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segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Porque não votarei no almirante

 


Estamos a cerca de catorze meses das eleições presidenciais e já vão sendo lançados para a fogueira inquisitorial diversos candidatos ao sufrágio. Ainda nenhum se assumiu como tal e os que são propostos deixam muito a desejar – sobretudo pela falta de conhecimento que temos deles sobre os assuntos que envolvem o desempenho do mais alto cargo da Nação –, criando-se um longo e fastidioso vazio de reflexão e de tomada de posição até à escolha definitiva. De entre eles se vem a destacar o almirante das vacinas…

1. É verdade que lhe devemos muito pelo trabalho desenvolvido nas horas de maior aflição por ocasião da covid-19. De resto as suas tarefas têm sido no âmbito castrense e concretamente no ramo da marinha. Nos tempos mais recentes assumiu o comando geral desta área das forças armadas. Eivado da disciplina militar têm tentado seduzir o público em geral com o transpor para o resto da sociedade a competência até agora exercida. Prestes a terminar o seu tempo de missão colocaram-no – nas tendenciosas sondagens, ditas de independentes – como o melhor no ranking de putativos candidatos à candidatura…

2. Depois de quatro presidentes civis o que significaria voltarmos ao recurso a um militar para termos novo inquilino de Belém? Seria falência das capacidades civis ou uma reprogramação mais de meio século decorrido sobre a revolução de abril? Onde andam os paladinos da liberdade para que se tenha de recorrer a alguém de farda – não cultivo nem abjuro tais indumentárias – em ordem a sermos guiados nos nossos destinos coletivos? Não está na hora de termos uma mulher na presidência? Com tantas quotas e outras tantas cotas, não poderemos ter alguém que olhe o cargo de PR com outra visão e novo dinamismo?

3. Embora possam surgir pequenos entertainers dos vários campos ideológicos falta quem queira fazer do alto serviço na Presidência da República um espaço salutar de cidadania e não um areópago de vaidades como foram os mandatos do atual inquilino. Quem muito fala, pouco acerta – diz o adágio popular. Foi isso que presenciamos nestes anos complicados para o país e no mundo. Não precisamos de munias ambulantes nem de papagaios irritantes, mas de alguém que saiba o que diz e que diga só aquilo de que sabe…

4. Eis algumas das razões pelas quais não gostaria que o almirante seja candidato e se o for não terá o meu voto (só é um e nada mais): mais do que uma figura de representatividade precisamos de alguém que ajude a crescer na cidadania com valores morais e éticos assumidos e sem disfarce; mais do que uma figura que se distinguiu pelo passado (com farda e em atitude militar) precisamos de alguém que nos traga propostas para além do circuito da capital; mais do que uma figura que se faça respeitar pela farda que enverga (ou despiu) que nos una na prossecução da coesão do todo nacional e não só nas festas e romarias de ocasião; mais do que uma figura que nos vê de cima para baixo precisamos de alguém que caminhe com ponderação e humildade entre os seus concidadãos…

5. Porque acredito que ainda surgirão candidatos e propostas que abram horizontes e linhas de reconciliação de todos os portugueses, não espero votar no almirante, mas num civil (homem ou mulher) de formação política sensata, audaz e com perspectivas de futuro… Os sondados (incluídos nas sondagens) parece que são para queimar!



António Sílvio Couto

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