A
‘maioria’ que suporta o governo perdeu a memória ou, então, tem consultado um
dicionário onde as palavras tem sinónimos conforme lhe convém ou com
significados a gosto. Diziam que iam acabar com a austeridade, mas introduziram
no orçamento medidas ainda mais duras do que os anteriores. Ou será que por
virem de quem vem – a tal dita esquerda, a quem tudo é permitido sem laivos de
contestação! – já perderam o sentido de contenção, de novos impostos, de
acrescento ao iva, de sobretaxas sobre os combustíveis, de adiamento de medidas
de rigor em contraste com benesses mal explicadas e obscuras?
A cassete de certas forças partidárias já não colhe porque o empobrecimento continua, a delapidação dos recursos não abranda, os aumentos de salário foram (e são) fictícios, o poder de compra (consumo e afins) continua a minguar em vez de se afirmar nas pretensões dos cidadãos… Nem a derrota nas mais recentes eleições os fez cair do pedestal de manipulação.
Se algo
mudou foi a agressividade de certa comunicação social – comprada por forças sem
rosto e sem caráter – que agora, passados quatro meses das eleições
legislativas e duas semanas das presidenciais, continua a esconder os reais
factos da política económica de quem está no poder, continua a dizer parte da
verdade – mesmo nas negociações com quem nos empresta o dinheiro para pagar as
mordomias dos que mandam – colocando certas figuras a distrair-nos da situação
de colapso a que chegamos… ou, talvez, de onde nunca saímos, de verdade nem
sairemos a médio prazo.
= Tendo
em conta que estamos inseridos no espaço europeu não podemos fazer (só) o que
nos apetece nem bater o pé a quem nos dá – ou pode ainda dar – condições para
sermos algo mais do que insignificantes no contexto mundial. Não será com
mentiras que irão convencer quem quer mais do que subterfúgios às contas mal
feitas. Não será com ataques e arremedos de inflexibilidade que iremos atrair
novos investimentos ou que evitaremos que os que por cá estão não mudem de
ares. Não será com governantes que gritam sem razão que conseguiremos ter razão
nos momentos de aflição. Não será com pessoas que olham mais para o passado que
poderemos construir um futuro mais desafogado. Não será só combatendo os ricos
que criaremos riqueza, mas antes faremos surgir novos pobres estruturais e não
meramente conjunturais.
= Há
coisas que me fazem muita impressão: Porque será que os sindicatos conseguem,
prioritariamente, desfazer as empresas em vez de criarem, responsavelmente,
novos postos de trabalho? Porque será que certos partidos conseguem passar
imunes às responsabilidades de destruir o tecido económico e não são
responsabilizados pelo que destroem direta e indiretamente? Quem poderá
distribuir riqueza se não a constrói? Que seria de certas forças se lhes retirassem
o escol de pobres que vão tendo à sua volta?
= De
facto, o combate à austeridade tem servido para consagrar muitos
incompetentes…alguns até já atingiram o poder. Mas o rigor esse não convence
quem teme ser avaliado, examinado e mesmo escrutinado. Não se pode meramente
contestar a austeridade, se não houver rigor nas contas e nas
responsabilidades. De pouco adiantará combater a austeridade sem rigor se tal
for para enganar os incautos e eludir os menos bem avisados. Por muito que nos
custe temos de saber viver com os meios disponíveis e subverter o essencial
será, no mínimo, comprar novas medidas de austeridade e de maior rigor a muito
curto prazo.
Digam já
a verdade e não andem a apalhaçar o que não conseguem garantir!
António Sílvio Couto
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