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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Batizámos… e depois?


Eis um episódio da vida de quem está nas tribulações de pároco… Sobretudo tendo em conta trinta e três anos de padre – quase dezanove ao sul do Tejo – e com muito a aprender… mesmo nas coisas mais simples e aparentemente insignificantes!

Por estes dias tive quatro batizados – todos de crianças (mais novas ou mais velhas) do sexo feminino! – onde a maioria dos pais – três mães e um pai – não eram batizados e metade dos apresentados para padrinhos/madrinhas também não tinham recebido o batismo… todas estavam na dupla função: de mãe e de (pretensa) madrinha… uma até era mãe de gémeas!

Talvez nem tudo tenha estado em conformidade com os cânones… em vigor. No entanto, houve e há razões mais ou menos razoáveis para que tenham acontecido aqueles batizados. Desde logo temos de atender à pequena luzinha que ainda bruxuleia – como tal belamente diz o profeta Isaías – no coração e na vontade daqueles pais, que, não tendo recebido o batismo, o querem oferecer a seus filhos e filhas… Quem somos nós – na nossa pretensa autoridade e saber – para recusarmos o dom da graça divina aquelas crianças apresentadas à mãe-Igreja? Teremos de as tratar com maternidade ou com trejeitos de madrasta?  

= Por estes dias vimos a celebração do batismo de um adulto – por sinal jogador de futebol, campeão europeu e figura muito popular – em conjunto com os seus filhos ainda crianças a ser batizado, tanto quanto era percetível à maneira da celebração das crianças. Não deveria ter sido segundo o ritual de adultos, podendo as crianças viver a celebração no ritmo equiparado aos dos adultos? Tanto quanto se pode ver foi o contrário: o adulto teve uma celebração na incidência das crianças! Também aqui podemos e devemos tentar ver o que é mais adequado, dada a significação e o possível caminho de fé e a sua vivência na Igreja católica. Não será que aquelas imagens podem ser mais evangelizadoras do que tantas das nossas reuniões e preparações? Quem será capaz de proferir um juízo – acertado e assertivo – sobre a forma e o conteúdo dessas imagens, vendo aquele jogador de futebol a ser batizado?  

= Dá a impressão que muitas das nossas teorias sobre os sacramentos – sobretudo esses de repercussão social – parecem que vivem num mundo aparte da caminhada humana e sociológica hodierna. Claro que não interessa um certo facilitismo de que tudo vale e pouco se pede. Também não podemos entrar na onda de que tudo está bem porque não há problemas. Nem sequer estaremos isentos de sermos (mais ou menos) usados por quem se aproxima para solicitar os serviços da Igreja. Mas se as pessoas querem algo – no caso o batismo – que só a Igreja pode dar, não deveremos ser mais abertos à resposta sem fecharmos – duma forma tão intransigente – a porta a qualquer solução que não seja só a nossa?

Por vezes é assustador a certeza com que são dadas algumas respostas, pois parece que estamos mais a defender a nossa autoridade – na maior parte das vezes dá a impressão que é mais poder – do que o bem das pessoas, seja ele um bem pessoal e familiar, seja um bem social e religioso.

Embora haja e tenha de haver regras e diretrizes não nos podemos entrincheirar nas nossas categorias teológicas, pois Deus escapa tantas outras vezes desses pedestais e circula pela vida das pessoas na simplicidade e na procura do mesmo Deus… embora envolto em ténues acenos de fé. 

= Porque acreditamos que podemos atrair à comunhão da Igreja tantos que dela se afastaram por ignorância e ressentimento, cremos que temos um longo caminho a fazer com quem ainda nos procura… Porque acreditamos que há tanta gente de boa vontade que quer mais do que só os serviços religiosos da Igreja, temos de ir tentando propostas que possam ser adequadas às condicionantes da vida do nosso tempo… conjugando as possibilidades com as necessidades do crescimento do compromisso na fé e pela fé. Porque acreditamos que Cristo está presente muito para além dos parâmetros em que O pretendemos enquadrar, podemos e devemos estar mais ao serviço do anúncio d’Ele e menos das regras que excluem quem pretenda encontrá-Lo na Igreja e pela Igreja católica… sinceramente.       

   

António Sílvio Couto



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