Na
catequese quaresmal que, neste domingo, proferiu, em Cristo Rei (Almada), o
senhor Bispo de Setúbal questionou a assembleia ouvinte: que modelo de Igreja
queremos – uma Igreja-pirâmide ou uma Igreja-círculo?
D. José
Ornelas falava para uma assembleia de mais de sete centenas de pessoas, que
escutaram um aprofundamento teológico-pastoral da passagem bíblica do lava-pés
(cfr. Jo 13,1-17).
Esta
iniciativa das ‘catequeses quaresmais’ tem percorrido as igrejas jubilares do
ano da misericórdia na diocese de Setúbal, abordando o senhor Bispo facetas da
sua cruz-peitoral e das insígnias do seu báculo.
= Respigamos
algumas referências da catequese de D. José sobre o serviço, simbolizado no
trecho do lava-pés:
- O
lava-pés exprime o sentido da vida e da morte de Jesus, é um gesto de afeto e
de serviço;
- Os
discípulos não estão preparados para acolher o Messias que serve, que entende
servir quem manda;
- A
grandeza está em colocar-se ao serviço dos outros;
-
Ajoelhar diante de Deus, em adoração, e diante dos irmãos para lhes lavarmos os
pés;
- Jesus
não pode com a nossa inatividade, tem de contar connosco, ultrapassando a
apatia e a indiferença, fechando-nos aos outros ou com a desilusão por sermos
incompreendidos;
- Não
vale a pena desculpar-nos com os erros dos outros, temos de colaborar na busca
de soluções, temos de aprender a colaborar;
-
Serviço ou poder? Da pirâmide do poder ao círculo de irmãos;
- Temos
de superar a ‘lei da selva’ – os mais fortes vencendo os mais fracos – pois a
violência é a atitude diabólica por excelência;
- Na
discussão sobre quem era o maior, Jesus coloca nesse círculo uma criança: o
serviço de Deus passa pelo serviço aos irmãos;
-
Ultrapassar o dogmatismo de grupos, quando um grupo se apodera do poder;
-
Administrar os dons ao serviço de Deus;
-
Atitude de serviço e de misericórdia: a importância está em mim ou na
comunidade, que somos chamados a servir?
-
Espetadores, utentes, consumidores… ou ativos ao serviço dos outros;
- Eu
sirvo para servir? Decidir o estilo da nossa participação…
= De
facto, temos de saber discernir que Igreja somos e que modelo queremos
prosseguir. Podemos ter andado a falar duma coisa e a fazer o seu contrário.
Podemos ter boas ideias, mas parece que temos dificuldade em concretizar os ideais.
Podemos (até) ter andado a fomentar um certo ajoelhar de forma incorreta…
Mais de
meio século após o Concílio Vaticano II dá a impressão que não deixamos
fermentar o modelo de Igreja-comunhão, podendo ter ficado meramente na
discrição duma Igreja popular, mas não convertida aos desafios do lava-pés.
Podemos até fazer a ‘cerimónia do lava-pés’, na Quinta-feira santa sem termos
ainda entrado no espírito de serviço do Messias servo e mestre.
=
Atendendo às vertentes das ‘catequeses quaresmais’ de D. José Ornelas parece-me
que ainda não entramos, na sua maioria, no sentido profundo e verdadeiro desta
iniciativa, dado que não temos sido capazes de secundarizar as nossas ações
paroquiais para entrarmos numa sintonia diocesana em volta do nosso Bispo. Esta
graça de podermos fazer um caminho comum e complementar precisa de ser mais
cuidada por todos… mesmo pelos padres e responsáveis de movimentos da
Igreja…Não basta estar quando devo por razão de que a minha vigararia/paróquia
ou movimento tem de estar, é preciso perceber o quadro geral desta formação
diocesana, aprendendo a saber servir segundo os dons, carismas e qualidades… A
Igreja de Setúbal merece e precisa!
António
Sílvio Couto
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