Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 14 de março de 2016

Reverter o reverter


Depois que tomou posse – após semanas e semanas de tentativas para a sua correta e admissível constituição – o atual governo português tentou ‘reverter’ sofregamente tudo o que anteriormente tinha sido (mais ou menos) feito…

Houve situações que foram revertidas e ainda nem sequer se sabia quem era o titular da pasta ou tinha tomado posse… por exemplo na área da educação com a supressão intempestiva de exames e de avaliações trocadas à pressa… Em matérias de benefícios – alguns quase ridículos, como uns cêntimos nas reformas da segurança social – foram dados passos sem se perceber se havia fundos para continuar para além dos primeiros dados… No campo dos conselhos e aconselhamentos tivemos um responsável a dizer que, se queríamos beneficiar do anunciado, tínhamos de deixar de fumar e de não andar de carro, mas era nesses setores que previam recolher impostos e, não havendo gastos, os proventos não teriam efeito…

Por estes dias deu-se um assomo de nacionalismo, quando um senhor da área da economia disse para não irmos – quem possa – abastecer de combustíveis a Espanha, pois estaríamos a pagar impostos no país vizinho… No campo da saúde foram revertidas taxas moderadoras – com efeitos quase irrisórios – mas com leitura ideológica e sensacional em matéria de aborto… gratuito… Na justiça foi claro de ver declarações a tentarem retomar tudo e o resto anterior à governação…em exercício.

= Desculpando a imagem rural – as nossas raízes podem ser fatores profundos dalguma cultura – ao ver, ouvir e sentir tanto ‘reverter’ com efeitos quase insignificantes, vem-me à memória a imagem de uma galinha, que exercendo o seu múnus de poedeira – no tempo em que os ovos não vinham do supermercado, mas diretamente da produção – lá ia ao local do costume, passava o tempo necessário, cacarejava como se tivesse posto ovo, mas, quando íamos ver, não havia nada… dizíamos, então, que ‘pôs ar’… Assim avalio os meses – parcos embora, mas barulhentos quanto baste de intenções e reversões – da atual governação: ar e mais ar, sem efeito nem frutos palpáveis para além da sublimação freudiana do ‘ego’ dalguns bem-falantes e servidores do avental! Muito barulho e para tão pouco resultado!

= Dado que é preciso atenuar um certo afã desconexo e à deriva dalguns intervenientes na atual vida política – pública ou privada – deixo uma sugestão que ouvi por estes dias. Aconteceu numa cidade do Brasil, onde sempre que se confrontavam as equipas da cidade, havia até mortos entre as claques rivais… tal era a agressividade e conflitualidade. Alguém sugeriu que, num dos jogos entre eles, fossem chamadas, como convidadas, a estarem no estádio, em lugar visível, as mães dos membros daquelas claques visceralmente rivais. Assim aconteceu: estando as mães presentes, no estádio, os filhos não criaram distúrbios nem houve problemas… como era habitual!

Gostaria de sugerir: convidem as mães dos nossos parlamentares para estarem, nas galerias da Assembleia, a assistirem à prestação inflamada e, por vezes, irrascível, dos filhos nas bancadas… Talvez sejam mais educados ou deixarão as progenitoras – que pensamos serem pessoas de bem e com o mínimo de educação – menos bem colocadas com os princípios que verão exercidos. Talvez possam ver mais de perto o que eles/elas fazem e lhes possam, posteriormente, corrigir o que as transmissões televisivas por vezes coartam ou manipulam… Talvez possam pôr-lhes tento na língua e no comportamento de quem, sendo maior, por vezes, se comporta como menor mimado/a…

O mesmo sugiro para outras instâncias de intervenção pública, como governo, autarquias, associações e coletividades e mesmo no âmbito da Igreja… Se as mães fossem mais respeitadas – longe de mim o prolongamento dalgum complexo de Agripina pela vida fora – talvez a sociedade fosse mais humana e compreensiva.

Afinal, o reverter do reverter pode não solucionar nada, mas deveríamos ser todos muito mais responsáveis e respeitadores daquilo que outros fizeram… É escusado tentarmos contar só com a nossa esperteza, sem termos em conta a inteligência dos outros! Bom-senso, precisa-se!


António Sílvio Couto



Sem comentários:

Enviar um comentário