Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 10 de julho de 2023

Prudentes e simples

 

«Envio-vos como ovelhas para o meio de lobos; sede, pois, prudentes como as serpentes e simples como as pombas» (Mt 10, 16). Aqui a ordem dos fatores não é arbitrária, pois, se a mudarmos corremos o risco de perverter a mensagem: ter cuidado é mais fundamental do que parecer simplório. De outro modo veremos a concretizar-se a imagem de os simples serem fascinados/seduzidos pelos mais espertos...

No contexto de vários acontecimentos, casos e situações – sociais/políticos, religiosos/cristãos, de grupos/coletivos, ético-morais/emocionais-afetivos, distantes ou mais aproximados – tentaremos ler e discernir como a prudência é bem mais benéfica do que a mera simplicidade ou simpatia.

1. Não será avisado procurar entender que um governo com menos de dois anos de funções tenha perdido quase dezena e meia de integrantes? Mesmo com o código de trinta em tal cláusulas por que ainda continuam a ocorrer erros de casting? Será que nem a pescar no aquário as escolhas conseguem ultrapassar as meias verdades e jogos de bastidor? Os exemplos do passado recente com outro chefe de governo a contas com a justiça – todos o adulavam até cair em desgraça – não serviu ainda de exemplo para os atuais? A sede de protagonismo e o poleiro parecem ofuscar a capacidade de perceber o ridículo pessoal no desempenho alheio.

2. Embora o Papa venha repetidamente a dizer que se deve combater a tentação do carreirismo, o que podemos observar é, pelo contrário, a consagração desse tal pecado grave. Nota-se que certas forças conseguem colocar no posto de mando – diz-se, em teoria, ministério (serviço) – aqueles que melhor lhe podem dar cobertura às suas façanhas. A mais recente elevação às vestes cardinalícias é disso um bom exemplo: desde longa data tal ascensão foi cultivada, mesmo que se diga o contrário, mas os factos falam mais do que as palavras de circunstância. Aliás, na arte da comunicação há os estudados, os protegidos e mesmo os lançados... Dizia um dos mentores ancestrais do agora purpurado: se quisermos conhecer o vilão coloquemos-lhe o pau na mão!

3. Em matéria de ridículo a programação televisiva não poderá cair mais baixo: horas e horas a discutir futebol sem bola, antes na conjetura das intrigas; julgamento de personalidade pela noite dentro, feito por uns camafeus sem moral para criticar seja quem for, pois a cabeça não pensa, mas antes destilam má-língua sem rede nem pejo; na pior das hipóteses teremos os ofendidos a lavarem a honra por meios à semelhança com a ‘justiça de Fafe’ ou desafiando os prevaricadores para algum duelo de sabre e pistola... Quem investiu estes novos inquisidores – televisivos e das (ditas) redes sociais – de poderes morais? Quem põe ordem nesta tabanca? Para quando a implementação de bom senso e de ética com responsabilidade? Certas figuras acham-se acima de qualquer suspeita, quando o que fazem é disfarçar os podres do passado...dizendo mal dos outros, agora!

4. Nunca como atualmente os números envolvidos nos negócios dos jogadores de futebol foram tão escabrosos: milhões e milhões pela simples habilidade de saber jogar à bola... até os mais decrépitos fazem fortuna com os louros de antanho. O lóbi do futebol lava mais branco: quantos se escondem atrás das influências que pensam ter, na expetativa de sobreviverem às contas – económicas ou éticas – que terão de aprestar com a justiça quando saírem de mandar. Este mundinho à parte que é o desporto e o futebol em particular fascina muitos jovens, seduzindo-os com regalias (quase) nunca alcançadas...



5. Num país de emigrantes – chegamos a ter fora do espaço territorial metade dos que viviam dentro das fronteiras – eis-nos chegados a uma nova realidade: vimos crescer como país de imigrantes, muitos deles cumprindo a meta de fazerem por cá o que nós fomos buscar lá fora: melhores condições de vida, sobretudo para os vindouros. Como estamos a enfrentar este desafio: com prudência ou como simplórios que não acautelam o futuro próximo? Os conflitos noutros países da Europa têm-nos servido de lição ou só vemos isso neles? Será avisado ser mais prudente do que lamurioso, já!



António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário