De
alguns dias a esta parte, a qualquer hora, incluindo a noite, ouço, na zona
onde resido, uma espécie de gritos lancinantes dum gato, ao que parece em tempo
de cio… Às vezes os ‘lamentos’ do bichano são confrangedores, noutros momentos
como que se sente que o animal está fora do lugar…ao menos nesta época.
Desde já
acho que poderei colocar algumas questões, que não têm nada de julgamento e tão
pouco de acusação: Será correto condicionar os animais – ditos de companhia –
domésticos, sobretudo em fases da sua vida normal? Poderemos considerar que se
gosta dum animal, constrangendo os seus ritmos de vida natural? Até onde irá a
conciliação entre as necessidades dos humanos e os direitos dos animais,
particularmente os de companhia doméstica?
= Quem
ande minimamente atento verá, nas ruas e noutros espaços da vida pública,
imensas pessoas trazendo animais – sobretudo cães e, por vezes, gatos – em
companhia, numa espécie de compensação emocional/afetiva, nem sempre fácil de
interpretar, pois, nalgumas circunstâncias, mais parecem bibelôs animados do
que criaturas a quem se dedica tempo e afetividade, mesmo que de forma menos
equilibrada. Com efeito, a dedicação aos animais nunca por nunca poderá ser uma
espécie de rebuscado psicológico que, por medo ou constrangimento, em não ter,
não poder ou não quer filhos/as, possa servir de recurso ou de disfarce a tais
objetivos naturais à condição humana…normal.
Neste
tempo do ‘descartável’ – como tantas vezes no-lo tem dito o Papa Francisco – os
gastos para com os animais não podem servir de desculpa para que não se atenda,
essencial e preferencialmente, aos humanos, esses que são mais do que criaturas
de Deus, são ‘sua imagem e semelhança’… De facto, enquanto virmos, nos espaços
de compras mais espaços para comida dedicada aos animais do que para artigos de
cuidado para com as crianças, diremos que somos uma sociedade doente ou, pelo
menos, em disfunção de atributos e de propriedades…
= Nos
tempos mais recentes temos vindo a assistir à crescente dignificação dos
animais, em muitos casos com a depreciação dos direitos e deveres dos humanos.
Nalgumas circunstâncias vive-se quase uma maior propaganda em favor dos animais
– atendendo à luta de certas associações e segundo critérios mais ou menos
suscetíveis de criar dúvida e confusão – do que de tantos outros aspetos que
envolvem a condição humana, segundo a vida não-nascida e até à morte
não-provocada. Em quantos casos esta segunda faceta – a dos humanos – é mais
desvalorizada em relação à da defesa dos animais…Equiparada uma e outra
condição é, desde logo, criar ruturas e possibilidades de desvalorização da
vida humana… Assim só estamos a perder dignidade e a nossa correta condição!
= Quando
de tantas formas vimos a ver crescer a salvaguarda dos animais em detrimento
dos valores que afetam os humanos, poderemos considerar que algo vai mal no
reino da condução humana, pois, segundo a visão judaico-cristã da criação, a
pessoa humana é o que de mais solene há no espetro da conduta entre todos os seres,
sob os quais os humanos têm autoridade e poder na ordem da mesma criação. A
qual dos seres disse Deus que tenha sido criado ‘à sua imagem e semelhança’, se
não ao homem e à mulher? Talvez certas visões um tanto panteístas/materialistas
tenham muito a considerar sobre esta nossa hierarquia de seres. Dada esta visão
personalista da vida e dos seres, poderemos e deveremos questionar a quase
adoração dos animais, incluindo as hipóteses vegetalistas e de outros adereços vegetarianos…
= Urge
questionar, então, alguns dos comportamentos de culto aos animais, inquirindo
sobre quem está posicionado na escala de valores e de critérios. Ter animais
para que sejam ofendidos na sua vida normal e natural, será de aceitar e de
não-denunciar? Até porque sentimos que muitos dos animais se exprimem com
sentimentos bem elevados e significativos, não aceitamos que sejam tirados do
seu habitat para serem utilizados pelos humanos!
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário