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terça-feira, 25 de julho de 2023

Migração: problema ou solução?

 


Desde longa data, como país-nação somos um longo e largo espaço de migração, umas vezes saindo e, mais recentemente, recebendo pessoas das mais diversas procedências, desde europeias até aos vindos da Ásia, sem esquecer os que vieram de África e da América latina.

Embora seja um fenómeno muito antigo e tenha várias vertentes, a migração faz-se de fora para dentro e diz-se imigração ou de dentro para fora e é referida como emigração… numa deslocação de pessoas e bens em busca de melhores condições de vida ou por motivos de salvaguarda da vida da pessoa e de outros.

1. Vamos a números. Portugal tem mais de dois milhões de emigrantes, o que corresponde a 20% da população residente. Temos imigrados mais de setecentos e cinquenta mil… com os procedentes do Brasil e da Índia em maior número… de ano para ano.

2. Perante as diversas vagas de emigrantes temos de questionar as razões da saída. Os três países de maior emigração são a França, a Suíça e os EUA, apresentando como razões as condições que lhe garantem maior poder de compra, ou seja, salários mais elevados do que em Portugal. A melhoria das condições de vida são, normalmente, aquilo que mais faz abalar aqueles/as que partem, por entre aventuras e riscos, que só mais tarde serão compensados. Se isso foi válido para os nossos, que foram mundo-além em busca de uma vida melhorada, também isso mesmo pode e deve ser aceite para com aqueles que nos procuram.

3. Há, no entanto um sector para quem lhe custa ver os outros progredirem: os que ficaram acomodados e, tantas vezes, resignados com aquilo que têm. Na linguagem mitológica dos nossos poetas são os ‘velhos do restelo’, isto é, aqueles que nada fazem, não apreciam os valores dos outros e estão sempre prontos a desdenhar daquilo que eles (os que saíram) atingiram. Faz lembrar a estória do diálogo entre um neto e o avô, em que aquele dizia ao mais velho: avô, dizem que os portugueses fora pelo mundo em descobertas e deram ‘novos mundos ao mundo’. Por que será que agora isso não acontece? Sabes, neto, nós somos descendentes dos que ficaram…antes e hoje!

4. Confesso que foi com perplexidade que ouvi o atual presidente do Brasil dizer, entre o jocoso e um tanto ‘profético’ que, por este caminho, os brasileiros serão, muito em breve, mais do que os portugueses em Portugal. Talvez haja algo de exagero nesta provocação, mas que temos de estar mais atentos a quem chega, não com medo mas sob precaução. Aliás, está a verificar-se um processo sintomático: da mesma forma como os nossos emigrantes foram fazer certos trabalhos nos países de acolhimento que lá desdenhavam, assim nós já nos damos ao luxo de destratar nas tarefas aquilo com que não nos queremos ocupar. Certas sobrancerias denotam visão de subdesenvolvidos, lá como cá!

5. «As nações mais abastadas devem acolher, tanto quanto possível, o estrangeiro em busca da segurança e dos recursos vitais que não consegue encontrar no seu país de origem. Os poderes públicos devem velar pelo respeito do direito natural que coloca o hóspede sob a proteção daqueles que o recebem.

As autoridades políticas podem, em vista do bem comum de que têm a responsabilidade, subordinar o exercício do direito de imigração a diversas condições jurídicas, nomeadamente no respeitante aos deveres que os imigrantes contraem para com o país de adoção. O imigrado tem a obrigação de respeitar com reconhecimento o património material e espiritual do país que o acolheu, de obedecer às suas leis e de contribuir para o seu bem» (Catecismo da Igreja Católica, n.º 2241).

Será que é assim que agimos: quem recebe ou quem é recebido? Não deveríamos sair do nosso casulo egoísta e fazermos aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem a nós? Como seria benéfico que fizéssemos a experiência de estar fora de casa para apreciarmos a hospitalidade recebida… Hoje são eles, amanhã poderemos ser nós e vice-versa!

António Sílvio Couto

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