Na
imensa cadeia de relações e de conhecimentos, de transações e de referências…
com pessoas de vários estratos e códigos, de diversos momentos e em etapas
díspares… vemos que a nossa vida se tece e entretece numa razoável complexidade,
que, por vezes, conseguimos abranger e noutras situações como que nos
ultrapassam.
A
citação da frase – ‘o inimigo do meu inimigo é meu amigo’ – reporta-se ao
contexto da segunda guerra mundial e teve as seguintes implicações históricas:
Joseph Stalin à frente da Rússia aliou-se aos Estados Unidos da América do
presidente Franklin Roosvelt e a Winston Churchill, primeiro-ministro
britânico… todos contra Adolf Hitler que geria a Alemanha.
Decorridos
tantos anos parece que emergem, de quando em vez, alguns laivos dessa aliança,
agora configurada a outros interesses, desde os mais mesquinhos até aos mais
sublimes… se é que tal caraterística de sublimidade se pode a aplicar a algo
que tenta explorar os outros e até usá-los conforme possa convir.
= Por
estes dias surgem, de facto, sinais que podem ser preocupantes para a nossa
identidade coletiva. Esta ‘nossa’ é mais do que uma leitura ideológica que
pretenda ver ameaças em tudo e em todos que não pensem à nossa maneira. Quem,
assim, se vê e interpreta os outros poderá comportar, mesmo que de forma
subtil, uma carapaça de ditador encolhido, pois os outros nunca são (nem podem
ser) ‘inimigos’ se não se identificam, totalmente, connosco e com as nossas
manias… algumas delas bem ressabiadas e preconceituosas.
Veja-se
a forma acintosa com que certos setores olham e julgam o resultado das eleições
nos EUA e daí querem, rapidamente, tirar lições para o resto do mundo, desde
que não sejam da sua cor nem perfilem os seus ideais. Com efeito, essas pessoas
têm memória curta, dado que a sua cortina caiu somente há menos em trinta anos
(1989) e julgam que o perigo se diluiu só porque que se ‘democratizaram’!
= Urge,
por isso, sabermos quem são (ou podem ser) os inimigos reconciliados, pois do
diagnóstico bem conseguido poderá estar dependente o futuro das relações entre
povos e culturas, entre propostas e programas, entre quem sonha e quem querer
comprometer-se em realizar algo mais que a imposição de soluções, mesmo que de
conveniência.
No nosso
país precisamos de fazer sair da lura ou saltar do sofá essa imensa maioria
silenciosa que se tem calado e acomodado com os desvarios da governança. Não
podemos deitar a perder os sacrifícios dos anos transatos pela simples razão de
que tudo tem de ser revertido, pagando favores a dirigentes sindicais e
tentando conquistar votos com migalhas dum bolo esfarelado e azedo.
Quando
os inimigos se zangarem poderemos compreender quem enganou quem, qual é a
fatura que todos teremos de pagar e como iremos assumir as consequências de
tanta ‘amizade’ interesseira. Não temos a menor dúvida que muita coisa vai
fazer-nos voltar ao ‘dejá vu’… mais cedo do que tarde.
= Desde
o princípio do cristianismo se diz: ‘se alguém não quer trabalhar também não
coma… ganhem o pão que comem com um trabalho tranquilo’ (2 Ts 3,10.12). Ora, o
que temos visto e observado é que há muita gente a viver sem trabalhar, fazendo
vida de rico e, ao que parece, com bolsa de pobre. Algo vai mal neste reino do
‘faz-de-conta’, pois não se pode repartir nem auferir melhores salários se não
há investimento nem produção. Desgraçadamente ainda não vimos este perigo?
Tolhe-nos
um complexo de inferioridade coletivo, pois queremos dar a entender que temos
nível de vida – social, económica e cultural – mas os princípios pelos quais
nos regemos – ou nos dizem governar – são falaciosos e articulados na mentira.
= Há
muita gente e instituições – algumas delas de solidariedade social da Igreja
católica – que estão compradas pela boca, umas vezes porque precisam de quem
governa para permitir cumprir as suas obrigações e outras vezes calando o que
se pode e devia dizer, pois isso poderá colocar em risco a sobrevivência de
tantos postos de trabalho. Haja verdade e coerência!
António Sílvio Couto
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