A
família é, ou deve ser, como que ‘uma rede capilar de difusão do Evangelho’,
fazendo ‘da nossa fé algo integrador e não com alguns momentos para o sagrado’,
disse D. José Ornelas, que falava no decorrer da terceira catequese quaresmal,
que se realizou numa das casas dos círios no santuário de Nossa Senhora da
Atalaia, Montijo, versando o tema – ‘Família: lugar da presença e da revelação
de Deus’.
O Bispo
de Setúbal colocou a abrir algumas questões, que foi respondendo ao longo dos
cerca de quarenta minutos da sua catequese: Como se vive a fé em família, que
lugar tem Deus? Como se vive a fé nas nossas casas? Será que circunscrevemos a
expressão da fé ao tempo que passamos na Igreja?
Esta
terceira catequese foi desenvolvida em três aspetos: Templo e as casas de Deus;
Nazaré – casa da família de Jesus; o casal e a família como sacramento da
presença de Deus.
=
Partindo da explicação das vivências de ‘Templo e de casa’, no sentido bíblico,
D. José Ornela percorreu várias figuras (Abraão e Moisés) e situações do povo
de Israel (libertação do Egito, instalação na terra prometida e exílio) para
tipificar as formas de Deus estar presente com o seu povo, desde a peregrinação
pelo deserto até à construção do Templo em Jerusalém e que, após a experiência
do exílio, se centra na sinagoga, ‘como a casa da Palavra’, onde se escuta
Deus, pois ‘onde se reúnem as pessoas é lá que Deus está’. Para ilustrar as etapas
da presença de Deus com o seu povo apresentou, por comparação, os momentos de
anúncio de nascimento de João Batista, no templo e o de Jesus, na casa de Maria,
em Nazaré.
= ‘Nazaré
é a primeira das casas que acolheu Jesus, aí cresceu Jesus’, considerou o Bispo
de Setúbal a abrir a segunda parte da sua catequese. Com efeito, ‘Nazaré é
ícone de evolução das nossas famílias’, pois Jesus não centra a sua atenção nos
ambientes sagrados, mas ‘entra nas casas’, fazendo com que ‘o encontro com Deus
se alargasse aos lugares habituais e da vida de família’. A terminar esta etapa
da catequese, D. José salientou que ‘durante quase três séculos a Igreja viveu
sem templos’…
= Na
terceira parte da sua catequese o Bispo de Setúbal falou da casa de família
como sacramento da presença de Deus. Não podemos permitir que a ‘família seja
como que a área do profano por contraste com o sagrado (religioso) na
paróquia’, antes têm de ser complementares. Pai e mãe são ‘sacerdotes dentro da
casa’, pois são eles que ‘fazem a ponte da vida humana’.
D. José
Ornelas realçou também a importância do dever de abençoar, em família, dado que
isso ‘transmite o carinho do Pai do Céu em família’, salientando ainda que ‘é
importante que a família tenha momentos quotidianos da presença da Palavra de
Deus’. Com efeito, ‘ninguém melhor do que os pais podem ensinar a rezar’, pois
‘família onde Cristo está presente, abre-se à dimensão da paróquia e da
diocese’.
Atendendo
às anteriores catequeses, percebendo a importância do tema, tentando
compreender o significado destas iniciativas para a etapa da vida da nossa diocese,
cremos que há aspetos da vida católica que precisam de ser melhor cuidados. Com
efeito, se o tema da família é tão essencial, porque faltam tantos responsáveis
nestas ocasiões de aprendizagem seja nas linguagens ou das propostas? Não
andaremos entretidos com o urgente, esquecendo o fundamental? Até onde irá a
humildade capaz de alegrar-se com os dons, qualidades e carismas dos outros? Não
teremos olhos menos límpidos uns para com os outros?
Apesar
de sermos uma diocese com um número de praticantes reduzido, parece que o leque
de abertura aos outros – de dentro e de fora da Igreja – está ainda um tanto
afunilado, mesmo entre os casais e outros participantes nas
iniciativas…diocesanas. Será que é preciso pertencer a algum grupo específico
para ser visto, acolhido e atendido como irmão na mesma fé? Será que, estando
no mesmo barco, remamos todos (ou o mais possível) na mesma direção? Não
andaremos a confundir os sentidos por onde e para onde queremos ir…em comum?
Lamento
que nos falte mais espírito de comunhão entre todos e para com todos e que nem
as intempéries sejam capazes de nos desmotivar… ontem como hoje.
António Sílvio Couto
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