O
programa do atual governo e as grandes opções do plano para a legislatura de
2016-19 preveem o alargamento da escola para os alunos/as até aos quinze anos
das 8.30 horas à 19.30 horas, numa ‘generalização da escola a tempo inteiro em
todo o ensino básico’, como noticiou um jornal por estes dias.
Segundo
fontes citadas pelo referido jornal, os pais, diretores de escolas e certos
especialistas em educação aplaudem tal medida...embora ressalvem que essa
ocupação deva ser de qualidade.
Num
primeiro aspeto, a justificação de tal alargamento de horário tem a ver com
adequação com o horário de trabalho dos pais e em que a presença dos filhos na
escola não se reduz apenas a uma parte do dia.
= Há, no
entanto, perguntas – de âmbito geral e mesmo de funcionamento – que se podem e
devem fazer: quanto custa (em funcionários, professores ou técnicos) e quem vai
pagar este alargamento do horário escolar? Sendo um serviço da escola (dita)
pública, as famílias terão de suportar algo mais para o seu funcionamento? À
semelhança do que aconteceu, em 2006, com medida idêntica para o primeiro
ciclo, como vão as autarquias participar neste alargamento? Que áreas (extracurriculares)
serão abrangidas por esta mudança? Mais tempo na escola significará maior carga
letiva em disciplinas curriculares?
= Esta
questão de estender o tempo – onze horas – dos alunos na escola pode, no
entanto, colocar outras questões bem mais exigentes, não só para com a
organização das escolas, mas sobretudo no questionamento do modelo de
aprendizagem que está em curso e das implicações da ausência dos filhos à
família, bem como nas incidências educacionais estruturantes da própria
sociedade.
De quem
são os filhos: dos pais (mãe e/ou pai) ou do Estado? Quem tem a tarefa de
educação, quem gera ou quem ensina? Por que será que o Estado/governo está a
interferir com a gestão do tempo dos mais novos em idade de escolarização, por
poder próprio, arbitrário e tutelar ou por delegação da família de forma
consentida, supletiva e delegada?
=
Atendendo a ideais já da I República temos de estar atentos – talvez mais vigilantes
do que desconfiados – sobre este poder de interferência sobre a educação dos
filhos. De facto, já vimos noutras latitudes e regimes a ‘nacionalização’ dos filhos
pelo Estado, obrigando a que os pais se amoldem aos objetivos de quem captura os
filhos para o serviço dos seus intentos e, nalguns casos, para uma capciosa
prossecução da conduta dos filhos ao serviço do coletivo e não seguindo um
modelo de transmissão de valores da família e na família como a principal
escola da vida...
E nem
será totalmente desadequado questionar a promoção do trabalho dos pais,
tentando fornecer-lhes múltiplas seduções de maior consumo, que só será
conseguido com mais tempo fora do espaço familiar e com o consequente abandono
dos direitos e dos deveres de pais... E o Estado-paternalista cuidará de dar
aos filhos tempos de substituição, que a longo prazo colherão como frutos de
negligência da família?
Quantas
vezes é depois daquela fase de instrução (até aos 15 anos) que os valores humanos
e culturais se desenvolvem… Quantas vezes será preciso dar espaço à imaginação
dos estudantes e não será com aquela carga horária que se vai encontrar o
melhor de cada um… Quantas vezes será preciso estar muito atento para denunciar
as tentativas de subterfúgio de forças anti-família, pelo menos no conceito
judaico-cristão…
Estaremos
alerta.
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário