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segunda-feira, 27 de junho de 2016

Microfone ao charco


Foi um episódio relacionado com o ‘europeu de futebol’ que tem estado a decorrer em França: o capitão da seleção portuguesa – sem mais nem quê – pega no microfone duma televisão e lanço-o ao lago… decorria um passeio – dizem – que de descontração e, sentindo-se importunado por uma pergunta – ao que parece não estava previsto que pudessem ser feitas – rapou do dito e água com ele…

Houve milhentas interpretações – lá como cá – sobre a atitude do jogador, nalguns casos os intérpretes eram mais juízes em causa própria do que pessoas de bom-senso e comedidas nas possíveis razões para tal ação tão intempestiva e talvez menos bem-educada.

Soube-se depois que, nas vésperas daquele episódio, o tal canal televisivo/jornal terá passado uma estória pouco abonatória da família do dito capitão… aliando isso a quezílias anteriores, tivemos aquele espetáculo pouco agradável e benéfico seja para quem for! 

= Por momentos quase será necessário perpassar outras situações onde certos jornaleiros – sim, porque os jornalistas não são nem devem ser aquilo que uns tantos e outras mais fazem daquilo que devia ser uma profissão com ética e respeito por todos – se comportam de forma menos consentânea com os direitos, liberdades e garantias de todos os cidadãos… de forma igual e com idêntico trato de educação.

Recordo um momento em que (ao tempo patriarca de Lisboa), D. José Policarpo respondeu a uma jornalista: ó menina, isso é pergunta que se faça? Com efeito, certos ‘pés de microfone’ são pouco respeitadores das pessoas e inconvenientes nas situações em que elas se encontram. De facto, terá algum sentido perguntar a alguém que está a viver um momento de tristeza ou de tragédia: como é que se sente? Até onde poderá ir a capacidade de informar e/ou de incomodar? 

= Como se nem tudo se pode dizer também nem tudo se deve perguntar. Cremos que se todos tivéssemos presente esta perspetiva não andaríamos por aí a escarafunchar a vida alheia nem certas publicações e emissões televisivas ou de redes sociais seriam tanto como são: esse espaço de desonra ou de bisbilhotice da vida dos outros. Não há desculpa alguma para que tenhamos de ser continuamente provocados por pessoas cujas vida é tão banal que só têm visibilidade se disserem mal dos outros ou se inventarem ‘casos’ e ‘situações’ onde os outros são ofendidos no seu bom nome e honra… e – pior – não se podem defender, pois não têm as armas que são usadas contra eles. 

= Há, de verdade, momentos em que atirar o microfone ao charco poderá ser a melhor forma de calar certas vozes e de submeter certas opiniões àquilo que são: lixo informativo e manipulação abusiva, indecente e vendida. Ouvimos com alguma estranheza uma ‘senhora jornaleira’ num canal português a opinar sobre as eleições em Espanha sobre os resultados – falava quando só tinham saído sondagens – do ‘Podemos’, argumentando que o voto nesta mescla partidária era a manifestação do voto de eleitores cultos, esclarecidos e comprometidos… Ora, decorridas umas breves horas a altissonante opinião foi contrariada pelos reais resultados, pois os ditos perderam votos e deputados e não creio que, quem neles não votou, seja menos culto, menor de esclarecimento e talvez menos bem informado para com os destinos que quer para o seu país. A quem interessa promover, assim, pessoas com visões tão ‘progressistas’? Será que estava a ler pela cartilha dalgum grupo à portuguesa? É bom que dispam a capa ideológica, quando emitem notícias!

É perigoso que andemos a fazer esta figura de ‘intelectuais’ só num dos lados da barricada, julgando com a sua esperteza sem contar com a inteligência dos outros! Honestidade e ética a quanto obrigarias! 

= Outro setor onde o microfone devia ser atirado para a lama mais mal cheirosa é quando se ouvem as opiniões no mundo do desporto e do futebol em particular. Nota-se uma clubite tal que se torna abjeto escutar certos figurões. Isto é tanto mais grave quando vemos pessoas com instrução – mas pelas posições e palavras usadas denotam pouca educação e senso! – a descerem ao nível das tabernas mais esconsas dalgum lugar tenebroso… É tempo de dizer basta a quem não respeita a capacidade reflexiva dos outros!    

António Sílvio Couto




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