Como
noutros anos, em 2015, foi feita a votação/escolha da palavra mais
importante/usada durante o ano… e a escolha foi: ‘refugiado’.
Vejamos
em decrescendo como foi a escolha da palavra do ano no último quinquénio: em
2014 – corrupção; em 2013 – bombeiro; em 2012 – entroikado; em 2011 –
austeridade; em 2010 – vuvuzela.
Na
votação e na escolha destas várias palavras do ano reflete-se o ambiente em que
se foi vivendo… e que, decorridos, esta meia década, nos dá (ou pode dar) uma
leitura circunstancial daquilo que vamos vivendo e valorizando em cada ano…
Assim,
este ano o resultado de ter sido escolhida como palavra do ano – ‘refugiado’,
dá-nos a conhecer que a realidade dos refugiados foi transversal à nossa
sociedade, que, para mal ou para bem, a situação dos refugiados não passou
despercebida ou talvez tenha vindo incomodar a consciência e a vida de tantas
pessoas…
= A onda
de refugiados continua, embora não tanto sob a atenção dos focos da comunicação
social. Houve países que tiveram de enfrentar esta situação duma forma
inesperada e sem condições de receção nem de acolhimento. Mas muitos dos
refugiados tinham na mira da sua caminhada países ‘mais ricos’ da Europa do
norte, onde a política social lhes era – parece que agora está a mudar a forma
de os atender – mais favorável e compensadora.
Não
deixa de ser sintomático que Portugal tendo-se disponibilizado para receber –
acolher poderá ser outra coisa! – mais de cinco milhares de refugiados não
tenham chegado pouco mais do que umas centenas (se as contas estiverem bem
feitas), a conta-gotas e, nalguns casos, mais parecendo um favor que nos fazem
do que um gesto de boa vontade de quem (os) recebe… Talvez não tenhamos as
regalias que oferecem Alemanha ou Suécia, mas somos, por natureza, bons
hospitaleiros… No entanto, isso não tem sido suficiente para sermos atrativos
no contexto da Europa…
= Esta
nova vaga de refugiados trouxe uma outra onda de xenofobia nalguns países
europeus, ressuscitando fantasmas contra quem procura novas condições de vida,
fugindo em razão de dificuldades económicas – embora os que veem sejam dos mais
afortunados, pois tiveram meios para comprar a viagem – ou, nalguns casos, por
motivos de salvaguardar a vida tendo em conta a fé religiosa, tanto cristã como
muçulmana.
Foi algo
de tenebroso ver que a resistência a receber alguns dos refugiados tinha por
base o medo das expressões religiosas de índole islamita… Pior foi associar
essas relutâncias aos casos de terrorismo e a possíveis problemas de insegurança.
Nisto, como noutros casos, não podemos meter tudo no mesmo saco e confundir o
que é realidade com os preconceitos mais ou menos ideológicos e sectários.
= O
presente e o futuro têm de ser preenchidos com motivos de esperança de que os
refugiados não são só um perigo para a nossa vidinha de ocidentais instalados e
comodistas. Com efeito, ao inverno demográfico vemos surgir uma (possível)
solução para serem geradas novas vidas nesta Europa empobrecida porque
enquistada no seu mundo feito de egoísmo e até sem largueza de horizontes… São
famílias inteiras que vão chegando e isso pode criar novos desafios e
possibilidades de rejuvenescimento humano e social.
Talvez
tenha chegado o momento de estarmos mais atentos aos sinais de Deus na nossa
história coletiva. Talvez devamos abrir o coração a quem chega e exercermos o
dom da hospitalidade sem medos nem receios. Talvez nos seja colocada uma
confrontação com a decadência dos valores espirituais em que temos vindo a cair
de forma galopante e quase acintosa.
= Está
na hora de tocar a vuvuzela contra a austeridade, que nos foi servida pela
situação entroikada, mesmo que tenhamos de atuar como bombeiros contra a
corrupção, mas numa abertura aos refugiados…aqui ou noutro espaço onde seja
preciso acolhê-los de coração fraterno, solidário e misericordioso!
António
Sílvio Couto
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