A discussão foi lançada. Os proponentes dizem-se ‘evoluídos’ pela defesa
dos animais. Os oponentes pretendem continuar com uma certa tradição…nalgumas
regiões do país. Quem é contra as touradas tem vindo a ganhar mais espaço público…
Recordo uma conversa entre dois homens em que um perguntava: ‘quando são as
touradas, cá na terra?’ Ao que o outro respondeu: ‘aqui temos corridas de
toiros…touradas só se for em sua casa’!
De facto, voltar a ouvir falar de touradas é algo que fere os ouvidos mais
exigentes daqueles que são aficionados pelos toiros, pois a linguagem
corresponde – como noutros setores – a algo que define a atitude de quem vive
essa experiência.
A interdição de menores de dezoito anos nas corridas de toiros, soa como
que a um fundamentalismo (quase) tenebroso, pois os mesmos defendem o voto aos dezasseis
anos, dando-lhes ainda a possibilidade de decidir sobre a mudança de sexo nessa
idade e ainda alargando o consumo de canábis… Mas acima de tudo soa a falta de
senso exigirem que os que lidam os toiros tenham o décimo segundo ano de
escolaridade… Com tantas condicionantes está-se mesmo a ver que este arremedo
anti-touradas vai cair sem dar em nada… senão em ter exacerbado os ânimos
dentro e fora das praças… Repare-se que a maioria das autarquias com corridas e
largadas de toiros são de influência comunista e estes no ramo dos autarcas não
quererão entrar num distúrbio social…em vésperas de eleições.
= É digno de registo que tem-se vindo a verificar uma maior consciencialização
dos direitos dos animais. Por seu turno, dá a impressão de que os humanos têm
vindo a perder a condição de humanização que estaria subjacente à luta pelos
animais. Com efeito, vemos fações ideológicas e partidárias a assumirem
posições onde nem sempre a pessoa humana está em primeiro plano. Há casos em
que falta lógica nas pretensões, mais parecendo que certos temas servem mais de
que se fale de quem os propõe do que revelam seriedade no questionamento.
Deve, no entanto, respeitar-se a cultura – tão diversificada no nosso país
– criando condições para o amadurecimento dos problemas e não tentando impor
aos outros a violência de certas (pretensas) convicções. Se há quem nada lhe
diga o folclore e a sua expressão; se há quem pouco lhe afete a música filarmónica;
se há quem não se reveja em certas tradições gastronómicas; se há quem dê tudo
e muito mais por aquilo de que gosta… também consideramos que temos de deixar
evoluir a nossa cultura para que as lides tauromáquicas possam fazer o seu
caminho, não criando fraturas nem tentando remendar consequências relativas à
condição humana e animal. À força só funcionam os regimes ditatoriais… E
quantos pequenos ditadores pululam em certas carcaças militantes!
= Não querendo entrar numa espécie de jocoso, seria de estar atento aos
promotores da campanha anti-touradas, se, depois da votação, não irão comer uns
caracóis ou lagosta… esses sim, cozidos vivos e que fazem a delícia de tantos
apreciadores, tendo em conta a bolsa e a tradição!
Neste mundo de faz-de-conta em que nos encontramos, podemos ser muito mais
ilógicos do que pensamos e será vendo os erros e tropelias dos outros que
poderemos corrigir as nossas incongruências e hipocrisias. Fique claro que não
aprecio nem caracóis, nem lagosta e bastante pouco corridas… No entanto,
respeito que nisso tenha alguma referência cultural.
António
Sílvio Couto
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