Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 31 de julho de 2023

Quando o protegido lhe vier a acertar as contas…

Por mais do que uma vez, nos tempos recentes, fui confrontado, por ‘mãezinhas’, quando se chamava a atenção aos seus ‘filhinhos’: bastará que se diga para mudar de lugar porque sentados num espaço que perturba alguma celebração ou mesmo que condicione o decorrer de uma reunião e eis que as ‘ofendidas’ (mãezinhas) colocam as garras em defesa de uma certa má-criação dos seus rebentos… são intocáveis até na caraterização de ‘hiperativos’… Sem pretensão de julgar, mas com facilidade se percebe que roçam o serem filhos únicos ou pelo menos amimalhados…

1. A ver pelas atitudes captadas fora de casa, estes ‘filhinhos’ são reis e senhores quase sem contestação lá no espaço onde desenvolvem a sua criação. De uma forma algo atrevida podemos ver uma espécie de onda de crianças rebeldes com cobertura da complacência dos pais e/ou avós, dando azo a que não sejam contestados sem que possa haver conflitualidade. Aquilo que era visto como birra infantil vai-se prolongando por mais anos do que seria desejável. Que sociedade estaremos a construir? Depois iremos admirar-nos dos maus tratos aos mais velhos, onde o desprezo pontifica e marcará pontos sem-apelo-nem-agravo…

2. Dá a impressão que esta onda de insubordinação dos mais novos cresce sem que alguém se questione ou interrogue pedagogicamente. Com que facilidade vemos crianças obedecerem aos educadores (professores) e a repelirem a intervenção dos pais. Com efeito, fazendo jus à expressão vulgarizada, esses tais não passam de ‘progenitores’, mas não educadores, no sentido etimológico do termo, como aquele que conduz, que cria, que leva a saber estar no contexto do mundo… Quer, então, dizer, que há quem gere filhos mas não os saiba conduzir ou guiar na vida. De algum modo o processo de ensino – português e não só – como que consagra este sistema de uns gerarem e outros educarem…embora deve-se ser de forma diferente: quem gera deve saber educar nos valores e não deixar ao Estado tal tarefa, que pode ser manipuladora – na linha da sua ideologia – das crianças…como tantas vezes se vê!

3. O que nos diz, como doutrina da Igreja católica, o catecismo:

- «O «papel dos pais na educação é de tal importância que é impossível substituí-los». O direito e o dever da educação são primordiais e inalienáveis para os pais» (n.º 2221);
- «Os pais devem olhar para os seus filhos como filhos de Deus e respeitá-los como pessoas humanas. Educarão os seus filhos no cumprimento da lei de Deus, na medida em que eles próprios se mostrarem obedientes à vontade do Pai dos céus» (n.º 2222);
- «Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Testemunham esta responsabilidade, primeiro pela criação dum lar onde são regra a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes, a qual requer a aprendizagem da abnegação, de sãos critérios, do autodomínio, condições da verdadeira liberdade. Os pais ensinarão os filhos a subordinar «as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais». Os pais têm a grave responsabilidade de dar bons exemplos aos filhos. Sabendo reconhecer diante deles os próprios defeitos, serão mais capazes de os guiar e corrigir» (n.º 2223).

4. Tentemos, agora, interpretar o desenho que ilustra este texto:

* Antes de mais parece um balão, sim que se enche à medida daquilo que queremos, podemos ou desejamos;

* É um balão que pretende subir, deixando as amarras de quem o quis ou pretendeu encher com mais ou menos arte…mas também pode ser aprisionado, se não for deixado seguir o seu rumo;

* Será temerário considerar que o balão pode deixar o ponto de partida sem haver quem o guie – no sentido humano, o eduque ou até domestique – ou sucumbirá por andar à deriva.



5. Nessa boa lição dos mais antigos: colherás aquilo que tiveres semeado. Fazer todas (ou quase) as vontades aos mais novos poderá não ser a melhor educação para os tempos da velhice e da resignação.



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário