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segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Crianças infelizes…pela internet


Uma organização britânica de apoio e aconselhamento para crianças e jovens considera que a autoestima baixa é um dos problemas mais comuns dos jovens, na maioria dos casos devido à pressão da internet, concretamente do cyberbullying e das redes sociais.

Segundo a fundadora da ChildLine, em 1986, deu-se um choque ‘ao descobrir que tantas crianças estavam a sofrer abusos terríveis nas suas próprias casas. Mas hoje estou chocada pela infelicidade e solidão aguda que aflige tantos jovens’. Outro responsável da mesma associação refere que ‘a pressão para acompanhar amigos e ter a vida perfeita online está a aumentar a tristeza que tantos jovens sentem diariamente’.

Enquanto em 1986 as maiores inquietações dos jovens eram o abuso sexual, problemas familiares, abuso físico e gravidez, nos últimos anos têm vindo a ser: as relações familiares, a baixa autoestima, a infelicidade, bullying, cyberbullying e automutilação.

= Comunicação isolada… Fatores de concorrência

Sem pretendermos diabolizar as gerações mais novas, vemos que há bastantes sinais de preocupação para com eles. Sem pretendermos entrar em qualquer protecionismo, vemos que estão submetidos a grandes pressões deles mesmos e uns pelos outros. Sem pretendermos encontrar culpados nem fomentar desculpas, vemos que muitos sofrem e precisam de ajuda, conforto e quem os guie…   

O mito do ‘sempre contatável’ sofre, afinal, de algo que tem vindo a isolar cada vez mais as pessoas, tanto os mais novos como os mais velhos. Com efeito, vivemos numa época em que, por termos acesso a mais fatores de informação, nem sempre isso nos dá melhor qualidade de comunicação, pois muita desta é estereotipada e mesmo filtrada por razões mais ou menos incontroláveis para a maioria…

Há imensos fatores de concorrência – desde as coisas mais pequenas e subtis até às mais vistosas e complexas – mesmo entre os mais novos: a pressão de estar na onda pode gerar pessoas que se tornem agressivas e desconfiadas. Aquilo que antes era resultado de várias más experiências, agora parece tornar-se numa forma de estar permanente. Parece que tudo isto acontece numa vivência isolada por parte dos mais novos e em que os adultos não fazem parte nem do problema – porque, infelizmente, o desconhecem – e tão pouco da solução!

= Como recuperar a confiança?

Diante este diagnóstico, o panorama não é nada risonho, pois os mais novos sofrem e parece que não têm com quem o partilhar. Vivem-no muito a sós… correndo riscos um tanto complicados. Com efeito, há coisas que só se partilham quando e com quem se tem confiança. De facto, a autoestima e a infelicidade têm conquistado terreno entre os mais novos, havendo dados que as fazem crescer de forma progressiva.

Não basta dar coisas nem um mero conforto material, pois o mais importante é a atenção que se dá e deve dar a cada um. Isso será tanto mais essencial quando se está a estruturar a personalidade. O que será o futuro da nossa sociedade se virmos, desde muito novas, as pessoas a sentirem-se derrotadas e sem terem quem as estime com gestos e palavras?

Efetivamente andamos muito ocupados com o urgente e esquecemo-nos do essencial. Queremos prestar cuidado ao que reclama solução, mas andamos a adiar aquilo que nos daria mais serenidade e melhor capacidade de entrega àquilo que conforta sem preço e nem tem valor estipulado na tabela das coisas rentáveis.

Enquanto é tempo, tentemos ser mais perspicazes na forma como observamos os mais novos, pois eles dão-nos sinais de alerta e nem sempre os entendemos nem valorizamos…convenientemente. Não será que a nossa juventude, apesar de tudo, é triste? Não será que certas chamadas de atenção são fulcrais em serem escutadas…humildemente? Não será que temos de apresentar os valores humanos essenciais para que possamos ter futuro e dignidade?

Basta de lamúrias. Cuidemos uns dos outros, já!   

 

António Sílvio Couto

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