Foi com
um misto de incredulidade e de estupefação que ouvi o secretário de estado
(talvez) das finanças ou de matéria aproximada dizer que, quem aufere de
ordenado mil e cem euros, é considerado ‘rico’, entrando, assim, num novo
escalão do irs…
Ora, sem
denunciar as minhas fontes de rendimento – naturalmente parcas como
padre/pároco, embora suficientes dentro da preparação ministrada no contexto
católico de vivência do ‘espírito da pobreza’ – comecei a fazer as minhas titubeantes
contas e dei por mim a ficar na barreira daquele montante do ínclito
governante… e só me faltam cinquenta euros para ter o estatuto de ‘rico’,
segundo tão dogmático conceito! Mesmo assim não deixarei de ser, possivelmente,
taxado pela bitola do fisco com todas as suas artimanhas e recorrências…
= Dá a
impressão que certas pessoas pedem o (mínimo) tino quando investidas em poder e
ousam proferir declarações tão estouvadas, das quais se virão a envergonhar em
breve, tal é a desfaçatez do dito e, sobretudo, do pretendido… Com efeito, não
vale tudo para tentar lavar a incompetência, seja das ideias, seja das medidas
tentadas implementar. Que não estejam (ou estivessem) preparados para governar
nesta fase do país, percebe-se, pois o assalto ao poder foi tão agressivo que
nem houve tempo de olhar a meios e a recursos. Que tenha sido preciso encontrar
quem estivesse disponível para preencher o elenco governativo – o maior desde a
revolução de 25A – e se tivesse chegado à boca de cena quem nem estava preparado,
compreende-se, embora não seja aceitável. Que seja preciso atirar para a arena
gente (dita) competente noutras áreas, mas que do saber político nada tem de
suficiente, isso já não será (tão) razoável.
= Há
pessoas que – historicamente e com dados – nunca souberam governar a própria
casa, como poderão tentar conduzir o país, a nossa casa-comum? Há pessoas que
estão habituadas a gastar sem fazer contas àquilo que se têm de verdade, como
poderão assumir a tarefa de não exagerar nos gastos, mesmo que isso possa ser
dispensável e escusado? Como poderemos entender certas posições tão perentórias
com que algumas figuras do governo olham, displicentemente, o vulgo dos outros
cidadãos? Será que se sentem acima dos outros ou, quando, investidos em poder, pretendem
pisar quem se lhes oponha, mesmo que de forma racional e civilizada?
= A
história não irá registar tanta mediocridade, por breve trecho ocupando os
espaços do exercício da governação, pois já vimos demasiados outros arrogantes
caírem à primeira dificuldade, tornando as suas certezas motivo de substituição
e/ou de aniquilamento…político. Isto das contas requer muita competência e razoável
humildade, pois até podem enganar-se na colocação dos dados na tabela de excel!
Por isso, foi com preocupação do nosso futuro coletivo como país e, sobretudo,
como nação que vimos, nesta saga dos dados para o OE2016, aparecerem tantas
contradições matemáticas/económicas e ideológicas… dando o dito por não dito e
a ‘palavra dada’ por não-honrada!
= Porque,
cada vez mais, precisamos de ser governados por gente competente e séria,
legitimada e sensata, livre e servidora do bem comum, acreditamos que, muito em
breve, há de ser destronado, de forma democrática, quem nos vai enganando com este
serviço de ‘chá e bolos’ (qual será a tabela do iva?)… enquanto nos vão (ainda)
metendo a mão no bolso de forma indireta, acintosa e a médio prazo.
Afinal,
são sempre os pobres – com vencimentos até oitocentos euros/mês – que pagam a
crise!
António Sílvio Couto
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