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sexta-feira, 7 de julho de 2023

Católico – quê: praticante, não-praticante, pouco-praticante… pirilampo, sanguessuga?

Na sequência da apresentação à Conferência Episcopal, durante as jornadas de estudos realizadas, em Fátima, em meados de junho, foi por estes dias tornado público um estudo intitulado: jovens, fé e futuro.

Realizado pelo ‘centro de estudos dos povos e culturas de expressão portuguesa’, da Universidade Católica Portuguesa, o inquérito – entre abril e outubro de 2022 – envolveu cerca de 2500 jovens, entre os 14 e 30 anos, num questionário on-line e que foi enviado também a alunos de escolas e universidades bem como em abordagens presenciais para a recolha de dados.

1. Aquando do inquérito/diálogo com os nubentes, por ocasião do processo para a celebração do sacramento do matrimónio aparece-nos uma pergunta (a quarta da lista de dezassete) sobre a situação religiosa dos ditos, encontramos como hipóteses: católico praticante, não praticante, doutra religião, não batizado, sem fé… Por vezes, numa espécie de tentativa em quebrar o gelo do desconhecimento, ouso incluir a hipótese de católico pouco-praticante ou praticante às vezes… Estas últimas sugestões ainda colhem nas respostas…Que significa algum dos epítetos aqui elencados? Nada, assim parece, pois a atendermos à cara de espanto da maioria até dá a impressão que isso não faz diferença ser esse ou aquele dos casos… como se ser ou não ser, seja a mesma coisa!

2. Diante dos resultados do inquérito supra citado e perante o parâmetro de idades abrangido (14 aos 34 anos) – por sinal o mesmo do público-alvo das JMJ 2023 – talvez possa ser útil refletir sobre alguns dados:

* 56% dos jovens portugueses dizem-se religiosos, afirmando-se 49% católicos… embora um terço do total (34%) se diga religioso não-praticante, mas com hábitos de oração e sem participação regular nas celebrações e sem vínculo comunitário;

* A guerra é principal preocupação dos jovens a respeito do futuro, com 63% dos inquiridos a colocar nesse problema o principal desafio do futuro, seguindo-se as alterações climáticas (55%) e a equidade e discriminação (54%);

* Os católicos, mais do que a estabilidade no trabalho, valorizam terem um trabalho que os faça felizes e encontrarem um parceiro/a para partilhar a vida, bem como constituir uma família com um ou mais filhos;

* Em relação aos valores que consideram mais importantes, o estudo apontou o respeito (59%), a liberdade (57%), o amor (52%) e a honestidade (51%), com os jovens não religiosos a colocarem a ênfase na liberdade e os religiosos no amor;

* De referir que os jovens não são muito participativos em termos de ativismo (15%) ou voluntariado (26%) e que 45% dos católicos acreditam que a oração pode contribuir para um futuro melhor;

* Ainda em resultado do estudo se pode inferir que o fator que mais marca a diferença entre os jovens religiosos e os não religiosos será a família, quer como preocupação, que como fator de felicidade.

3. Estes e outros dados permitem-nos fazer um certo diagnóstico dos jovens na nossa sociedade. Quando tantos pensavam que tudo parecia perdido podemos perceber que este leque etário e social continua a sentir que a diferença pode marcar toda a vida: há momentos que serão essenciais para o resto da existência. Ainda há quem queira deixar marca no mundo, mas que não seja só de lixo, mas de construção de algo melhor do que encontrou. Mesmo que de forma ténue podemos considerar os jovens do nosso tempo olham mais para a frente do que para trás, querem ser protagonistas e não assistentes, querem fazer parte da solução e não do problema…

4. Os dois termos apresentados no título – pirilampo e sanguessuga – ainda têm muitos seguidores entre os jovens. E a pandemia agravou a questão: os cristãos-pirilampo são aqueles que andam de lado em lado sem se comprometerem com ninguém nem consigo mesmos, flutuando por onde lhes dê mais gosto, numa espécie de cristianismo de rito e não de vínculo aos outros e à Igreja. Os cristãos-sanguessugas são os que nada fazem, vivendo à custa dos outros, mesmo que nem os conheçam… serão capazes de criticar tudo e todos!



António Sílvio Couto

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