Perante
a onda de classificação de ‘populismo’ quisemos consultar algo que nos desse
uma informação histórica e ideológica deste novo assentimento à condução da
política nos tempos mais recentes… e que, possivelmente, trarão uma necessidade
de correção de termos e de condutas.
Assim na
wikipédia encontramos uma espécie de definição descritiva do populismo.
O termo populismo, um dos
mais controversos da literatura política, possui várias conotações. Geralmente
é utilizado, na América Latina, para designar um conjunto de práticas políticas que
consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e uma
liderança política (um líder carismático, como um caudilho, por exemplo) sem a
mediação de instituições políticas representativas, como os partidos, ou até mesmo contra elas, e geralmente
empregando uma retórica que apela para figuras difusas (‘o povo’, ‘os oprimidos’,
etc.).
= Ora
diante desta descrição teremos de questionar se o populismo é só de direita ou
se não haverá também um populismo de esquerda, mesmo que subentendido e quase
sub-reptício no comportamento de certas figuras que assim apelidam os demais…
embora se comportem como (quase) primários populistas.
Quem não
se lembrará da conotação depreciativa de ‘fascista’, usada nos tempos após a revolução
do 25 de abril, e com isso se pretendia rotular alguém com posições diferentes
dos contestatários?
Quem não
estará recordado das posições e comportamentos de certas forças partidárias,
sindicais e associativas que usavam da manha para aprovar manifestos em nome do
povo… esse que não entendida a rapidez com que se passava do ‘quem vota
contra’, ‘quem se abstém’… ‘está aprovado’… mesmo sem ler ou ter sabido o que
aprovou? Isso não era, não é populismo? Ainda hoje se continua a usar esta
artimanha em nome do ‘povo’ e da ‘classe trabalhadora’… Isso não é populismo?
Ora, diante
destas memórias de antanho, precisamos de refletir, denunciar e contrariar a
mera tentativa de fazer crer que é populista quem não entra na onda reinante
ou, pelo menos, assim considerada a seus olhos e de quem difunde tais
guerrilhas politico-intelectuais.
Quando
vemos forças duma certa esquerda em conduta difusa, aglutinada e fragmentada… à
medida do combate contra as propostas dos outros partidos, isso não terá tiques
de populismo?
Quando
verificamos que a posição apresentada é dita ser em favor do ‘povo’, mas este
não é tido nem achado porque as elites (culturais) antissistema pretendem fazer-se
donas da (sua) cultura, isso não enfermará de populismo?
= Não há
dúvida que a situação mundial está confusa e talvez mesmo se crie apreensão
sobre o futuro, mas devemos ser honestos intelectual e civicamente para
sabermos não entrar nesta manipulação com que alguns iluminados querem fazer
crer que só os outros – em que não nos revemos politicamente nem que não são da
nossa cor ideológica e partidária – é que são populistas.
Nos
últimos dias tenho ficado baralhado com posições de certos professores
universitários – a quem se exige rigor e capacidade de visão multifacetada…
acima do vulgo – que vão embarcando na teoria do populismo ser só de direita,
fazendo quase uma figura ridícula sobre o seu não-distanciamento emocional
senão na teoria ao menos na prática.
Já não
será de admirar o posicionamento dalguma comunicação social, pois esta
normalmente é a voz do dono – que lhe paga e a sustenta – e este vive mais na
oportunidade de ganho económico do que na coerência de valores. É preciso que
haja mais respeito pela inteligência dos ouvintes, leitores ou telespectadores,
pois o tal ‘povo’ não pode ser esse reduto que se manipula e a quem se impõe
uma visão de modo acrítico.
=
Populismo pode ser de direita ou de esquerda, tudo depende de quem quer falar
em nome ‘povo’ do qual não tem procuração e tão pouco legitimidade… Há tantos
ditadores encobertos neste nosso tempo, neste Portugal e na nossa cultura. Será
necessário estar sempre atento e vigilante ao que querem fazer de nós sem lhes
darmos consentimento… A cada homem/mulher um voto e muito se poderá decidir com
justiça e liberdade… em democracia adulta e séria.
António
Sílvio Couto
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