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terça-feira, 26 de setembro de 2017

Da estrupícia discriminação… ao book rosa


Pasme-se: na campanha eleitoral autárquica, em Lisboa, uma candidata ‘iluminada’ sugeriu que, na capital, os transportes públicos devem incluir uma divisória para uso exclusivo das mulheres, por forma a defendê-las do assédio dos homens… Levou à liça algumas mulheres doutros paridos e nada foi dito de que isso era discriminatório da liberdade das pessoas nem tal proposta foi considerada como ofensiva das mulheres… todas e não só das (pseudo) queixosas…

Se tal ideia fosse lançada por outra qualquer força que não do quadro da (dita) esquerda o que teria sido dito e reportado…como retrógrado, fomentador do racismo, sexista e xenófobo…onde as mulheres estariam a ser subalternizadas. Mas como foi atirado para o ar – literalmente como se fosse uma boca, um gracejo ou um piropo, agora já sob a alçada da lei – por uma ‘intelectual de esquerda’ ninguém fala nem ousa contestar… Assim podemos ver – como diz o filósofo ‘de forma bem vista’ – a tal ‘independência’ e os trejeitos da nossa comunicação social: uns são engraçados e outros caem em desgraça…mesmo que tenham razão!

A sugestão tão revolucionária recebeu – apesar de tudo – o rótulo da recuperação do apartheid, de carruagem cor-de-rosa ou de medida segregadora… E a transferência para Portugal de tiques brasileiros pouco mais deu do que uma nota de rodapé… estrupícia.

É preocupante e confrangedor que, nos tempos mais recentes, se esteja a viver numa assanhada luta ideológica de reversão de questões já resolvidas e culturalmente ultrapassadas pela moderação dos valores concordantes no nosso país. Com algum azedume vemos surgirem ideias de conflitualidade entre setores da sociedade, quando tanto se tinha já percorrido para que a igualdade – sem igualitarismo – entre homens e mulheres continue o seu caminho. Quiseram introduzir a baralhação do ‘género’ e as coisas começaram a tornar-se acintosas para quem nunca tinha, antes, qualquer problema. Certas mentes andam entretidas em escarafunchar pontos de divergência, quando, antes, tudo estava pacífico e pacificado…até pela consciencialização de séculos de cultura cristã latente ou tácita.   

= Uns/umas tantos/as parecem, pelo contrário, revestir a figuração de ‘book rosa’ ou ‘book azul’, senão na prática, ao menos nas ideias. Nesse grande palco da simulação e na assunção de papéis de faz-de-conta, dá a impressão que se vislumbra uma espécie de ‘boa vida’ sem olhar a meios, desde que possa haver proveito mais ou menos imediato. Em quantos dos casos de exibição na comédia – ou será, antes, drama e tragédia? – da nossa vida pública/política parece que há gente que não olha a meios para atingir os (seus) fins.

Por certo que, quem tenha já percebido o guião, tenderá a fugir das fraldas do palco, de modo a que não seja confundido com os atores que entram e os que saem, embora possam ser os mesmos só trocando de roupagem nos bastidores…Em certas ocasiões – como as de campanha eleitoral – as funções confundem-se e as falas de representação podem deixar de ter nexo, tal é a atrapalhação em querer dizer tanto com tão pouco critério… ajuizado e sensato. 

= Há coisas que não têm solução, porque não se aprendem dumas vezes para as outras. Pior: como a qualidade dos intervenientes vai decaindo, até as graçolas dos inteligentes se tornam ridículas, quando referidas pelos incompetentes de serviço… e são tantos/as!

Como dizia, recentemente, o Papa Francisco: é pecado não rezar pelos que nos governam. Sim, para que sejam retos e honestos, verdadeiros e leais, altruístas e inteligentes.

Quando vemos certas reações ‘democráticas’, se não condizem com as nossas, então estamos condenados à ditadura. Esta tanto pode ser da privação de liberdade como pelo fomento de libertinagem. Ora, desta – a libertinagem – estamos cada vez mais atulhados e quase incapazes de reagir com bom senso e ousadia. O bom senso há-de-nos fazer aceitar os valores dos outros, respeitando-os. A ousadia dar-nos-á capacidade de não nos acomodarmos ao já feito, mas tentando recriar novas formas de compromisso uns com os outros…sempre em abertura à dimensão divina e sagrada da pessoa humana.        

 

António Sílvio Couto



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