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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Do individual e subjetivo… ao ‘saber confessar-se’


Por estes dias, li mais uma caraterização do nosso tempo como marcado pelo subjetivismo, isto é, em que cada qual faz ou pode fazer a sua própria vivência humana, psicológica e mesmo espiritual sem contar nem ‘precisar’ do confronto com os outros… tenham eles a religiosidade que possam ter ou viver.

Ora, aliando esta vertente com outras dos nossos dias – como individualismo, egoísmo… e tantos outros ‘ismos’ de concentração sobre nós mesmos – como que se nos coloca alguma urgência em tentarmos entender como pode e/ou deve um cristão católico viver a ‘sua’ celebração do sacramento da penitência e reconciliação… enquanto vivência pessoal com incidências de âmbito comunitário.

Espero que não haja quem se escandalize com esta consideração que agora apresentamos: muitos daqueles/as que se aproximam do sacramento da penitência e reconciliação, sobretudo neste tempo da quaresma, não são os que têm mesmo pecados, mas antes fazem-no dentro duma certa tradição mais ou menos ritual, embora até possa parecer que falta uma consciência correta e efetiva do pecado e das exigências autênticas da celebração deste sacramento.

Certamente que há muitas pessoas que já sentiram a verdadeira moção da graça divina, mas não será difícil de encontrar quem não faça, correta e simplesmente, o seu percurso preparatório desde o exame de consciência até à etapa mais consequente da penitência de vida e não tanto de ‘rezas’ ou boas intenções rotineiras…

Duma forma um tanto abusiva como que ousamos considerar que quem se confessa não tem esses designados pecados – graves, mortais ou essenciais – embora, quem não se confessa, não tenha a correta consciência desses mesmos pecados, tendo em conta a ‘classificação’ mais ou menos aceitável e recorrente… aferidos e qualificados na maturação da moral mais simples, personalista e atual. 

= Penitentes e confessores… em misericórdia

Na oração para o jubileu da misericórdia rezamos:

‘Vós quisestes que os vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza para sentirem como justa a compaixão pelos que estão na ignorância e no erro: fazei com que todos os que se aproximem de cada um dos vossos ministros se sintam acolhidos, amados e perdoados por Deus’.

Eis como temos de viver com humildade a celebração do sacramento da penitência e da reconciliação: ninguém pode dar aquilo que não recebeu e, na medida em que o viver, melhor o poderá testemunhar e sentir como dom, graça e presença de Deus.

- Cada vez mais está – ou dever estar – afastado da linguagem e da prática a escusada consideração ao ‘tribunal divino’, para caraterizar o abeirar-se do sacramento da penitência e reconciliação, onde quem se vai confessar seja induzido a tremer diante das possíveis perguntas, se perturbe pelas irrazoáveis considerações e até mesmo se possa deixar intimidar por algumas das (im)piedosas penitências…sugeridas ou impostas!

- Dá a impressão que, só quem possa ter passado por uma salutar experiência de penitente, poderá entender a libertação gerada e geradora de nova vida, a partir do essencial da celebração deste sacramento da penitência e reconciliação.

- Urge que sejamos capazes, em Igreja e como Igreja, de propor uma caminhada cristã que não se atenha só às possíveis faltas para com Deus, mas que considere também as faltas, falhas ou pecados para com os outros, sem esquecer ainda as ofensas para consigo mesmo, tendo em conta a infidelidade que pode percorrer a nossa vida no ser, no agir e no arrepender-se.

- Precisamos de continuar a crescer na maturidade humana e espiritual, amadurecendo a nossa condição de pecadores, mas sem tentarmos fazer de Deus uma espécie de esponja, que nos convém utilizar nas horas de maior aflição… Somos fiéis ou pecadores para com Alguém que nos ama e cujos atos de amor se repercutem na intimidade e proximidade que nos afere ao perdão, feito misericórdia e compaixão.

- Só quem ama sente que ofende. Deus é, de verdade, a nossa máxima referência?  

 
António Sílvio Couto

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