Segundo
foi dado a conhecer, a razão pela qual um adolescente, no Algarve, foi,
alegadamente, morto pelo padrasto, teve a ver com a vítima ter tirado dinheiro
ao agressor, para comprar um telemóvel…
Outros
casos há em que uma simples futilidade – isto é, algo de pouca importância,
tanto ao nível material, como mesmo noutra dimensão mais afetiva ou psicológica
– mas à qual se dá grande relevo, por razões subjetivas ou emocionais, se torna
motivo de desentendimento, de conflito ou, desgraçadamente, com consequências
fatais…
- Uma
simples palavra – mal ouvida ou interpretada – pode desencadear uma reação
(quase) inexplicável, sobretudo se falta racionalidade de algumas das partes
envolvidas;
- Um
gesto menos adequado – na estrada ou numa qualquer outra intervenção – pode
lançar uma ‘guerra’ entre pessoas, sejam ou não conhecidas;
- Uma
insinuação – por palavras ou por escrito, senão mesmo num trejeito ou olhar mal
interpretados – pode desencadear uma catadupa de problemas, que, muitas vezes,
se sabe mais ou menos como começam, mas com dificuldade se é capaz de ver como
vão terminar.
=
Poderemos, então, interrogar-nos:
* Porque
é que certas futilidades – na forma, mas possivelmente não na repercussão que
atingem – se tornam tão perigosas?
* Porque
andamos todos tão suscetíveis à mais pequena observação, sobretudo, se ela for
menos agradável a nós mesmos?
* Que
razões plausíveis poderemos encontrar para que pequenas areias condicionem a
engrenagem do nosso ‘eu’ psicológico?
* Atendendo
à razoável difusão de tantos episódios da vida privada, porque motivo se
melindram as pessoas com críticas quase inofensivas?
* Quando
se pensava que já éramos capazes de maturidade social, porque andaremos menos
compreensivos, quando se nota (ou revela) mais a nossa vulnerabilidade não
disfarçável?
* Seremos,
hoje, mais melindrosos para com quem nos possa conhecer… um tanto melhor,
quando deveríamos viver em confiança e aceitação sincera?
* Até
onde irá a bitola da nossa autoestima e a aceitação da correção dos próprios
defeitos…pelos outros de forma direta ou presumida?
* Porque
seremos tão hipersensíveis, no nosso individualismo subjetivista, sobretudo,
quando se põem a manifesto as máscaras reais ou virtuais?
= Os
santos e santas –aceitavam ser corrigidos/as, sobretudo nos seus defeitos,
tanto por Deus, nas circunstâncias da vida, como através daqueles/as de quem
Ele se servia para apurar o que não estava correto no amadurecimento
psicológico e espiritual.
Claro,
que a linguagem de cada tempo tem de se adequar à vivência do ser cristão neste
mundo. Assim, muitas das vidas dos santos e santas têm de se entendidas, hoje.
Mas a mensagem do Evangelho é sempre a mesma e saber vivê-la correta e
exigentemente é dom de Deus.
Valerá a
pena cada um de nós analisar-se sobre o modo como reage às contrariedades da
vida e às ‘provocações’ com que temos de enfrentar-nos. Corremos o risco de nos
tornarmos como um balão, que vai enchendo sempre que se considera bem aceite,
bem visto, elogiado, autocomprazido… e poderá rebentar quando alguém não lhe dá
a importância que tem ou que pensa ter…Com tantos balões inchados com que
convivemos, teremos de ser muito delicados, pois uma mera futilidade pode
desencadear uma explosão com consequências inesperadas ou funestas!
Precisamos
de ser mais humildes, a sério.
António Sílvio Couto
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