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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Populismo – de direita ou de esquerda?


Perante a onda de classificação de ‘populismo’ quisemos consultar algo que nos desse uma informação histórica e ideológica deste novo assentimento à condução da política nos tempos mais recentes… e que, possivelmente, trarão uma necessidade de correção de termos e de condutas.

Assim na wikipédia encontramos uma espécie de definição descritiva do populismo.

O termo populismo, um dos mais controversos da literatura política, possui várias conotações. Geralmente é utilizado, na América Latina, para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e uma liderança política (um líder carismático, como um caudilho, por exemplo) sem a mediação de instituições políticas representativas, como os partidos, ou até mesmo contra elas, e geralmente empregando uma retórica que apela para figuras difusas (‘o povo’, ‘os oprimidos’, etc.). 

= Ora diante desta descrição teremos de questionar se o populismo é só de direita ou se não haverá também um populismo de esquerda, mesmo que subentendido e quase sub-reptício no comportamento de certas figuras que assim apelidam os demais… embora se comportem como (quase) primários populistas.

Quem não se lembrará da conotação depreciativa de ‘fascista’, usada nos tempos após a revolução do 25 de abril, e com isso se pretendia rotular alguém com posições diferentes dos contestatários?

Quem não estará recordado das posições e comportamentos de certas forças partidárias, sindicais e associativas que usavam da manha para aprovar manifestos em nome do povo… esse que não entendida a rapidez com que se passava do ‘quem vota contra’, ‘quem se abstém’… ‘está aprovado’… mesmo sem ler ou ter sabido o que aprovou? Isso não era, não é populismo? Ainda hoje se continua a usar esta artimanha em nome do ‘povo’ e da ‘classe trabalhadora’… Isso não é populismo?

Ora, diante destas memórias de antanho, precisamos de refletir, denunciar e contrariar a mera tentativa de fazer crer que é populista quem não entra na onda reinante ou, pelo menos, assim considerada a seus olhos e de quem difunde tais guerrilhas politico-intelectuais.

Quando vemos forças duma certa esquerda em conduta difusa, aglutinada e fragmentada… à medida do combate contra as propostas dos outros partidos, isso não terá tiques de populismo?

Quando verificamos que a posição apresentada é dita ser em favor do ‘povo’, mas este não é tido nem achado porque as elites (culturais) antissistema pretendem fazer-se donas da (sua) cultura, isso não enfermará de populismo? 

= Não há dúvida que a situação mundial está confusa e talvez mesmo se crie apreensão sobre o futuro, mas devemos ser honestos intelectual e civicamente para sabermos não entrar nesta manipulação com que alguns iluminados querem fazer crer que só os outros – em que não nos revemos politicamente nem que não são da nossa cor ideológica e partidária – é que são populistas.

Nos últimos dias tenho ficado baralhado com posições de certos professores universitários – a quem se exige rigor e capacidade de visão multifacetada… acima do vulgo – que vão embarcando na teoria do populismo ser só de direita, fazendo quase uma figura ridícula sobre o seu não-distanciamento emocional senão na teoria ao menos na prática.

Já não será de admirar o posicionamento dalguma comunicação social, pois esta normalmente é a voz do dono – que lhe paga e a sustenta – e este vive mais na oportunidade de ganho económico do que na coerência de valores. É preciso que haja mais respeito pela inteligência dos ouvintes, leitores ou telespectadores, pois o tal ‘povo’ não pode ser esse reduto que se manipula e a quem se impõe uma visão de modo acrítico. 

= Populismo pode ser de direita ou de esquerda, tudo depende de quem quer falar em nome ‘povo’ do qual não tem procuração e tão pouco legitimidade… Há tantos ditadores encobertos neste nosso tempo, neste Portugal e na nossa cultura. Será necessário estar sempre atento e vigilante ao que querem fazer de nós sem lhes darmos consentimento… A cada homem/mulher um voto e muito se poderá decidir com justiça e liberdade… em democracia adulta e séria.

 

António Sílvio Couto



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