A
recente designação dum economista para o conselho consultivo do banco nacional,
trouxe à liça esta expressão de ‘raposa no galinheiro’, pois sendo o dito
nomeado duma certa visão económica, como poderá ele lidar com a instituição mais
representativa da ‘economia de mercado’, isto é, o capitalismo de estado ou
estado do capitalismo atual?
Deixando
as diatribes sobre o assunto para os entendidos na matéria económica, parece-me
que há muitas mais raposas infiltradas noutros galinheiros e estes mais
indefesos do que aquele a que nos referimos.
Desde
logo a expressão ‘raposa no galinheiro’ precisa de ser enquadrada e um tanto
explicada. A ‘raposa’ é um animal selvagem, atacando, sorrateiramente, as suas
presas e sendo uma predadora solitária… Falar de colocar a ‘raposa a guardar o
galinheiro’ – uma outra expressão irónica – é como que colocar as vítimas ao
cuidado dos réus…
Tentemos,
então, encontrar situações e momentos, do nosso quadro coletivo ou pessoal, em
que a raposa pode rondar ou atacar o galinheiro… esse reduto onde estão as
‘galinhas’, aqui entendidas como aqueles/aquelas que podem estar mais
vulneráveis, indefesos ou expostos aos ataques das ‘raposas’, neste aspeto
considerados, no todo ou em parte, como os habilidosos, os tacticistas, os
espertos… que se infiltram ou a quem se dá a oportunidade de vencer sem (nem
sempre) convencer.
* Quando
se convida alguém, ao qual se pode reconhecer um certo conhecimento em questões
de fé – porque se disse cristão, se afirmou nalgum evento ou se faz passar por
estar próximo nalgum desempenho prático – para que possa discursar para
cristãos, mas de cujas outras formas de estar – na vida social ou económica,
nas posições políticas ou partidárias – se pode melhor perceber que nem sempre
comunga da fé católica… Não será isso meter a raposa no galinheiro, rapinando os
mais incautos cristãos e menos bem ilustrados na fé? Nos tempos mais recentes
temos visto bastantes raposas a rondar o galinheiro…
* Quando
se abrem as portas – físicas e espirituais – das igrejas (paróquias,
comunidades ou pequenos grupos) a uns certos devotos, que mais parecem
pretender parar do que se comprometerem, seja a fé celebrada, seja a fé
aprendida… mas, por vezes, pouco empenhada na vida. Com efeito, a proliferação
de grupos e de expressões religiosas mais ou menos de teor tradicionalista
podem fazer perigar o essencial do cristianismo, mais parecendo repositórios de
crenças do que espaços de fé adulta e séria. Será preciso vigiar para que com a
raposa não venham mais outros perigos…
* Quando
vemos surgir mentores e mentalidades que preferem a religião devocional à
visibilidade e compromisso na vida pública – podendo ter (mesmo) implicações
nos aspetos políticos – poderemos estar a retroceder mais de meio século
naquilo que o segundo Concílio do Vaticano nos trouxe e fez com que vivamos
nessa onda de vivência de cristãos neste mundo. Quase de forma cíclica o
regresso à sacristia tem vindo a ser difundido por alguns setores da Igreja
católica. Nalgumas situações isso conquista mais adeptos do que o seu
contrário. Não serão esses pretensos vigilantes da ortodoxia uma espécie de
raposas que rondam o galinheiro para ninguém saia (ou entre) dos seus
parâmetros de mediocridade?
* Quando
na vida empresarial – privada ou de economia social, seja qual for o âmbito de
produção – vemos uns tantos a lutarem por melhores salários – onde o mínimo se
considera justo, mas aferindo a outros se torna (quase) insuportável – para os
outros, mas não pagam àqueles/as sobre os quais têm responsabilidade, poderemos
considerar que a raposa ataca o galinheiro alheio, salvaguardando – sabe-se lá
a que preço e até quando – o seu reduto de forma desonesta e desleal. Assim não
é possível construir uma sociedade mais justa e solidária, se aquilo que se
pensa e se defende não condiz com a prática para com os outros!
* Quando
se combate o ensino que não seja o público e se tenta passar, nalguns graus de
escolarização, para as autarquias a responsabilidade de certas tarefas e ações,
não será isso colocar a raposa a defender o galinheiro, afinando os dentes para
atacar novos campos de atividade? Porque se tem estado a tratar este assunto em
surdina e por trás do palco das notícias? A quem interessa esticar a corda da
estatização, camuflando gastos e simulando promessas?
As
raposas andam por aí: cuidemo-nos. As raposas atacam sorrateiramente: vigiemos.
As raposas sabem mudar de roupagem e, em breve, poderão tornar-se hienas
esfomeadas e tenebrosas!
António Sílvio Couto
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