«Este é
o país real, o país verdadeiro, que muitos agentes políticos desconhecem, [e] que
a comunicação social tantas vezes ignora».
Esta
frase ficou-me da última comunicação ao país do atual Presidente da República.
Por
estes dias o Papa Francisco referiu também que a comunicação social nem sempre
– ou quase nunca! – difunde notícias positivas, antes vai recorrendo à
propagação daquilo que há de mais negativo das pessoas e das situações.
Embora
sem interdependerem um do outro nas palavras e nas ideias, podemos encontrar no
discurso de Cavaco Silva e nas observações do Sumo Pontífice da fé católica uma
similitude de avaliações e mesmo numa consonância de razões.
De
facto, é mais fácil vermos a ser falada uma determinada localidade – grande ou
pequena, recôndita ou mesmo desconhecida – mais pela tragédia e onde aconteceu
algo de escabroso, insólito ou disparatado do que por ações de bem-fazer que
ficam escondidas no reduto de quem as viveu (ativa ou passivamente)… Aqui entendemos
essa outra frase recorrente: o bem não faz barulho e o barulho não faz bem!
Ainda
recentemente lemos que houve um endereço de face-book, que pretendia difundir
só assuntos positivos, em muito pouco tempo (dois ou três meses), ficou
paralisado por falta de elementos que pudessem torná-lo ativo e cativante… pois
não havia quem o alimentasse noticiosamente!
=
Perante estes elementos de reflexão como que nos fica – até pela vivência de
décadas de ligação à área da comunicação social – a necessidade de colocar
algumas questões, denunciando os promotores duma certa comunicação social que
se atem aos episódios macabros e criadores de má influência… e, sobretudo,
tentando gerar uma ‘tal’ visão do interesse público, que não se reduz ao que dá
dinheiro e que vende em razão de ir divulgando e manipulando – como certas
forças materialistas e de pseudoesquerda fazem por sistema – do ‘quanto pior,
melhor’!
- O país
será só a cintura das grandes metrópoles de Lisboa e do Porto ou, por outro
lado, o interior (que envolve dois terços do território nacional) não merece
que seja falado porque despovoado, subtilmente, à força?
- Os
arranjismos de criminalidade – sofisticada, urbana e subterrânea – interessam a
quem? As polícias têm autoridade para fazer o seu trabalho ou vivem do
sucesso/insucesso dos mentores partidários?
- Porque
foram obrigados, tantos – vindos de África e de outras paragens – que tentaram
refazer a sua vida no nosso país, a vegetar nas franjas das áreas
metropolitanas? Serão mais fáceis de instrumentalizar em maré de greves de
transportes?
- Dizem
que cresceu, teoricamente, a escolarização, mas porque é que não se vê que as
pessoas pensam por si mesmas e, pelo contrário, ainda andam presas pela boca,
sendo usadas por partidos e sindicatos, associações e entidades religiosas?
= Se
tivéssemos de avaliar o país/nação que somos – dentro das fronteiras e na
diáspora – podemos vê-lo retratado nas cenas – desde as imagens até às palavras,
passando por outros acepipes – das reportagens da ‘passagem-de-ano’. Comer e
beber, divertir-se e bailar, desejos ocos e intenções de curto-prazo… foram
servidas à saciedade, pois quem faz a notícia leva a fazer crer que (já) chegou
um certo oásis, que, em breve, vai tornar-se (desgraçadamente) pesadelo.
Será
este o país real? Não digam que ainda há crise se foram gastos – segundo as
contas ‘a custo zero’, isto é, na rua e sem entradas pagas – milhões em
foguetório, em artistas, em roupas e adereços…para além das horas de promoção
informativa.
Para
quando uma apresentação digna da nossa condição, sem exageros nem compadrios?
Para quando vermos surgirem questionamentos à vida superficial de tantos que
gastam numa noite de farra – ou numa tarde de futebol – o que seria preciso
para suportar a família no mês inteiro? Informar exige saber e humildade! O
resto poderá ser tido como manipulação (meia verdade) e obscurantismo (meia mentira)…
António Sílvio Couto
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