Temos
vindo a assistir ao crescimento de diversas tentativas de publicidade –
televisiva, radiofónica e outras – envolvendo produtos, que, segundo dizem,
fazem bem à saúde: suplementos alimentares, correções ao agravamento do estado
físico (mais este do que o psicológico), sistemas para emagrecimento… produtos
de custo mais ou a menos acessível, propondo um melhor bem-estar… e até
sugestões para o desempenho de âmbito sexual, tentando dar-nos melhor qualidade
de vida… a curto prazo.
Propositadamente
não fazemos qualquer lista – numa panóplia de mais de uma dezena – de tão
variados anúncios, embora fiquemos preocupados com ‘receitas’ que, de tão
eficazes, quase parecem ridículas e enganadoras!
Mas
serão tais produtos de confiança e terão a eficácia que prometem? As entidades
públicas reguladoras da saúde foram chamadas a pronunciarem-se? O recurso
àquele tipo de publicidade é sério e merece crédito? Poderemos tratar a saúde
como outro produto comercial? Os patrocinadores – isto é, os que dão a cara,
atores, interessados ou não – estarão conscientes do risco que correm e que induzem
os outros a correr?
= Antes
de mais precisamos de refletir sobre esta vaga de publicidade – mais enganadora
do que talvez enganosa – que nos tenta seduzir com certos mitos não-resolvidos
com a evolução da humanidade: a eterna juventude, a saúde incontestável, a
qualidade de vida… segundo certos padrões de valores e assente numa determinada
ética mais epicurista do que sensata.
Com o
crescimento progressivo da longevidade, há problemas que se colocam a toda a
sociedade. Os mais velhos estão a aumentar…continuamente. A ‘sociedade
grisalha’ – como alguém, num contexto político menos sério, classificou –
traz-nos questões, que anteriormente não se colocavam. Por seu turno, a
diminuição da população ativa em fase de trabalho, coloca-nos novos problemas,
que não podemos ignorar e tão pouco disfarçar com subtilezas de mau gosto e de incompetência.
=
Atendendo aos sinais que vão sendo emitidos pelo consumismo, vemos com alguma
preocupação, que certas falhas (ou faixas) da população (mais ou menos)
envelhecida possam ser aliciadas para métodos e propostas que, parecendo um
tanto cativantes, podem acrescentar problemas aos já existentes. Com efeito, se
se propõe acrescentar um produto que tenta reforçar as articulações à custa
duns comprimidos milagreiros, quem não se deixará seduzir, gastando algo das
suas economias, que podiam ser canalizadas para alimentos realmente benéficos e
não para patranhas aliciadoras! Por que se há de favorecer certos aditivos
químicos, quando o que falta são os alimentos saudáveis? Até onde poderemos ir
na aceitação do tão auspicioso no bem-estar, quando ainda não conseguimos o
mais fácil e benéfico?
=
Atendendo à forma como uma parte significativa da nossa população já reformada
vai passando o seu tempo, tais produtos como que se inserem na lista dos
motivos de diversão: uns mais no ativo e outros sendo vividos no passivo.
Nota-se que certos programas televisivos em canal aberto – de manhã ou pela
tarde – injetam tal dose de publicidade que os mais frequentadores quererão
experimentar, se mais não for para não ficarem fora de moda…
= Será
possível atenuar esta onda de captação de novo público com produtos destinado a
velhos? Quem poderá servir de mecanismo de controlo, se não houver bom senso e
correção de condutas? Estaremos a construir uma sociedade em que vale tudo, até
enganar os mais incautos, sejam pobres ou ricos? Quem irá fiscalizar para que
haja segurança e credibilidade de tudo e em todos?
= Pelo
muito que queremos aos mais velhos e pela estima que nos merecem, não podemos
permitir que os enganem nem que os tentem ludibriar com sucessos de desempenho
ou de saúde conquistada por métodos menos corretos. É urgente que aprendamos
todos a saber envelhecer com dignidade e sensatez… Não à eutanásia nem à
distanásia social e exploradora.
António Sílvio Couto
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