Numa
sessão de esclarecimento aos seus militantes, o atual primeiro ministro, deu os
seguintes conselhos aos eleitores/cidadãos: a não fumar, a não andar de carro
próprio (mas de transportes públicos) para não gastar gasolina/gasóleo,
moderarem o recurso ao crédito… tudo isto e algo mais em ordem a pagar menos
impostos, colhendo a reversão das medidas implementadas – ao que parece pelo
governo – noutras áreas da fiscalidade.
= Esta
atitude do atual primeiro ministro faz recordar outros conselheiros em tempo de
governação, seja na América Latina, seja nas conversas em famílias do anterior
regime, pois os cidadãos ‘precisam’ de quem lhes indique o caminho mais certo
para pouparem e conseguirem os bons intentos das suas vidas e das suas
famílias!
= Dá a
impressão que certas pessoas não conseguem distinguir entre a popularidade e o
populismo, se bem que se deva dizer antes popularucho… Torna-se, assim, mais
claro que o paternalismo de Estado continua a figurar no imaginário (ou será fantasmagórico?)
de certos governantes, deixando escapar algum dirigismo que se pensava
ultrapassado pelos quarenta anos de (pretensa) democracia.
= Por
muito que se queira desculpar a infeliz intervenção do primeiro ministro em
exercício, isto denota que algo vai mal no reino da democracia portuguesa, pois
se fosse dito por outro interveniente seria alvo de ridicularização e este
senhor – e outros – diz isto e insinua muito mais e nada lhe acontece: está
protegido por uma certa penumbra de aduladores que ainda não perceberam que a
inteligência dos portugueses é mais acutilante que a esperteza de quem os tenta
governar… aos soluços.
= Depois
de serem rotulados de ‘ricos’ os que ganha mil e cem euros, depois destes
conselhos à poupança, depois de vermos as contas do orçamento a serem
maquilhadas para EU ver e aceitar, teremos de perguntar se ainda podemos ter
espaço para pensar sobre o que mais nos irá acontecer em breve, pois campos
para intervir não faltam…
= Em vez
de se falar da sobrevivência da segurança social, de ser criado um pacto para a
educação, de investir na criação de emprego a sério (não nas conjeturas e nas
lavagens de números dos centro de emprego), na revisão urgente do sistema
eleitoral, na aceção e execução da justiça, da boa saúde… vemos estes
fait-divers de quem vai dando mostras de impreparação para o cargo e de
incapacidade de criar sinergias entre os portugueses.
=
Afinal, quem são os ricos: os que têm carro e pagam o combustível a peso de
ouro? Quem define a ‘classe média’, a capacidade de consumo ou a mediania dos
critérios de gastar? Quem faz a moralização da política, os mentores da
economia ou a valorização dos critérios de vida? Até onde irá a ousadia de dar
conselhos: teremos uma nova moralidade coletivista?
= Com os
conselhos do primeiro ministro, talvez consigam sobreviver as empresas de
transportes públicos e os sindicatos tenham um renascimento no tecido social e
económico do país, pois se mais cidadãos lhes prestarem culto mais poder terão
para condicionar a vida coletiva…
= Sr.
Costa: obrigado, mas – digo por mim – dispenso os seus conselhos… até porque só
me afeta no preço da gasolina…
António
Sílvio Couto
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