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quinta-feira, 2 de junho de 2016

Na tourada do parlamento…

A discussão foi lançada. Os proponentes dizem-se ‘evoluídos’ pela defesa dos animais. Os oponentes pretendem continuar com uma certa tradição…nalgumas regiões do país. Quem é contra as touradas tem vindo a ganhar mais espaço público…
Recordo uma conversa entre dois homens em que um perguntava: ‘quando são as touradas, cá na terra?’ Ao que o outro respondeu: ‘aqui temos corridas de toiros…touradas só se for em sua casa’!
De facto, voltar a ouvir falar de touradas é algo que fere os ouvidos mais exigentes daqueles que são aficionados pelos toiros, pois a linguagem corresponde – como noutros setores – a algo que define a atitude de quem vive essa experiência.
A interdição de menores de dezoito anos nas corridas de toiros, soa como que a um fundamentalismo (quase) tenebroso, pois os mesmos defendem o voto aos dezasseis anos, dando-lhes ainda a possibilidade de decidir sobre a mudança de sexo nessa idade e ainda alargando o consumo de canábis… Mas acima de tudo soa a falta de senso exigirem que os que lidam os toiros tenham o décimo segundo ano de escolaridade… Com tantas condicionantes está-se mesmo a ver que este arremedo anti-touradas vai cair sem dar em nada… senão em ter exacerbado os ânimos dentro e fora das praças… Repare-se que a maioria das autarquias com corridas e largadas de toiros são de influência comunista e estes no ramo dos autarcas não quererão entrar num distúrbio social…em vésperas de eleições.

= É digno de registo que tem-se vindo a verificar uma maior consciencialização dos direitos dos animais. Por seu turno, dá a impressão de que os humanos têm vindo a perder a condição de humanização que estaria subjacente à luta pelos animais. Com efeito, vemos fações ideológicas e partidárias a assumirem posições onde nem sempre a pessoa humana está em primeiro plano. Há casos em que falta lógica nas pretensões, mais parecendo que certos temas servem mais de que se fale de quem os propõe do que revelam seriedade no questionamento.
Deve, no entanto, respeitar-se a cultura – tão diversificada no nosso país – criando condições para o amadurecimento dos problemas e não tentando impor aos outros a violência de certas (pretensas) convicções. Se há quem nada lhe diga o folclore e a sua expressão; se há quem pouco lhe afete a música filarmónica; se há quem não se reveja em certas tradições gastronómicas; se há quem dê tudo e muito mais por aquilo de que gosta… também consideramos que temos de deixar evoluir a nossa cultura para que as lides tauromáquicas possam fazer o seu caminho, não criando fraturas nem tentando remendar consequências relativas à condição humana e animal. À força só funcionam os regimes ditatoriais… E quantos pequenos ditadores pululam em certas carcaças militantes!

= Não querendo entrar numa espécie de jocoso, seria de estar atento aos promotores da campanha anti-touradas, se, depois da votação, não irão comer uns caracóis ou lagosta… esses sim, cozidos vivos e que fazem a delícia de tantos apreciadores, tendo em conta a bolsa e a tradição!
Neste mundo de faz-de-conta em que nos encontramos, podemos ser muito mais ilógicos do que pensamos e será vendo os erros e tropelias dos outros que poderemos corrigir as nossas incongruências e hipocrisias. Fique claro que não aprecio nem caracóis, nem lagosta e bastante pouco corridas… No entanto, respeito que nisso tenha alguma referência cultural.  


António Sílvio Couto 

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