Após
nova vitória sofrida da seleção nacional de futebol, no europeu da modalidade
em França, dizia alguém ao lado: ‘é mais um ben-u-ron para o povo’! Querendo
dizer que, por mais uns tempos (horas ou dias), o povo fica – teórica e
momentaneamente – um pouco aliviado nas agruras da vida… até que volte a cair
na realidade: dura, sofrida e continuada.
De
facto, o futebol tem servido para atenuar a visão concreta dos problemas da
vida, tais como a falta ou a redução do emprego, o custo de vida, as nuvens de
castigo que se adivinham vindas das instâncias europeias, a competição entre
economias, as dificuldades das famílias, as mazelas do serviço nacional de
saúde, as magras reformas, os custos da segurança social, etc.
Sobretudo
desde o início de junho passado, temos estado a viver uma espécie de
narcotização coletiva – mais acentuada na proximidade aos jogos da equipa
nacional – onde quase tudo gira em volta do futebol, com maior ou menor
capacidade de vencer, mas sempre polarizados pela bola que corre e, sobretudo,
que entra na baliza…
Mal ou
bem o futebol tem servido os intentos coletivos de estarmos, por momentos,
unidos por algo que faz uma imensa maioria acreditar que os sucessos dos nossos
representantes poderão ser a solução para os problemas pessoais e familiares…
Se bem que as multidões vibrem com os resultados, não faltam – como sempre – os
‘velhos do Restelo’ que vaticinam desgraças, mesmo que possa haver alguma coisa
que contradiga tal posição.
Efetiva
e afetivamente o futebol é um jogo de massas, com muitas paixões e emoções, que
tem funcionado quase sempre como alienador para tempos mais difíceis e
conturbados. Isto mesmo tem sido, por estes dias, uma espécie de bolha
flutuante para os nossos governantes – bastará ver o entusiasmo com que
participam – dando-lhes algum alívio e distração para terem de enfrentar o que
está prestes a desabar sobre o nosso futuro próximo.
Num tempo
de rápida difusão noticiosa, cada vitória ou derrota pode converter-se numa
onda positiva ou negativa de toda uma Nação – tanto no retângulo à beira-mar
plantado como nos da diáspora – unidos por um hino, uma bandeira e uma seleção.
Parece que o futebol – cíclica e rapidamente – tem feito mais pelos sinais
coletivos de identificação do que todas as aulas de cidadania e o ensino do
respeito pela nossa identidade nacional. Os ‘professores’ desta façanha não
estudaram muito, mas são artistas da bola, ganhadores de fortunas e
embaixadores pelo mundo fora da nossa portugalidade… Honra lhes seja prestada,
mas não façamos como noutras ocasiões, tornando-os de bestiais em bestas
demasiado depressa!
Mesmo
que forma simples gostaria de perguntar: por onde pára a tal campanha do
cantautor de óculos escuros? Foi um erro de casting a escolha e o estilo ou as
pessoas perceberam que essa manobra era só ideológica? Duma coisa parece que
não há dúvidas: o tema está esquecido e o famigerado promotor enterrado… mesmo
com os sucessos da equipa!
Em
resumo: o futebol é uma arma que qualquer governante – em democracia como em
ditadura – gosta de usar para distrair os seus concidadãos… instruídos ou não.
Umas vezes é feita de forma explícita, noutras tacitamente é aceite e tolerado…
Até quando?
António
Sílvio Couto
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