Já desde
a crise de 2008 que temos vindo – tanto por cá como pelo resto do mundo – a
verificar muitos e díspares problemas que têm atingido o setor bancário, desde
a gestão até à condução de fundos, passando pelos riscos e erros, confusões e
acusações, privatizações ou nacionalizações… onde muitos perderam quase tudo e
poucos foram responsabilizados pelo que fizeram de menos bom, de mau ou de
(possivelmente) criminoso.
Para nos
cingirmos à nossa realidade lusa, não houve nenhum governo nestes últimos oito
a dez anos que não tenha tido o ’seu banco-problema’, umas vezes assumida e
rapidamente aceite, outras vezes só após longo tempo de fuga à
responsabilização, tanto política como economicamente. Há casos que se têm
vindo a arrastar tanto na justiça que uma grande parte dos factos (quase) vão
prescrevendo. Noutras situações a embrulhada é tal que – publica e notoriamente
– se vão confundindo os papéis de acusados e acusadores, de réus e vítimas, de
beneficiados e de lesados… num corrupio de encenações dignas de algum filme de
terror e não de entretenimento.
= O que
mais custa a aceitar é que os conluios político-partidários vão sentindo que
têm espaço de manobra para todo este espetáculo degradante, pois o labéu sobre
um qualquer executivo anterior pode muito bem ser encarnado pelas recriminações
sobre a má gestão de algum banco, desde que se possa encontrar por lá, direta
ou indiretamente, alguém do partido – ou fação deste – que se opõe a quem
acusa…
Vemos,
entretanto, surgirem mais e mais nuvens de desconfiança entre os diversos
depositantes (privados ou associações), para com os gestores das instituições
bancárias e quase que envolvendo os funcionários de cada balcão… Depois de
muitos dos lesados terem trazido para a praça pública o logro em que foram
enganados, como que cresce a principal razão pela qual se investem as economias
– em tantos casos de toda uma vida – neste e não naquele banco: a confiança nas
pessoas e naquilo que elas representam. Nota-se uma crescente apreensão sobre o
que nos querem vender, quando nos pretendem comprar o nosso dinheiro por um certo
valor. Funcionários e clientes como que rompem essa ténue ligação mais básica
da conduta humana: acreditar que não nos enganam nem queremos enganar.
=
Vislumbram-se, por outro lado, sinais inquietantes sobre a nossa (sempre)
frágil economia, onde o sistema bancário foi passando de motor de
desenvolvimento a ‘elo mais fraco’ de empresas e mesmo de pessoas individuais.
Cresce, então, toda uma espécie de degradação e de desacreditação
político-ideológica, onde emergem certas garras de forças (pretensamente)
anticapitalistas, aliadas a interesses corporativos de incrementação dum
coletivismo ressabiado e onde as renacionalizações lançam tentáculos em ordem a
manterem o monopólio do Estado e à neocoletivização da economia…
Temos
visto, ouvido e lido que alguns dos que foram derrotados noutras latitudes –
sobretudo na Europa de Leste e na América Latina – parece que encontrar no
nosso país o lastro suficiente e capaz de ensaiar reclamações para com a UE –
menosprezando até as lições recentes dos gregos – e auspiciando contestar o
mais possível nem que para isso seja preciso aniquilar o modelo que lhes
permite reivindicar e afundar aquilo que os alimenta e suporta…
= Não deixa
de ser ofensivo e preocupante que seja o povo – contribuinte e trabalhador,
anónimo e empreendedor – quem sempre paga a fatura da má-sorte, pois se algo
correr mal são os mesmos a serem sacrificados e espoliados, mas se algo possa
correr melhor (ou menos mal) a repercussão dos benefícios leva muito tempo a
ser recebida na base popular… emergindo no topo dos quadros reinantes.
De pouco
importa dizerem que não iremos ser novamente chamados a mais e mais
austeridade, se as situações continuarem a caírem em catadupa no moinho
acelerado que tritura os grãos ritmados na grande mó da exigência e do rigor…
na Europa que tutela tudo isto.
A banca
tem sido o retrato mais aproximado da realidade do país: vivemos acima das
nossas possibilidades e não conseguimos converter a prosápia de ricos e
aprendizagens de contenção e verdade. Basta de mentira!
António
Sílvio Couto
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