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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Leituras, impressões e expetativas das JMJ

A estupefação parece generalizada: milhares e milhares de jovens vindos de todas as partes do Planeta convergiram para Portugal, uns já na semana passada e tantos outros por estes dias. O que faz correr estes jovens? Quem os convocou? O que esperam? Será algo humano ou têm a marca do divino’ A quem servem? E muitas outras perguntas e questões se poderão colocar não só aos que chegam, mas também os que já cá estão…

1. Mais do que virem para ver e ouvir o Papa – que fascínio terá um velho quase nonagenário? – motiva-os a Pessoa e mensagem de Jesus e isso confunde os que não conseguem perceber o nível da fé na vida. Dada a surpresa, quem não tem a graça da fé, poderá menosprezar o entusiasmo de muitos destes jovens. Outros irão ao baú das más recordações trazendo à liça memórias de façanhas menos abonatórias da Igreja, seja qual for a instância ou o tempo que lhe dê respaldo para atacarem… Nota-se que o diabo está assanhado e estrebucha contra esta iniciativa das JMJ.

2. Como que por artes mágicas surgem declarações – entrevistas ou escritos, de ocasião passada ou mais recentes, de viva voz ou de arquivo – de figuras ligadas à Igreja católica – bispos ou outras personagens – que fervem de indignação ao dizerem mal da instituição que lhes deu espaço e tempo, umas vezes sob a forma de acusação, outras sob o manto da suspeita e noutros casos ainda tentando que não reparem nas chorudas reformas que auferem pelos postos em que a própria Igreja os colocou… Mais uma vez se pode perceber a complexidade das pessoas que puxam os assuntos que lhe convém para que não se vejam os escândalos – sobretudo em matéria de dinheiro – que ostentam ou escondem… Valia mais a pena estarem calados no seu canto e com seus gostos e adulações de prémio!

3. Não deixa de ser significativo e quase provocatório que apareçam a comentar as imagens das transmissões televisivas figuras que destilam pouca independência, senão mesmo nenhuma qualidade. Foi de ver, num canal privado, um tal ‘analista religioso’ a desmontar a homilia do patriarca de Lisboa, na missa de abertura das JMJ. Dizia o tal comentadeiro que a disposição dos padres na missa como que configurava um obstáculo aos jovens, colocados atrás na disposição do espaço. Sabendo da costela protestante do dito, seria como que colocar a raposa de vigia ao galinheiro até este ser assaltado. Com efeito, o tal senhor comentadeiro não conseguiu – como noutras ocasiões – despir-se dos seus preconceitos para com os católicos em geral e o patriarca em particular…Quando se quer que digam aquilo que nos dá jeito, torna-se difícil perceber a mensagem comunicada!

4. De forma despretensiosa deixo breves sugestões, que gostaria que o Papa Francisco nos deixasse através das várias intervenções que vai fazer:

* Uma ‘Igreja em saída’ não pode confundir-se com a mera saída da igreja. Saber estar no mundo sem prerrogativas de exceção, desde o clero até aos leigos, passando pelos religiosos/as. Precisamos de viver centrados em Cristo de forma sinodal.

* Uma ‘ecologia integral’ será mais do que bons conselhos para a sobrevivência do Planeta, mas trará uma visão de vida, abjurando a cultura de morte, que muitos (ditos) ecologistas não conseguem harmonizar.

* Numa ‘Igreja santa e pecadora’ todos têm lugar, mesmo os prevaricadores. Em matéria de escândalos de abusos (sexuais, de consciência, de poder) na Igreja, precisamos de viver a conversão contínua de todos.

* Num mundo cada vez mais consumista será preciso cuidar dos pobres, evangelizando os ricos, pois estes podem fazer diminuir aqueles pela consciência social dos seus bens, investindo em favor dos outros.

* Na medida em que o cristianismo se for convertendo cada vez mais em proposta cultural, seremos capazes de ajudar a recristianização onde o sermos minoria dá nova força e faz estar atento e humilde a todos.



5. Portugal vai ficar diferente depois destas JMJ!



António Sílvio Couto

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