Na
apresentação das previsões do tempo atmosférico – sobretudo nesta época do ano
– ouvimos, por vezes, a expressão de ‘mau tempo’, referindo-se às condições de
chuva, de frio, de vento, de alterações no mar… com descida (mais ou menos
acentuada) de temperatura.
Ora,
será que, estando nós, no hemisfério norte, entre o outono e o inverno, estas
condições de tempo são ‘más’ ou serão, antes as adequadas àquilo que é preciso
em cada estação do ano? Não seria, por outro lado, ‘mau tempo’ se tivéssemos,
agora, calor e não houvesse chuva? Porque havemos de andar em rotulagens
infelizes, só porque a uma certa cultura – do lazer, do bel-prazer e da
comodidade – lhe convém que haja só sol e não chuva?
= Questões de linguagem ou de
mentalidade?
Atendendo
ao progressivo afastamento das pessoas do ritmo da natureza, vamos sendo
influenciados por clichés onde a comunhão com os elementos da natureza nem
sempre está articulada e em simbiose.
Essa
pretensa ‘cultura urbana’ vai-se esquecendo de quem lhe dá os alimentos e lhe
fornece a conjugação com a vida entre os vários componentes sociobiológicos.
Não são os ‘serviços’ e as atividades de diversão que põem o pão na mesa nem
fazem com que as pessoas tenham harmonia psicológica. Podem fomentar a
distração mas não o fornecimento da subsistência…
Soará a
praguejar que se possa estar contra o tempo atmosférico que nos é dado. Por
muito que se pretenda viver na correria dos nossos interesses mesquinhos e
egoístas, as observações sobre o tempo continuarão a ser um tema para quando
não se tem (quase) nada de que falar. No entanto, não queiram fazer crer que o
‘mau tempo’ é o culpado pelo mau humor de tantos descontentes da vida…
= Lições de vida…ao ritmo do
tempo
Nas
contingências da nossa história vamos aprendendo a viver com dias de sol e de
chuva, dias de canícula e de tempestade, dias de serenidade e dias de nuvens…
tanto exteriores como exteriores. O difícil será sempre discernir o que há de
bom, quando temos a sensação de que algo parece ser mais negativo.
Ver só o
que os outros veem não será grande capacidade de amadurecimento. As coisas da
vida fazem-nos aprender com os momentos que purificam…muito para além daquilo
que é, meramente, visível. Por isso, é que ficar-se sob a penumbra da chuva e
não ver para além do meramente sensitivo, será, no mínimo, pouca
previsibilidade do já vivido.
Ora a
nossa história humana não pode deixar-nos fixados no passado. Esse só tem utilidade
para que saibamos interpretar o presente e iluminar o futuro.
Quantas
vezes encontramos pessoas que, chorando sobre o passado, não vivem o presente e
muito menos se abrem aos mistérios do futuro. A esses chamaríamos ‘saudosistas’
e, em muitos casos, profetas da desgraça.
Quantas
vezes encontramos pessoas fixadas naquilo que lhes foi agradável e fechando-se
à descoberta de quem Deus coloca no seu caminho… No tempo de criança é que era
tudo bom, nos anos de adolescência tudo foi agradável… Não veem nem apreciam as
novas pessoas que lhes é dado conhecer e refugiam-se no seu reduto de casulo à
prova de desafios…
Quantas
vezes parece que pararam no tempo e excluem o que têm a aprender, tornando-se
reféns dos seus medos e aprendizagens… Serão certamente pessoas inseguras e
ansiosas para consigo mesmas e em relação aos outros.
= Interpretar os sinais dos
tempos
Mais do
que os tempos atmosféricos – com seus ciclos e cuidados – é preciso que as
pessoas de cada tempo e em cada lugar saibam interpretar os sinais do ‘kairós’
(graça) mais do que ‘cronos’ (tempo), pois este só tem sentido quando inserido
na correta justeza daquele. Não percamos tempo com coisas inúteis nem com
futilidades mais ou menos bizarras, pois bem depressa teremos de amadurecer
muito para além da chuva e do vento, do frio e das tempestades. Cada tempo tem
as suas preocupações. Vivamo-las na serenidade!
António Sílvio Couto
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