O
ambiente criado em volta da tomada de posse – e consequente início de atividade
– do novo Presidente da República, no dia 9 de março, poder-se-á considerar que
trouxe à tona da vida mais ou menos coletiva portuguesa uma nova sensação: o
nacional-porreirismo.
Agora
parece que todos estamos a dar-nos bem, pois o inquilino do palácio de Belém
fez saltar de alegria quantos andavam cabisbaixos, tristes e até mesmo –
segundo se diz correntemente – crispados.
Nalguns
casos pretendem enterrar uns certos machados de guerra, fazendo crer que nada
se passa e que será preciso esquecer, rapidamente, agravos, ofensas e achaques.
Outros tentam fazer acreditar que temos de ser todos ‘boas pessoas’, pois as
diferenças só conseguirão atrair mais azedume.
O
discurso académico-popular do recém-empossado Presidente tentou tocar focos de
identidades, que pareciam ter sido esquecidas nas refregas eleitorais mais
recentes… duas em menos de quatro meses. Se bem que uns tantos não assumiram os
gestos da educação mais elementar, continuando a fazer a sua travessia no
deserto da vitória presidencial…
= Ao
longo dos dias precedentes à tomada de posse, vieram-me à consciência algumas
questões… agravadas com outros momentos decorridos no próprio dia de ‘festa’:
- Que
esperamos deste ambiente? Será que iremos iniciar uma nova etapa de tratamento
ou continuaremos a fazer-de-conta que se está no intervalo de algo mais sério?
- Poderemos
dar já por adquirido que será com estes episódios que faremos do país uma pátria
saudável e benfazeja?
- Os auspícios
de que tudo corra bem será conciliável com a prosperidade, o compromisso e o
trabalho comum e articulado com a justiça, a solidariedade e a paz?
- Até
onde irá a bonomia de quem agora assume a mais alta magistratura de Nação, se o
governo tiver de tomar, a curto ou médio prazo, medidas de austeridade?
- Ser
por todos e não contra ninguém, chegará para criar consensos na hora de maior
tensão entre os componentes das forças parlamentares de apoio à governação?
- Será
entendido como diálogo inter-religioso aquilo que reuniu representantes dos
diversos credos, na mesquita de Lisboa, ou não será, antes, entendido como
mescla de fés à custa de sinais confusos e algo controversos?
- As
pessoas serão tão desmemoriadas – desde os concorrentes até aos adversários –
que irão esquecer o que disseram antes desta nova fase da vida política
nacional, concretamente da volatilidade do vencedor?
= Há, no
entanto, aspetos que gostaria de ver respondidos e que foram, em meu entendimento,
sagazmente ignorados pela maior parte dos participantes.
- Por
onde andou a referência à cultura cristã/católica, tanto do Presidente
empossado como de outros apoiantes e sequazes? Houve medo ou foi estratégia?
- Para
quem até já fez comentários litúrgicos, deixou um pouco a desejar que não
tenhamos ouvido alguma alusão à dimensão mais comprometida da crença, que é
muito mais do que espiritualidade ou referência aos mitos, seja o de Ourique ou
das conquistas à época dos descobrimentos!
- Houve
uma forte denúncia da qualidade social da intervenção cívica – com a pobreza e
a ação das instituições de caráter social – mas isso terá repercussão junto do
setor do governo, que nem sempre tem atendido às urgências no terreno?
. Uma
coisa é começar com boa aceitação popular – pudera assim não ser, dado que
muito disso tem a ver com cobertura da comunicação social, normalmente,
favorável já antes! – outra bem distinta será querer não criar ondas. Com
efeito, a magistratura da palavra pode e deve ser acutilante, séria e
profética… sem ser morna, recorrente e deixando-se ir na crista popular!
Nem tudo
está bem, quando dizem só bem de nós – refere Jesus no Evangelho… O tempo dirá
se este nacional-porreirismo vai tornar-se moda e por quanto tempo!
António Sílvio Couto
Esperemos que o Marcelo não se esqueça das raízes do país nacional . D. AFONSO HENRIQUES foi reconhecido como Rei bem como a independência do seu reino através da Bula Manifestis probatum em 1179 .
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