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quarta-feira, 2 de março de 2016

Publicidade (talvez) enganadora


Temos vindo a assistir ao crescimento de diversas tentativas de publicidade – televisiva, radiofónica e outras – envolvendo produtos, que, segundo dizem, fazem bem à saúde: suplementos alimentares, correções ao agravamento do estado físico (mais este do que o psicológico), sistemas para emagrecimento… produtos de custo mais ou a menos acessível, propondo um melhor bem-estar… e até sugestões para o desempenho de âmbito sexual, tentando dar-nos melhor qualidade de vida… a curto prazo.

Propositadamente não fazemos qualquer lista – numa panóplia de mais de uma dezena – de tão variados anúncios, embora fiquemos preocupados com ‘receitas’ que, de tão eficazes, quase parecem ridículas e enganadoras!

Mas serão tais produtos de confiança e terão a eficácia que prometem? As entidades públicas reguladoras da saúde foram chamadas a pronunciarem-se? O recurso àquele tipo de publicidade é sério e merece crédito? Poderemos tratar a saúde como outro produto comercial? Os patrocinadores – isto é, os que dão a cara, atores, interessados ou não – estarão conscientes do risco que correm e que induzem os outros a correr?

= Antes de mais precisamos de refletir sobre esta vaga de publicidade – mais enganadora do que talvez enganosa – que nos tenta seduzir com certos mitos não-resolvidos com a evolução da humanidade: a eterna juventude, a saúde incontestável, a qualidade de vida… segundo certos padrões de valores e assente numa determinada ética mais epicurista do que sensata.

Com o crescimento progressivo da longevidade, há problemas que se colocam a toda a sociedade. Os mais velhos estão a aumentar…continuamente. A ‘sociedade grisalha’ – como alguém, num contexto político menos sério, classificou – traz-nos questões, que anteriormente não se colocavam. Por seu turno, a diminuição da população ativa em fase de trabalho, coloca-nos novos problemas, que não podemos ignorar e tão pouco disfarçar com subtilezas de mau gosto e de incompetência.

= Atendendo aos sinais que vão sendo emitidos pelo consumismo, vemos com alguma preocupação, que certas falhas (ou faixas) da população (mais ou menos) envelhecida possam ser aliciadas para métodos e propostas que, parecendo um tanto cativantes, podem acrescentar problemas aos já existentes. Com efeito, se se propõe acrescentar um produto que tenta reforçar as articulações à custa duns comprimidos milagreiros, quem não se deixará seduzir, gastando algo das suas economias, que podiam ser canalizadas para alimentos realmente benéficos e não para patranhas aliciadoras! Por que se há de favorecer certos aditivos químicos, quando o que falta são os alimentos saudáveis? Até onde poderemos ir na aceitação do tão auspicioso no bem-estar, quando ainda não conseguimos o mais fácil e benéfico?

= Atendendo à forma como uma parte significativa da nossa população já reformada vai passando o seu tempo, tais produtos como que se inserem na lista dos motivos de diversão: uns mais no ativo e outros sendo vividos no passivo. Nota-se que certos programas televisivos em canal aberto – de manhã ou pela tarde – injetam tal dose de publicidade que os mais frequentadores quererão experimentar, se mais não for para não ficarem fora de moda…

= Será possível atenuar esta onda de captação de novo público com produtos destinado a velhos? Quem poderá servir de mecanismo de controlo, se não houver bom senso e correção de condutas? Estaremos a construir uma sociedade em que vale tudo, até enganar os mais incautos, sejam pobres ou ricos? Quem irá fiscalizar para que haja segurança e credibilidade de tudo e em todos?

= Pelo muito que queremos aos mais velhos e pela estima que nos merecem, não podemos permitir que os enganem nem que os tentem ludibriar com sucessos de desempenho ou de saúde conquistada por métodos menos corretos. É urgente que aprendamos todos a saber envelhecer com dignidade e sensatez… Não à eutanásia nem à distanásia social e exploradora.


António Sílvio Couto


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