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terça-feira, 7 de março de 2017

Tr(i)unfos comprometedores…


Soube-se, por estes dias, que os dados sobre a execução orçamental do ano passado e a leitura dos mesmos foi criticada pelo ‘conselho de finanças públicas’ (CFP), cuja presidente do conselho superior considerou ‘um milagre’ o défice alcançado com ‘medidas que não são sustentáveis’ a longo prazo.

As reações foram tanto de espanto quanto de espantar: uns porque se quis inclui a nota do divino, onde o que foi feito saiu do pelo dos portugueses… outros porém, não contentes com as farpas dos técnicos do CFP, sugeriram ora a sua remodelação, ora a sua extinção… porque ao que parece por não se dizer – ou confirmar – aquilo de quem ocupa o poder deseja ou, sabe-se lá, por agora já não convirem as correções aos triunfos, que mais não parecem do que trunfos escondidos na hora de clamar vitória.  

= O que é e para que serve o CFP? O ‘conselho de finanças públicas’ é um organismo independente que fiscaliza o cumprimento das regras orçamentais em Portugal e a sustentabilidade das finanças públicas. Criado em 2011 e em exercício desde fevereiro de 2012 tem a missão de proceder à avaliação independente sobre a consistência, cumprimento e sustentabilidade da política orçamental, promovendo a sua transparência, de modo a contribuir para a qualidade da democracia e das decisões de política económica e para reforço da credibilidade financeira do estado. 

= Quem tem medo da verdade e parece que se esconde sob a capa do sucesso ainda não confirmado? Porque agora se teme que se diga que nem tudo correu bem, quando antes se fazia apanágio do ‘quanto pior melhor’? Não será possível que os atores da ação política tenham mais tento na língua, sem esquecerem o que disseram antes sobre os outros?

Até quando pensarão tratar os cidadãos como desprovidos de capacidade crítica, quando querem confundir a árvore com a floresta, isto é, acusar quem agora não lhes convém, quando antes aplaudiam porque lhes era favorável? Ainda creem que serão adulados nas suas pretensões, quando vão condicionando o apuramento dos números…mesmo que estes lhes possam – realmente – ser adversos? 

= Bastará trazer à colação o título – ‘triunfo dos porcos’, de George Orwell, de 1945, para intentarmos ler muitos dos episódios da nossa vida coletiva, seja quem for que ocupe o poder…em Portugal ou noutro país… indo embater na célebre frase: ‘todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros’.

Efetivamente, mesmo quem conhece a alegoria, tantas vezes se esquece de que está sob suspeita de toda e mais alguma vulnerabilidade de tentar proteger quem concorda consigo e de nem sempre aceitar quem discorda daquilo que diz-e-faz, mesmo que possa ter razão e alguma razoabilidade… sobretudo no futuro.

Nas tentativas de recauchutagem que fizeram surgir ‘o triunfo dos porcos’, vamos vendo que há muita gente que ainda não aprendeu as lições do passado – seja ela estalinista ou com outra coloração – pois correm o risco de continuar a tratar os outros com esses tiques de displicência e de sobranceria, que já deviam ter sido corrigidos com humildade e verdade… 

= Agora que estamos, catolicamente, em tempo de quaresma não deixa de ser fundamental que nos confrontemos com propostas da Palavra de Deus e do magistério da Igreja em ordem a tentarmos fazer cair a máscara – adereço essencial do teatro para ampliar a voz e fazer cumprir um papel de representação – diante de nós mesmos, dos outros e até para com Deus… Será preciso cada um conhecer-se para poder ser capaz de aceitar os seus erros e disfarces…mais ou menos aceites, legitimados ou tolerados. Se há uns que tiveram lições de teatro, outros há que não passam de fracos/as amadores, porque não amam nada nem ninguém… a não ser ao seu umbigo!

 

António Sílvio Couto



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