Foi
notícia, por estes dias: o Estado português (concretamente através do
ministério dos negócios estrangeiros) gastou, no último mês, mais de cem mil
euros na aquisição de talheres e copos… Dizem ainda que, nos seis meses
anteriores (envolvendo mesmo o governo anterior), foram gastos até trezentos
mil euros em idênticos apetrechos, tais como pratos, cálices e faqueiros…de
marca e com registo gravado.
= Embora
consideremos que, de vez em quando, é preciso renovar a baixela, não sei se
este era o momento mais adequado… ou até a forma de o concretizar. Quando
tantas pessoas não têm o suficiente para se alimentarem, era necessário
investir aqueles montantes em coisas tão caras? Quando dizem que a austeridade
deixou marcas nas famílias, como poderemos entender este esbanjamento em coisas
deste teor? Quando querem fazer crer que estamos melhor das economias e se
preparam para contestar as exigências dos credores, como poderão estes
levar-nos a sério se virem que não somos capazes de disfarçar um tal
novo-riquismo falido?
=
Nota-se em certas pessoas que estão, por agora, investidas em governo – seja
qual for a instância – que, quando se sentem com uns trocos a mais, não
conseguem poupar, gastando o excesso na primeira guloseima que lhes for oferecida.
Será este o nível de consumo com que nos vão conduzir nos tempos próximos? Será
com enganos de estar tudo ultrapassado que nos iremos recuperar da falência
familiar e coletiva? Não será este indício de gastar em talheres o que (nos)
pode fazer falta em comida, um retrato da maioria da nossa população,
tipificada no gasta-se enquanto há e depois anda-se a mendigar para o
essencial?
= Se
isto – dar, esbanjando – é uma amostra do pretenso ‘estado social’ e das ‘opções
sociais de esquerda’, então teremos de fazer uma urgente reeducação de tudo e
de todos, pois tal atitude manifesta, pelo contrário, falta de senso e de desprezo
dos outros. Não podemos exigir aos outros aquilo que nos compete fazer,
cuidando da responsabilidade pessoal e do assumir as consequências de si e dos
seus atos. Como poderemos acreditar em quem gere mal o dinheiro – com as
influências, as pressões e tudo o resto – próprio, como será capaz de gerir bem
o alheio?
= Neste
episódio, como em casos idênticos, estamos perante um de dois tipos de pessoas:
umas que sempre tiveram tudo e dinheiro foi coisa que não faltou e, por isso,
gastar mais ou menos depende dos humores…na medida em que não custou a ganhar
também não custa a gastar; ou de outro tipo de pessoas que passaram por grandes
dificuldades, nalgumas situações como self-made-man, e que agora como que
pretendem esquecer as dificuldades vividas e vão dando aso à supressão de
compensações minimamente aceitáveis, embora gastando o que é dos outros… sem
prestar, devidamente, contas.
= À
guisa de provocação refira-se a reposição de subvenções de políticos –
anteriormente rejeitadas – tomada pelo tribunal constitucional, que respondeu a
uma consulta de um (até agora) grupo de deputados não identificado! Será isto
sério? Estarão os juízes a acautelar o seu próprio futuro? A quem servem estas
subtilezas? Quem vai pagar a estes ‘reformados’ (alguns com menos de 40 anos)
de luxo?
Não
custa nada a crer, pelo andar deste tempo de governo, que, em menos de um ano,
teremos nova intervenção de credores externos, pois já vimos este filme há bem
pouco tempo e o final costuma ser o mesmo: o povo que pague a crise… Só que, nesse
momento, as feridas ainda estarão a sangrar!
Basta de
mentira e de vendedores de ilusões… Não devem ser só as eleições a forma de
castigar os incompetentes: os tribunais precisam de atuar de forma mais rápida
e muito mais dura!
Por
agora foram os talheres… amanhã será o quê?
António Sílvio Couto
(antonioscoutosilva@gmail.com)
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