Depois
que tomou posse – após semanas e semanas de tentativas para a sua correta e
admissível constituição – o atual governo português tentou ‘reverter’
sofregamente tudo o que anteriormente tinha sido (mais ou menos) feito…
Houve
situações que foram revertidas e ainda nem sequer se sabia quem era o titular
da pasta ou tinha tomado posse… por exemplo na área da educação com a supressão
intempestiva de exames e de avaliações trocadas à pressa… Em matérias de
benefícios – alguns quase ridículos, como uns cêntimos nas reformas da
segurança social – foram dados passos sem se perceber se havia fundos para
continuar para além dos primeiros dados… No campo dos conselhos e
aconselhamentos tivemos um responsável a dizer que, se queríamos beneficiar do
anunciado, tínhamos de deixar de fumar e de não andar de carro, mas era nesses
setores que previam recolher impostos e, não havendo gastos, os proventos não
teriam efeito…
Por
estes dias deu-se um assomo de nacionalismo, quando um senhor da área da economia
disse para não irmos – quem possa – abastecer de combustíveis a Espanha, pois
estaríamos a pagar impostos no país vizinho… No campo da saúde foram revertidas
taxas moderadoras – com efeitos quase irrisórios – mas com leitura ideológica e
sensacional em matéria de aborto… gratuito… Na justiça foi claro de ver
declarações a tentarem retomar tudo e o resto anterior à governação…em
exercício.
=
Desculpando a imagem rural – as nossas raízes podem ser fatores profundos dalguma
cultura – ao ver, ouvir e sentir tanto ‘reverter’ com efeitos quase
insignificantes, vem-me à memória a imagem de uma galinha, que exercendo o seu
múnus de poedeira – no tempo em que os ovos não vinham do supermercado, mas
diretamente da produção – lá ia ao local do costume, passava o tempo
necessário, cacarejava como se tivesse posto ovo, mas, quando íamos ver, não
havia nada… dizíamos, então, que ‘pôs ar’… Assim avalio os meses – parcos
embora, mas barulhentos quanto baste de intenções e reversões – da atual
governação: ar e mais ar, sem efeito nem frutos palpáveis para além da
sublimação freudiana do ‘ego’ dalguns bem-falantes e servidores do avental! Muito
barulho e para tão pouco resultado!
= Dado
que é preciso atenuar um certo afã desconexo e à deriva dalguns intervenientes
na atual vida política – pública ou privada – deixo uma sugestão que ouvi por
estes dias. Aconteceu numa cidade do Brasil, onde sempre que se confrontavam as
equipas da cidade, havia até mortos entre as claques rivais… tal era a
agressividade e conflitualidade. Alguém sugeriu que, num dos jogos entre eles,
fossem chamadas, como convidadas, a estarem no estádio, em lugar visível, as
mães dos membros daquelas claques visceralmente rivais. Assim aconteceu:
estando as mães presentes, no estádio, os filhos não criaram distúrbios nem houve
problemas… como era habitual!
Gostaria
de sugerir: convidem as mães dos nossos parlamentares para estarem, nas
galerias da Assembleia, a assistirem à prestação inflamada e, por vezes,
irrascível, dos filhos nas bancadas… Talvez sejam mais educados ou deixarão as
progenitoras – que pensamos serem pessoas de bem e com o mínimo de educação –
menos bem colocadas com os princípios que verão exercidos. Talvez possam ver mais
de perto o que eles/elas fazem e lhes possam, posteriormente, corrigir o que as
transmissões televisivas por vezes coartam ou manipulam… Talvez possam pôr-lhes
tento na língua e no comportamento de quem, sendo maior, por vezes, se comporta
como menor mimado/a…
O mesmo
sugiro para outras instâncias de intervenção pública, como governo, autarquias,
associações e coletividades e mesmo no âmbito da Igreja… Se as mães fossem mais
respeitadas – longe de mim o prolongamento dalgum complexo de Agripina pela
vida fora – talvez a sociedade fosse mais humana e compreensiva.
Afinal,
o reverter do reverter pode não solucionar nada, mas deveríamos ser todos muito
mais responsáveis e respeitadores daquilo que outros fizeram… É escusado
tentarmos contar só com a nossa esperteza, sem termos em conta a inteligência
dos outros! Bom-senso, precisa-se!
António Sílvio Couto
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