Pasme-se:
na campanha eleitoral autárquica, em Lisboa, uma candidata ‘iluminada’ sugeriu
que, na capital, os transportes públicos devem incluir uma divisória para uso
exclusivo das mulheres, por forma a defendê-las do assédio dos homens… Levou à
liça algumas mulheres doutros paridos e nada foi dito de que isso era
discriminatório da liberdade das pessoas nem tal proposta foi considerada como
ofensiva das mulheres… todas e não só das (pseudo) queixosas…
Se tal
ideia fosse lançada por outra qualquer força que não do quadro da (dita) esquerda
o que teria sido dito e reportado…como retrógrado, fomentador do racismo,
sexista e xenófobo…onde as mulheres estariam a ser subalternizadas. Mas como
foi atirado para o ar – literalmente como se fosse uma boca, um gracejo ou um
piropo, agora já sob a alçada da lei – por uma ‘intelectual de esquerda’ ninguém
fala nem ousa contestar… Assim podemos ver – como diz o filósofo ‘de forma bem
vista’ – a tal ‘independência’ e os trejeitos da nossa comunicação social: uns
são engraçados e outros caem em desgraça…mesmo que tenham razão!
A
sugestão tão revolucionária recebeu – apesar de tudo – o rótulo da recuperação
do apartheid, de carruagem cor-de-rosa ou de medida segregadora… E a
transferência para Portugal de tiques brasileiros pouco mais deu do que uma
nota de rodapé… estrupícia.
É
preocupante e confrangedor que, nos tempos mais recentes, se esteja a viver
numa assanhada luta ideológica de reversão de questões já resolvidas e
culturalmente ultrapassadas pela moderação dos valores concordantes no nosso
país. Com algum azedume vemos surgirem ideias de conflitualidade entre setores
da sociedade, quando tanto se tinha já percorrido para que a igualdade – sem
igualitarismo – entre homens e mulheres continue o seu caminho. Quiseram
introduzir a baralhação do ‘género’ e as coisas começaram a tornar-se acintosas
para quem nunca tinha, antes, qualquer problema. Certas mentes andam entretidas
em escarafunchar pontos de divergência, quando, antes, tudo estava pacífico e
pacificado…até pela consciencialização de séculos de cultura cristã latente ou
tácita.
= Uns/umas
tantos/as parecem, pelo contrário, revestir a figuração de ‘book rosa’ ou ‘book
azul’, senão na prática, ao menos nas ideias. Nesse grande palco da simulação e
na assunção de papéis de faz-de-conta, dá a impressão que se vislumbra uma
espécie de ‘boa vida’ sem olhar a meios, desde que possa haver proveito mais ou
menos imediato. Em quantos dos casos de exibição na comédia – ou será, antes,
drama e tragédia? – da nossa vida pública/política parece que há gente que não
olha a meios para atingir os (seus) fins.
Por
certo que, quem tenha já percebido o guião, tenderá a fugir das fraldas do
palco, de modo a que não seja confundido com os atores que entram e os que
saem, embora possam ser os mesmos só trocando de roupagem nos bastidores…Em
certas ocasiões – como as de campanha eleitoral – as funções confundem-se e as
falas de representação podem deixar de ter nexo, tal é a atrapalhação em querer
dizer tanto com tão pouco critério… ajuizado e sensato.
= Há
coisas que não têm solução, porque não se aprendem dumas vezes para as outras.
Pior: como a qualidade dos intervenientes vai decaindo, até as graçolas dos
inteligentes se tornam ridículas, quando referidas pelos incompetentes de
serviço… e são tantos/as!
Como
dizia, recentemente, o Papa Francisco: é pecado não rezar pelos que nos
governam. Sim, para que sejam retos e honestos, verdadeiros e leais, altruístas
e inteligentes.
Quando
vemos certas reações ‘democráticas’, se não condizem com as nossas, então
estamos condenados à ditadura. Esta tanto pode ser da privação de liberdade
como pelo fomento de libertinagem. Ora, desta – a libertinagem – estamos cada
vez mais atulhados e quase incapazes de reagir com bom senso e ousadia. O bom
senso há-de-nos fazer aceitar os valores dos outros, respeitando-os. A ousadia
dar-nos-á capacidade de não nos acomodarmos ao já feito, mas tentando recriar
novas formas de compromisso uns com os outros…sempre em abertura à dimensão
divina e sagrada da pessoa humana.
António Sílvio Couto
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