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quarta-feira, 15 de março de 2017

Raposas no galinheiro…





A recente designação dum economista para o conselho consultivo do banco nacional, trouxe à liça esta expressão de ‘raposa no galinheiro’, pois sendo o dito nomeado duma certa visão económica, como poderá ele lidar com a instituição mais representativa da ‘economia de mercado’, isto é, o capitalismo de estado ou estado do capitalismo atual?
Deixando as diatribes sobre o assunto para os entendidos na matéria económica, parece-me que há muitas mais raposas infiltradas noutros galinheiros e estes mais indefesos do que aquele a que nos referimos.
Desde logo a expressão ‘raposa no galinheiro’ precisa de ser enquadrada e um tanto explicada. A ‘raposa’ é um animal selvagem, atacando, sorrateiramente, as suas presas e sendo uma predadora solitária… Falar de colocar a ‘raposa a guardar o galinheiro’ – uma outra expressão irónica – é como que colocar as vítimas ao cuidado dos réus…
Tentemos, então, encontrar situações e momentos, do nosso quadro coletivo ou pessoal, em que a raposa pode rondar ou atacar o galinheiro… esse reduto onde estão as ‘galinhas’, aqui entendidas como aqueles/aquelas que podem estar mais vulneráveis, indefesos ou expostos aos ataques das ‘raposas’, neste aspeto considerados, no todo ou em parte, como os habilidosos, os tacticistas, os espertos… que se infiltram ou a quem se dá a oportunidade de vencer sem (nem sempre) convencer.   
* Quando se convida alguém, ao qual se pode reconhecer um certo conhecimento em questões de fé – porque se disse cristão, se afirmou nalgum evento ou se faz passar por estar próximo nalgum desempenho prático – para que possa discursar para cristãos, mas de cujas outras formas de estar – na vida social ou económica, nas posições políticas ou partidárias – se pode melhor perceber que nem sempre comunga da fé católica… Não será isso meter a raposa no galinheiro, rapinando os mais incautos cristãos e menos bem ilustrados na fé? Nos tempos mais recentes temos visto bastantes raposas a rondar o galinheiro…
* Quando se abrem as portas – físicas e espirituais – das igrejas (paróquias, comunidades ou pequenos grupos) a uns certos devotos, que mais parecem pretender parar do que se comprometerem, seja a fé celebrada, seja a fé aprendida… mas, por vezes, pouco empenhada na vida. Com efeito, a proliferação de grupos e de expressões religiosas mais ou menos de teor tradicionalista podem fazer perigar o essencial do cristianismo, mais parecendo repositórios de crenças do que espaços de fé adulta e séria. Será preciso vigiar para que com a raposa não venham mais outros perigos…
* Quando vemos surgir mentores e mentalidades que preferem a religião devocional à visibilidade e compromisso na vida pública – podendo ter (mesmo) implicações nos aspetos políticos – poderemos estar a retroceder mais de meio século naquilo que o segundo Concílio do Vaticano nos trouxe e fez com que vivamos nessa onda de vivência de cristãos neste mundo. Quase de forma cíclica o regresso à sacristia tem vindo a ser difundido por alguns setores da Igreja católica. Nalgumas situações isso conquista mais adeptos do que o seu contrário. Não serão esses pretensos vigilantes da ortodoxia uma espécie de raposas que rondam o galinheiro para ninguém saia (ou entre) dos seus parâmetros de mediocridade?
* Quando na vida empresarial – privada ou de economia social, seja qual for o âmbito de produção – vemos uns tantos a lutarem por melhores salários – onde o mínimo se considera justo, mas aferindo a outros se torna (quase) insuportável – para os outros, mas não pagam àqueles/as sobre os quais têm responsabilidade, poderemos considerar que a raposa ataca o galinheiro alheio, salvaguardando – sabe-se lá a que preço e até quando – o seu reduto de forma desonesta e desleal. Assim não é possível construir uma sociedade mais justa e solidária, se aquilo que se pensa e se defende não condiz com a prática para com os outros!
* Quando se combate o ensino que não seja o público e se tenta passar, nalguns graus de escolarização, para as autarquias a responsabilidade de certas tarefas e ações, não será isso colocar a raposa a defender o galinheiro, afinando os dentes para atacar novos campos de atividade? Porque se tem estado a tratar este assunto em surdina e por trás do palco das notícias? A quem interessa esticar a corda da estatização, camuflando gastos e simulando promessas?
As raposas andam por aí: cuidemo-nos. As raposas atacam sorrateiramente: vigiemos. As raposas sabem mudar de roupagem e, em breve, poderão tornar-se hienas esfomeadas e tenebrosas!   
 
António Sílvio Couto

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