os próprios como para com os
adversários.
Ora, se
consultarmos uma interpretação das várias cores e seus significados poderemos entender
um tanto melhor o caldo de leituras… ideológicas, clubísticas e até
psicológicas e emocionais:
. Branco
remete para a paz, sinceridade, pureza, inocência e calma;
. Verde
simboliza esperança, perseverança, vigor e juventude;
. Vermelho
envolve paixão, conquista, requinte e liderança;
. Amarelo
tem referência à criatividade, juventude e alegria;
. Azul
simboliza lealdade, confiança e tranquilidade;
.
Laranja significa movimento, espontaneidade, tolerância e gentileza;
. Rosa
aponta para romance, sensualidade e beleza;
.
Violeta envolve sinceridade, dignidade, prosperidade e respeito;
.
Castanho está associado à estabilidade, constância e maturidade;
. Preto
pode significar dignidade, sendo ainda associado ao mistério…
Atendendo
a esta multiplicidade de interpretações e de envolvências, como poderemos,
então, compreender certas mutações simbólicas de partidos e de agremiações na
índole social e ideológica? Terá havido uma desconstrução dos ideais ou tem
havido algum oportunismo nas mudanças? Que dizer, então, das formações que
multiplicam as cores quase anarquicamente, serão retrato duma anarquia de
valores ou da confusão de ideias? Até onde irá tamanha ambivalência? Cada qual
saberá quem é e o que pretende…mesmo?
Se
olharmos ainda para a mudança de certas forças partidárias como que poderíamos
associar tal mutação com a dos equipamentos alternativos das equipas de futebol
do principal campeonato português: cada alternativa é mais uma alteração na
identidade, criando a quem vê para além de confusão, uma forte apreensão sobre
diante de quem estamos. Em certas circunstâncias – tanto políticas como
desportivas – poderemos ter de dedicar algum tempo à reflexão sobre a
inconsistência dos projetos, que se refletem nas cores diluídas e sem nexo com
que se apresentam…ao público iletrado.
E, se
tivermos em conta os (pretensos) independentes às próximas eleições autárquicas
estaremos ainda mais perante algo inaudito: se cada um não sabe quem é, como
poderá lutar pelos seus ideais claros, sinceros e altruístas? Ou será que o
individualismo e o culto da personalidade já não escondem mais as aspirações de
acesso ao poder a todo o custo?
Precisamos
de clareza de cores e de significados… Com tal confusão ninguém tem nada a
ganhar!
António Sílvio Couto
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