Soube-se,
por estes dias, que os dados sobre a execução orçamental do ano passado e a
leitura dos mesmos foi criticada pelo ‘conselho de finanças públicas’ (CFP),
cuja presidente do conselho superior considerou ‘um milagre’ o défice alcançado
com ‘medidas que não são sustentáveis’ a longo prazo.
As
reações foram tanto de espanto quanto de espantar: uns porque se quis inclui a
nota do divino, onde o que foi feito saiu do pelo dos portugueses… outros
porém, não contentes com as farpas dos técnicos do CFP, sugeriram ora a sua
remodelação, ora a sua extinção… porque ao que parece por não se dizer – ou
confirmar – aquilo de quem ocupa o poder deseja ou, sabe-se lá, por agora já
não convirem as correções aos triunfos, que mais não parecem do que trunfos
escondidos na hora de clamar vitória.
= O que é e para que serve o CFP?
O ‘conselho de
finanças públicas’ é um organismo independente que fiscaliza o cumprimento das
regras orçamentais em Portugal e a sustentabilidade das finanças públicas.
Criado em 2011 e em exercício desde fevereiro de 2012 tem a missão de proceder
à avaliação independente sobre a consistência, cumprimento e sustentabilidade
da política orçamental, promovendo a sua transparência, de modo a contribuir
para a qualidade da democracia e das decisões de política económica e para
reforço da credibilidade financeira do estado.
= Quem
tem medo da verdade e parece que se esconde sob a capa do sucesso ainda não
confirmado? Porque agora se teme que se diga que nem tudo correu bem, quando
antes se fazia apanágio do ‘quanto pior melhor’? Não será possível que os
atores da ação política tenham mais tento na língua, sem esquecerem o que
disseram antes sobre os outros?
Até
quando pensarão tratar os cidadãos como desprovidos de capacidade crítica,
quando querem confundir a árvore com a floresta, isto é, acusar quem agora não
lhes convém, quando antes aplaudiam porque lhes era favorável? Ainda creem que
serão adulados nas suas pretensões, quando vão condicionando o apuramento dos
números…mesmo que estes lhes possam – realmente – ser adversos?
=
Bastará trazer à colação o título – ‘triunfo dos porcos’, de George Orwell, de
1945, para intentarmos ler muitos dos episódios da nossa vida coletiva, seja
quem for que ocupe o poder…em Portugal ou noutro país… indo embater na célebre
frase: ‘todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros’.
Efetivamente,
mesmo quem conhece a alegoria, tantas vezes se esquece de que está sob suspeita
de toda e mais alguma vulnerabilidade de tentar proteger quem concorda consigo
e de nem sempre aceitar quem discorda daquilo que diz-e-faz, mesmo que possa
ter razão e alguma razoabilidade… sobretudo no futuro.
Nas
tentativas de recauchutagem que fizeram surgir ‘o triunfo dos porcos’, vamos
vendo que há muita gente que ainda não aprendeu as lições do passado – seja ela
estalinista ou com outra coloração – pois correm o risco de continuar a tratar
os outros com esses tiques de displicência e de sobranceria, que já deviam ter
sido corrigidos com humildade e verdade…
= Agora
que estamos, catolicamente, em tempo de quaresma não deixa de ser fundamental
que nos confrontemos com propostas da Palavra de Deus e do magistério da Igreja
em ordem a tentarmos fazer cair a máscara – adereço essencial do teatro para
ampliar a voz e fazer cumprir um papel de representação – diante de nós mesmos,
dos outros e até para com Deus… Será preciso cada um conhecer-se para poder ser
capaz de aceitar os seus erros e disfarces…mais ou menos aceites, legitimados
ou tolerados. Se há uns que tiveram lições de teatro, outros há que não passam
de fracos/as amadores, porque não amam nada nem ninguém… a não ser ao seu
umbigo!
António
Sílvio Couto
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