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quarta-feira, 5 de julho de 2023

Distúrbios em França: para quando uma vaga por cá?

 


A morte de um jovem, de ascendência argelina, em França, no dia 27 de junho, tem espalhado em várias cidades daquele país, o caos, a destruição, os confrontos, em distúrbios muitos deles pela sombra da noite.

Os factos divulgados dizem que um carro com três jovens não parou numa operação de controlo de trânsito. O condutor – vítima fatal – já teria cadastro em pequenas coisas. No entanto, nessa fatídica noite o que aconteceu foi filmado e divulgado, deixando a polícia sob pressão popular. Daí seguiram-se noites e dias de confusão social, de segurança, de interpretação política e – como não podia deixar de ser – cultural.

1. As imagens provindas de França – em vários pontos do país – deixaram-nos a sensação de que estalou o verniz da ‘harmonia’ à francesa. O caldo de culturas entornou-se com acusações de racismo sistémico e as pilhagens com incêndios a edifícios públicos deram-nos um pouco o alcance de algo que estava arrolhado e que saiu sem controlo que não o disparate… Diga-se a França está a colher os frutos de uma política de abertura aos emigrantes, descontrolada. Será esta leitura uma visão algo xenófoba? Como poderemos viver em concórdia social, se há sectores desfavorecidos e marginalizados, quase em regime de ghetto? Dá a impressão que a sociedade francesa só precisa de um pequeno rastilho para incendiar as estruturas mais básicas, vejam-se os protestos dos ‘coletes amarelos’, a contestação da reforma da previdência, indícios vários de terrorismo…

2. Algo aconteceu neste episódio do adolescente árabe que morreu em finais de junho: um determinado político – dizem – de incidência de extrema-direita desencadeou uma campanha de recolha de fundos em favor da família do polícia acusado e, por estes dias, já tinha ultrapassado quase um milhão e meio de euros. Por seu turno, a avó do rapaz falecido tinha feito o mesmo também com uma conta solidária e não tinha atingido ainda trezentos mil euros. Conhecidos estes factos, logo surgiram interpretações tão díspares quão bizarras. Não se pode desenvolver uma iniciativa que possa destoar da leitura que me convenha? Só terão razão os que pensam como eu ou poderá haver diversidade mesmo que seja diferente da minha visão ou leitura? Mais uma vez se nota que a liberdade de pensamento e de ação tem que ser segundo uma perspetiva e nada nem ninguém pode fugir daquilo que uma certa ideologia reinante pense, julgue e faça… Os impropérios lidos deixam muito a desejar sobre a democracia daqueles que tais coisas defendem sobre os outros, pois, se for invertido o processo, estaremos a roçar a ditadura mais básica.

3. Em declarações, num canal francês, uma mulher de tez magrebina contestava que carros fossem queimados, que espaços de trabalho fossem destruídos, pois, como ela dizia: essas pessoas que ficaram sem os seus bens, certamente, fizeram esforço para conseguirem tais coisas e agora veem ser tudo destruído…

Efetivamente, na linha da sabedoria popular diria: não te rias do mal do vizinho que o teu vem de caminho. Com efeito, também entre nós podem verificar-se tais acontecimentos: as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto são contêm idênticos ingredientes aos vistos em França? Os sentimentos de revolta lá sentidos não pululam na surdina de muitos bairros e complexos habitacionais de tantos lugares e sítios, por cá?

4. Não sejamos inocentes nem continuemos a adiar a necessidade de enfrentarmos problemas sociais, que não vimos a resolver, adiando: cuidamos das condições materiais, mas damos parcos recursos para unir as pessoas de modo cultural. Fazemos de conta que não há problemas, mesmo que lançando dinheiro sobre as questões, mas evitamos falar do descontrolo de quem nos queira procurar… Segundo se diz um setor de transporte de carro em aluguer mais parece um modo de enganar do que de servir. Será isto uma posição de não-acolhimento aos imigrantes? Se acontecer algum problema mais grave não teremos os abutres de uma certa esquerda a clamar pela boa vontade, quando eles espicaçam a revolta e patrocinam a contestação? Os efeitos da amnistia pelas JMJ serão antes ou depois dos acontecimentos? Haveria grande diferença!



António Sílvio Couto

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