«A
família continua a ser o caminho privilegiado para a plena humanização daqueles
que nascem, o caminho que pode evitar os excessos desumanos de uma sociedade
híper técnica e híper individualista. A família – inclusive poder-se-ia dizer
que graças a seus defeitos e limitações – permanece o lugar da vida, o lugar do
mistério do ser, o lugar da prova e da história. A sua singularidade faz com
que a família seja um insubstituível património da humanidade».
Esta
afirmação foi proferida pelo Presidente do Conselho Pontifício para a Família,
em Albufeira, no decorrer das jornadas de atualização do clero das dioceses do
Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que se realizam de 25 a 28 de janeiro,
subordinadas ao tema: família – centralidade, renovação e continuidade.
D.
Vicenzo Paglia teve algumas intervenções neste evento, que reuniu mais de uma
centena de sacerdotes e diáconos.
Dada a
sua responsabilidade, no contexto da família ao nível mundial e na Igreja
católica em particular, D. Vicenzo falou, sobretudo, da vocação e missão da
família na Igreja e no mundo contemporâneo. Atendendo aos conhecimentos
aportados referiu que, talvez até à Páscoa, tenhamos uma nova exortação do Papa
sobre o assunto da família, tendo em conta os mais recentes sínodos, que se
realizaram em 2014 e em 2015.
Citamos,
novamente, o Presidente do Conselho Pontifício: «Família e comunidade cristã
precisam de encontrar uma aliança, não com o fim de se fechar no seu círculo,
mas para que fermente de forma ‘familiar’ toda a sociedade. As famílias e as
paróquias têm de redescobrir o sonho de Deus para o mundo (…). No cenário de um
mundo marcado pela tecnocracia económica e a subordinação da ética à lógica do
lucro, é estratégico voltar a apresentar o Evangelho da família como força do
humanismo. A família tem de voltar a ocupar o centro da política, da economia e
da convivência civil: a família é decisiva para a habitabilidade da terra, para
a transmissão da vida, para as relações na sociedade. A família cristã é uma profecia
de amor num mundo de solitários».
=
Tentemos discernir alguns dos aspetos contidos nos excertos da comunicação de
D. Vicenzo Paglia, numa observância de condicionantes à luz dos mais recentes
acontecimentos da nossa vida política, social, económica e religiosa.
. O património são as pessoas – quando tantos tentam cuidar mais
de artefactos de sabor material…naquilo que ao património diz respeito, vemos
que será na família que se poderá salvaguardar o que há de mais intrínseco à
nossa natureza humana e comunitária. Quanta história rica de valores e de
vivências percorrem as nossas famílias. Quantas belezas escondidas nas feridas
e amarguras do passado comum. Quantas vitórias crepitam sob as cinzas e as lágrimas
do nosso presente. Com efeito, não poderemos reduzir a família às experiências
traumatizadas. Não poderemos desistir de algo que nos faz ter sentido de
sacrifício e de luta pelo ainda melhor! Não podemos deixar que outros decidam o
que a nós diz respeito!
Há
múltiplos sinais de esperança…embora as nuvens de ataque sejam constantes. Os
temas fraturantes recorrentes não passam, afinal, de fait-divers de uns tantos
para esconderem a incompetência governativa e a incapacidade em efetivamente
governar, já.
. Voltar ao Evangelho da família – quando um certo (ou muito)
egoísmo tem vindo a fechar ou a encurralar a família, temos de redescobrir a
força de humanismo em que está alicerçada a família, particularmente, a de
incidência e raiz judeo-cristã. Não basta denunciar que já não há filhos nem
que se não tem abertura ao dom da vida, temos de continuar a apostar na
evangelização do testemunho, onde as famílias sejam capazes de se abrirem à
vida dada e recebida.
De
facto, há de ser a profecia de amor que fará derreter os corações mais
empedernidos e as mentes mais adversas… Nas diversas idades da vida havemos de
ter propostas de anúncio enraizadas no Evangelho e sob a Pessoa de Jesus. Com
efeito, ‘uma sociedade de indivíduos autorreferenciais, isolados uns dos outros
está destinada à esterilidade e ao conflito’. Somos chamados, de verdade, a
participar com Deus no seu projeto de salvação para o mundo… aqui e agora!
António
Sílvio Couto
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