No fervilhar das coisas e loisas adstritas ao Natal vemos que há sinais que seriam perfeitamente dispensáveis e outros que foram progressivamente dispensados, daqueles observamos a proliferação de luzes e outros adereços, destes detetamos tudo quanto foi sendo ofuscado nas referências cristãs…
1. Vejamos alguns dos aspetos que seriam (serão) dispensáveis neste tempo de vivência do Natal ao final do primeiro quartel do século XXI: dizem que estamos em crise energética, mas nunca como agora encontramos tanto gasto e com propostas que parecem ser dispendiosas. Certas figuras e figurações são tão anódinas que poderiam ser usadas noutras festas quaisquer, tanto no tempo como nos lugares: estrelas e bolas, árvores e arbustos, músicas e adereços quase circenses, projetos e projetores, motivos e motivações tão insípidos que quase não dizem nada nem veiculam mensagem alguma…A ‘estrela’ é a de cinco pontas – com toda a conotação ideológica que carrega – não as de seis pontas, a ‘estrela de David’, possivelmente provocadora de sentimentos contraditórios aos da de cinco pontas… Certos ‘bichos’ que surgem em tantas das decorações seriam escusados, tal o anacronismo, dado que por cá não temos renas nem outros animais que povoam as mentes dos decoradores e publicitários no seu mundo infantil… O recurso ao ‘pai-natal’ tem tanto de abusivo, quanto de explorado pelo consumismo, esse que é fomentado, cultivado e servido em bandejas de ouro…falso. O ambiente de exaltação da comida-e-da-bebida como que denuncia um recuo na satisfação da necessidades primárias ou então um endeusamento do materialismo de vida e dos prazeres meramente biodegradáveis. Por quê e para quê tantos almoços e jantares de Natal, por estes dias: o resto do ano terá a marca que agora se pretende impingir?
2. Olhemos agora para alguns dos sinais nitidamente dispensados, mas que seriam (são) essenciais para a identidade e celebração do Natal. Desde logo as acesas luzes nem sempre apontam para a verdadeira Luz, Jesus, o salvador nascido em Belém. Pelo contrário, o culto feérico da luz como que ofusca o reconhecimento d’Ele como a Luz da vida. Talvez vale-se a pena explicar a palavra ‘natal’ (natalis) que significa nascimento…na tradição cristã mais elementar de Jesus, que se celebra a 25 de dezembro. Por isso, tudo quanto possa sair deste enquadramento será algo a roçar a manipulação dos termos e da História, mesmo que isso possa incomodar certas forças e ideologias. O pretenso feriado do ’25 de dezembro’ só tem sentido e significado porque nele celebramos o nascimento de Jesus. Não fomos nós – os cristãos – que impusemos esta data, ela é que se impôs à Humanidade, criando uma nova cultura e civilização. Denunciamos, então, o aproveitamento desta data para a fazer manipular com outros intuitos, mesmo os mais fraternos e solidários… na linha da mera filantropia mais ou menos dourada. Podem-se fazer muitas campanhas de angariação de coisas para os ‘pobres’, mas estes continuam a ser o alfinete de lapela que enfeita tantos dos nossos contemporâneos… Serei também desses devotos do Natal sem Cristo?
3. Há expressões tão bizarras quão desconexas, tanto na linguagem como no conteúdo: o natal é quando o homem quiser… nessa dos eflúvios revolucionários que varreram certas mentes há décadas. O Natal é e sempre será a referência ao festejado no Natal, Jesus. Quem não entende (ou não é capaz) tal linguagem precisará de ser educado para o nível histórico e a leitura que se faz desse acontecimento. Consideramos ridículo que um tal caudilho sul-americano tenha decretado a celebração do Natal no início de outubro, mas continuamos a comportar-nos como se o Natal possa ser usufruído quando muito (ou nada) convém…
4. Neste processo de recristianização – a que o Papa João Paulo II chamou, já há quatro décadas, de ‘nova evangelização’ – da Europa precisamos de ter mais sinais de compromisso do que de elencarmos diagnósticos que nada mudam porque eivados de lições e não de participação humilde e fraterna. Não deixemos que o Natal seja sobreposto por medidas de consumismo e não de conversão a Deus e aos outros. Cada ano é diferente. Assim o vivamos nesta véspera do ano Jubilar de 2025!
António Sílvio Couto
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