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sábado, 2 de janeiro de 2016

Difusão dum país irrealmente…negativo!


«Este é o país real, o país verdadeiro, que muitos agentes políticos desconhecem, [e] que a comunicação social tantas vezes ignora».
Esta frase ficou-me da última comunicação ao país do atual Presidente da República.
Por estes dias o Papa Francisco referiu também que a comunicação social nem sempre – ou quase nunca! – difunde notícias positivas, antes vai recorrendo à propagação daquilo que há de mais negativo das pessoas e das situações.
Embora sem interdependerem um do outro nas palavras e nas ideias, podemos encontrar no discurso de Cavaco Silva e nas observações do Sumo Pontífice da fé católica uma similitude de avaliações e mesmo numa consonância de razões.
De facto, é mais fácil vermos a ser falada uma determinada localidade – grande ou pequena, recôndita ou mesmo desconhecida – mais pela tragédia e onde aconteceu algo de escabroso, insólito ou disparatado do que por ações de bem-fazer que ficam escondidas no reduto de quem as viveu (ativa ou passivamente)… Aqui entendemos essa outra frase recorrente: o bem não faz barulho e o barulho não faz bem!
Ainda recentemente lemos que houve um endereço de face-book, que pretendia difundir só assuntos positivos, em muito pouco tempo (dois ou três meses), ficou paralisado por falta de elementos que pudessem torná-lo ativo e cativante… pois não havia quem o alimentasse noticiosamente!

= Perante estes elementos de reflexão como que nos fica – até pela vivência de décadas de ligação à área da comunicação social – a necessidade de colocar algumas questões, denunciando os promotores duma certa comunicação social que se atem aos episódios macabros e criadores de má influência… e, sobretudo, tentando gerar uma ‘tal’ visão do interesse público, que não se reduz ao que dá dinheiro e que vende em razão de ir divulgando e manipulando – como certas forças materialistas e de pseudoesquerda fazem por sistema – do ‘quanto pior, melhor’!
- O país será só a cintura das grandes metrópoles de Lisboa e do Porto ou, por outro lado, o interior (que envolve dois terços do território nacional) não merece que seja falado porque despovoado, subtilmente, à força?
- Os arranjismos de criminalidade – sofisticada, urbana e subterrânea – interessam a quem? As polícias têm autoridade para fazer o seu trabalho ou vivem do sucesso/insucesso dos mentores partidários?
- Porque foram obrigados, tantos – vindos de África e de outras paragens – que tentaram refazer a sua vida no nosso país, a vegetar nas franjas das áreas metropolitanas? Serão mais fáceis de instrumentalizar em maré de greves de transportes?
- Dizem que cresceu, teoricamente, a escolarização, mas porque é que não se vê que as pessoas pensam por si mesmas e, pelo contrário, ainda andam presas pela boca, sendo usadas por partidos e sindicatos, associações e entidades religiosas?

= Se tivéssemos de avaliar o país/nação que somos – dentro das fronteiras e na diáspora – podemos vê-lo retratado nas cenas – desde as imagens até às palavras, passando por outros acepipes – das reportagens da ‘passagem-de-ano’. Comer e beber, divertir-se e bailar, desejos ocos e intenções de curto-prazo… foram servidas à saciedade, pois quem faz a notícia leva a fazer crer que (já) chegou um certo oásis, que, em breve, vai tornar-se (desgraçadamente) pesadelo.
Será este o país real? Não digam que ainda há crise se foram gastos – segundo as contas ‘a custo zero’, isto é, na rua e sem entradas pagas – milhões em foguetório, em artistas, em roupas e adereços…para além das horas de promoção informativa.
Para quando uma apresentação digna da nossa condição, sem exageros nem compadrios? Para quando vermos surgirem questionamentos à vida superficial de tantos que gastam numa noite de farra – ou numa tarde de futebol – o que seria preciso para suportar a família no mês inteiro? Informar exige saber e humildade! O resto poderá ser tido como manipulação (meia verdade) e obscurantismo (meia mentira)…


António Sílvio Couto

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