Tem
vindo a crescer, no contexto da União Europeia, a discussão sobre a soberania
dos povos integrantes desta mesma UE… dando voz e contestação a certos
extremismos, de grupo ou de figuras emergentes e outras mais inconscientes no
conteúdo e pela forma.
Uns já
referendaram a sua presença no projeto europeu a 28: o Reino Unido desuniu-se
da UE e criou mais cisões num reino cada vez menos unido… na forma dos diversos
povos e culturas.
= Saída
duma necessidade histórica, a União Europeia – já apelidada de CEE, de CE – precisa
de refundar-se nos conceitos e nas estratégias, mas não será com certos
figurões mais vistos e ouvidos pelos tempos mais recentes, que sairemos do
atoleiro ético e moral – mais do que económico-financeiro – em que temos vindo
a mergulhar… para o descalabro.
Não será
com a intervenção ‘poética’ – mais ou menos politizada, mas desconexa da
realidade – dalguns mentores da soberania – em tempos a sua coragem foi a de
fugirem para o norte de África ou França e voltarem como heróis cobardes! – que
conseguiremos suplantar aquilo que nos divide e reforçar aquilo que nos une, de
verdade.
Mais de
sessenta anos de paz no continente europeu não merecem mais respeito e esforço
para que possamos viver tempos de harmonia e concórdia? Certas mentalidades
belicistas irão sobreporem-se ao bem comum de paz e dalguma prosperidade?
Parece
que a certos meninos bem-falantes e reivindicativos lhes faltam as dificuldades
e as agruras que fizeram desta Europa unida algo mais do que um mercado de
vaidades e de imoralidade. Parece que o sentido não-militar dalguns dos
cidadãos europeus está narcotizado pela lascívia duma prosperidade que não foi
ganha com trabalho e suor. O exemplo mais marcante tem sido a forma como (não)
recebemos os refugiados: acomodados com as lentilhas mais baratas esquecemo-nos
da dureza e da perseguição de tantos seres humanos à nossa porta… do outro lado
do mar Mediterrâneo!
= Certas
forças esquerdistas dizem-se agora defensoras da soberania, mas na sua génese têm
projetos internacionalistas que foram impostos aos povos que subjugaram à
força… Ainda hoje os vemos a defenderem – e quase nunca a condenarem nem nas
questões mais sensíveis de direitos humanos básicos – regimes em vigor cuja
coloração envergonha os mais incautos e que eles mesmos não rejeitam, sabe-se
lá com que interesse no sistema que ainda defendem.
Pior:
servem-se das estruturas da UE onde se colocam e ganham bons proveitos – senão
pessoais ao menos para o partido que os elegem – para contestarem as linhas que
lhes permitem ter vez e voz. Não deviam ser coerentes e deixarem de serem
exploradores daquilo que tão veemente discordam? Se não se demarcam dos regimes
de Cuba e Venezuela ou da Coreia do Norte como poderão ser compreendidos nas
lutas soberanistas que ainda cultivam? Talvez só a lógica da ideologia os faça
viver em tal incongruência… até que, um dia, vejam a miopia em que ainda
laboram!
= A
soberania é um bem indiscutível, mas não podemos fechar-nos ao projeto da UE
que tantos frutos tem dado em favor dos mais desfavorecidos e que nem sempre se
sabem governar. Muitos dos contestatários da soberania são mais beneficiários
da livre circulação de pessoas, de bens e de serviços na UE do que
intervenientes na construção de mais riqueza trabalhada e partilhada. Dir-se-á
que podem contestar porque têm asseguradas benesses que recebem sem terem de
fazer nada (ou muito pouco) pelo seu recebimento.
Como se
costuma dizer: ‘o sucesso só aparece antes do trabalho no dicionário’. Pois, o
pretenso sucesso da UE está em grande parte ligado a povos e culturas para quem
o trabalho é um culto, enquanto para outros se verifica o contrário. Precisamos
de saber se a soberania nos vai valer mais qualidade de vida ou se nos trará
dificuldades e perda de bem-estar pessoal e coletivo.
Soberania,
sim… mas com solidariedade de todos, com todos e para todos!
António
Sílvio Couto
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