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sexta-feira, 28 de julho de 2023

Pantominices à pala do Papa

 

Com a aproximação da vinda do Papa a Portugal, de 2 a 6 de agosto, para as jornadas mundiais da juventude (JMJ) vamos ser ‘agraciados’ com inúmeros ‘factos’ e personagens que se aproveitarão deste acontecimento para darem a conhecer as suas iniciativas, fait-divers e protestos… Alguns terão cobertura e servirão de propaganda aos fautores; outros roçarão a ofensa e, porque não, a provocação; outros ainda poderão não passar de publicidade a causas fraturantes; certos e anunciados não perderão a oportunidade de tentarem menosprezar o cristianismo e mesmo a dimensão religiosa da pessoa humana…

1. Começa a ser inquietante – nota-se no desconforto das reações – a projeção que envolve tantos jovens vindos dos mais diversos países e das mais diferentes culturas. Para um setor mais velho da nossa sociedade vê-se como que uma rufada de ar fresco com tantos jovens entusiasmados por Jesus Cristo e nem os lapsos de certos responsáveis ofuscaram a mobilização. Seja qual for o número final, desde já se percebeu que a força de acreditar em Jesus Cristo na Igreja católica não se extinguiu, embora possa estar sob cinzas crepitantes.

2. Uma nota de inquietação: parece que os jovens mais próximos ao local do encontro são os menos motivados em participarem ativamente. E nem a passagem dos símbolos pelas dioceses (ditas) de acolhimento – Lisboa, Santarém e Setúbal – fizeram crescer a motivação. Estarão a ficar à margem de um acontecimento histórico e da graça de Deus nesta grande comunhão de fé na diversidade que é e sempre foi a Igreja católica, isto é, universal.

3. As críticas a certos gastos manifestaram – como sempre – a falta de visão, de referências e de ousadia de tantos dos promotores e difusores de todo esse ambiente em que andamos enredados ao longo de semanas. E nem o pseudo epíteto do Papa Francisco na leitura do ‘papa dos pobres’ cobriu o terceiro-mundismo barato de certa esquerda que defenda o que não faz e nunca faz por si o que propagandeia para os outros. Certas lições cheiram a ideologia derrotada e em colapso crescente…

4. Os cerca de quinhentos eventos culturais previstos para a cidade de Lisboa durante os dias das JMJ deixam bem manifesta a força de cultura que o cristianismo tem e vive, fomenta e cultiva, faz e impulsiona. Não é preciso ser do contra-cristão para ser cultural, seja onde for e muito menos no nosso país. O tal complexo esquerdista que associa cultura a marxismo já foi campo que deu resultados. Pior: usar clichés religiosos, por parte de descrentes, para ‘criar’ cultura está prestes a falir por falta de argumentos e, sobretudo, pela negação dos resultados pretendidos…

5. É certo que as JMJ não são a solução para todos os problemas da Igreja católica – no mundo e em Portugal – mas podem servir para ganhar uma nova dinâmica dos jovens, insuflar novo espírito vocacional (ministerial e matrimonial) e mesmo para repensar a forma de estar na Igreja, onde podemos e devemos passar de consumidores de ritos e de sacramentos para sermos movidos por novo compromisso de ser e de estar como participantes atentos, sensíveis e ativos, sem mero ativismo…social compensador das tarefas do Estado!

6. Que as pantominices que vão surgir de quem quer ser – por breves instantes – ator, embora não passe de figurante, não distorçam o essencial: mais de vinte e um séculos depois o cristianismo tem força de interpelação, dá resposta aos problemas do nosso tempo e consegue ser chama e luz num mundo onde as coisas do materialismo fascinam mais do que os aspetos espirituais.



António Sílvio Couto

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