Surgiu
nestes dias (3.ª feira, dia 22) a notícia duma petição intitulada - «contra a
credibilização do milagre de Fátima» - contestando a confirmada visita do Papa
Francisco, nos dias 12 e 13 de maio de 2017 ao santuário da Cova de Iria.
Ao
consultarmos, via internet, a recetividade da iniciativa percebemos que havia de
seiscentos e vinte subscritores, às 24 horas do dia 23 de novembro (4.ª feira)…
= Os
proponentes dizem-se ‘legitimados’ na
sua pretensão, embora recorram a chavões mais ou menos já ditos e propagados
por alguns dos intervenientes – chegando a autocitarem em ‘obras’ suas já
publicadas – e com isso tentam dar abrangência a algo que poderá inflamar
outras correntes e tendências mais ou menos adormecidas na nossa configuração
sociopolítica…
Estes
que vieram a público emergem de vários quadrantes do antirreligioso e,
particularmente, do anticatólico…embora por lá deambule um (dito) ‘padre’ com
trejeitos de rebelde, ancorado num passado volátil e assumidamente anti-Fátima…
= Antes
de tudo temos de saber analisar o ‘fenómeno Fátima’, que confunde alguns
cidadãos que não têm afinidade com a possibilidade da fé – talvez nem acreditem
em si mesmos – como recurso de vida e fator de conduta existencial. No entanto,
não se pode confundir a árvore com a floresta – a árvore é Fátima e a floresta
é a Igreja – pois pelos frutos se pode reconhecer a credibilidade da árvore e
esta – Fátima – tem dado imensos resultados espirituais, culturais, humanos e
até económicos… Estes não podem ser – como pretendem os peticionários – os mais
significativos, mas também não podem ser desprezados… Não querer reconhecê-lo
será, no mínimo, miopia intelectual e dislexia emocional.
= Esta
petição parece, além de enfermar de múltiplos preconceitos para com aquilo que
Fátima representa para Portugal e o mundo em geral, não se limita a atrair – ou
será destruir? – a atenção duma certa fação menos cívica e um tanto barulhenta
na forma e nos conteúdos, como ainda pretende intitular-se com direitos de
contestação eivados de tiques de ignorância e de clichés do tempo da primeira
república jacobina e acintosamente a-religiosa…
Já é
habitual que, por ocasião do Natal, surjam alguns fait-divers
anticristãos...como se a falta de respeito pelas convicções alheias possa ser
um título de aglutinação ou de desculpa para não se confrontarem com a dimensão
espiritual de toda a pessoa humana…
= Esta
petição poderá ser um dos (primeiros) casos que irão ser intentados ao longo do
ano jubilar do centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima. Tudo isto
revela uma espécie de labirinto de interesses, que tentam alimentar-se da
contestação à mensagem de Fátima, enquanto esta revela e impulsiona todo um
processo de regeneração do tecido religioso do mundo ocidental e de Portugal em
concreto.
Numa
época marcada pelo egoísmo e o sensacionalismo, Fátima consegue catapultar
multidões ávidas de sentido para com as agruras do quotidiano e onde cada um
seja capaz de viver em abertura à dimensão do divino e àquilo que nos outros
nos faz construir a fraternidade a partir de dentro…
Nem
todos serão capazes de entender o que Fátima significa na história de Portugal.
Temos pena! Mas da não-compreensão à contestação e à ofensa vai algo que devia
obrigar certos ‘democratas’ a serem, ao menos, respeitadores para serem
igualmente respeitados, pois nada lhes dá o direito de apelidar de ‘embuste’
algo que serve de referência à conversão e ao caminho de fé… de milhões de
homens e de mulheres.
= Não
foi a Igreja que impos Fátima, foi Fátima que se impos à Igreja – disse o
cardeal Cerejeira. Ora, neste tempo de preparação do centenário das aparições,
teremos de estar vigilantes para com vários arietes que tentarão lançar a
confusão – saída da sua própria convulsão – aproveitando-se de questões mais ou
menos periféricas e de episódios laterais ao essencial. Vigiemos e denunciemos.
António
Sílvio Couto
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