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sexta-feira, 4 de março de 2016

Futilidades (mais ou menos) perigosas


Segundo foi dado a conhecer, a razão pela qual um adolescente, no Algarve, foi, alegadamente, morto pelo padrasto, teve a ver com a vítima ter tirado dinheiro ao agressor, para comprar um telemóvel…

Outros casos há em que uma simples futilidade – isto é, algo de pouca importância, tanto ao nível material, como mesmo noutra dimensão mais afetiva ou psicológica – mas à qual se dá grande relevo, por razões subjetivas ou emocionais, se torna motivo de desentendimento, de conflito ou, desgraçadamente, com consequências fatais…

- Uma simples palavra – mal ouvida ou interpretada – pode desencadear uma reação (quase) inexplicável, sobretudo se falta racionalidade de algumas das partes envolvidas;

- Um gesto menos adequado – na estrada ou numa qualquer outra intervenção – pode lançar uma ‘guerra’ entre pessoas, sejam ou não conhecidas;

- Uma insinuação – por palavras ou por escrito, senão mesmo num trejeito ou olhar mal interpretados – pode desencadear uma catadupa de problemas, que, muitas vezes, se sabe mais ou menos como começam, mas com dificuldade se é capaz de ver como vão terminar.

= Poderemos, então, interrogar-nos:

* Porque é que certas futilidades – na forma, mas possivelmente não na repercussão que atingem – se tornam tão perigosas?

* Porque andamos todos tão suscetíveis à mais pequena observação, sobretudo, se ela for menos agradável a nós mesmos?  

* Que razões plausíveis poderemos encontrar para que pequenas areias condicionem a engrenagem do nosso ‘eu’ psicológico?

* Atendendo à razoável difusão de tantos episódios da vida privada, porque motivo se melindram as pessoas com críticas quase inofensivas?

* Quando se pensava que já éramos capazes de maturidade social, porque andaremos menos compreensivos, quando se nota (ou revela) mais a nossa vulnerabilidade não disfarçável?

* Seremos, hoje, mais melindrosos para com quem nos possa conhecer… um tanto melhor, quando deveríamos viver em confiança e aceitação sincera?

* Até onde irá a bitola da nossa autoestima e a aceitação da correção dos próprios defeitos…pelos outros de forma direta ou presumida?

* Porque seremos tão hipersensíveis, no nosso individualismo subjetivista, sobretudo, quando se põem a manifesto as máscaras reais ou virtuais?

= Os santos e santas –aceitavam ser corrigidos/as, sobretudo nos seus defeitos, tanto por Deus, nas circunstâncias da vida, como através daqueles/as de quem Ele se servia para apurar o que não estava correto no amadurecimento psicológico e espiritual.

Claro, que a linguagem de cada tempo tem de se adequar à vivência do ser cristão neste mundo. Assim, muitas das vidas dos santos e santas têm de se entendidas, hoje. Mas a mensagem do Evangelho é sempre a mesma e saber vivê-la correta e exigentemente é dom de Deus.

Valerá a pena cada um de nós analisar-se sobre o modo como reage às contrariedades da vida e às ‘provocações’ com que temos de enfrentar-nos. Corremos o risco de nos tornarmos como um balão, que vai enchendo sempre que se considera bem aceite, bem visto, elogiado, autocomprazido… e poderá rebentar quando alguém não lhe dá a importância que tem ou que pensa ter…Com tantos balões inchados com que convivemos, teremos de ser muito delicados, pois uma mera futilidade pode desencadear uma explosão com consequências inesperadas ou funestas!

Precisamos de ser mais humildes, a sério.
 

António Sílvio Couto


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