Uma
organização britânica de apoio e aconselhamento para crianças e jovens
considera que a autoestima baixa é um dos problemas mais comuns dos jovens, na
maioria dos casos devido à pressão da internet, concretamente do cyberbullying
e das redes sociais.
Segundo
a fundadora da ChildLine, em 1986, deu-se um choque ‘ao descobrir que tantas
crianças estavam a sofrer abusos terríveis nas suas próprias casas. Mas hoje
estou chocada pela infelicidade e solidão aguda que aflige tantos jovens’.
Outro responsável da mesma associação refere que ‘a pressão para acompanhar
amigos e ter a vida perfeita online está a aumentar a tristeza que tantos
jovens sentem diariamente’.
Enquanto
em 1986 as maiores inquietações dos jovens eram o abuso sexual, problemas
familiares, abuso físico e gravidez, nos últimos anos têm vindo a ser: as
relações familiares, a baixa autoestima, a infelicidade, bullying,
cyberbullying e automutilação.
= Comunicação isolada… Fatores de
concorrência
Sem
pretendermos diabolizar as gerações mais novas, vemos que há bastantes sinais
de preocupação para com eles. Sem pretendermos entrar em qualquer
protecionismo, vemos que estão submetidos a grandes pressões deles mesmos e uns
pelos outros. Sem pretendermos encontrar culpados nem fomentar desculpas, vemos
que muitos sofrem e precisam de ajuda, conforto e quem os guie…
O mito
do ‘sempre contatável’ sofre, afinal, de algo que tem vindo a isolar cada vez
mais as pessoas, tanto os mais novos como os mais velhos. Com efeito, vivemos
numa época em que, por termos acesso a mais fatores de informação, nem sempre
isso nos dá melhor qualidade de comunicação, pois muita desta é estereotipada e
mesmo filtrada por razões mais ou menos incontroláveis para a maioria…
Há
imensos fatores de concorrência – desde as coisas mais pequenas e subtis até às
mais vistosas e complexas – mesmo entre os mais novos: a pressão de estar na
onda pode gerar pessoas que se tornem agressivas e desconfiadas. Aquilo que
antes era resultado de várias más experiências, agora parece tornar-se numa
forma de estar permanente. Parece que tudo isto acontece numa vivência isolada
por parte dos mais novos e em que os adultos não fazem parte nem do problema –
porque, infelizmente, o desconhecem – e tão pouco da solução!
= Como recuperar a confiança?
Diante
este diagnóstico, o panorama não é nada risonho, pois os mais novos sofrem e
parece que não têm com quem o partilhar. Vivem-no muito a sós… correndo riscos
um tanto complicados. Com efeito, há coisas que só se partilham quando e com
quem se tem confiança. De facto, a autoestima e a infelicidade têm conquistado
terreno entre os mais novos, havendo dados que as fazem crescer de forma
progressiva.
Não
basta dar coisas nem um mero conforto material, pois o mais importante é a
atenção que se dá e deve dar a cada um. Isso será tanto mais essencial quando
se está a estruturar a personalidade. O que será o futuro da nossa sociedade se
virmos, desde muito novas, as pessoas a sentirem-se derrotadas e sem terem quem
as estime com gestos e palavras?
Efetivamente
andamos muito ocupados com o urgente e esquecemo-nos do essencial. Queremos
prestar cuidado ao que reclama solução, mas andamos a adiar aquilo que nos
daria mais serenidade e melhor capacidade de entrega àquilo que conforta sem
preço e nem tem valor estipulado na tabela das coisas rentáveis.
Enquanto
é tempo, tentemos ser mais perspicazes na forma como observamos os mais novos,
pois eles dão-nos sinais de alerta e nem sempre os entendemos nem valorizamos…convenientemente.
Não será que a nossa juventude, apesar de tudo, é triste? Não será que certas
chamadas de atenção são fulcrais em serem escutadas…humildemente? Não será que
temos de apresentar os valores humanos essenciais para que possamos ter futuro
e dignidade?
Basta de
lamúrias. Cuidemos uns dos outros, já!
António Sílvio Couto
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