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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Cuidados para com os animais

Está estacionada há semanas, na zona onde resido, um veículo automóvel contendo, nas partes laterais, propaganda quanto a serviços de tratamento a animais: consultas, vacinação, análises, ecografia, nutrição, serviço fúnebre...tudo em consultório móvel.

Sejam quem forem os animais beneficiados de tais produtos, terão certamente – ao menos ao nível teórico – melhores propostas de cuidado do que boa parte dos humanos...

1. De entre as ‘propostas’ enumeradas, no tal escaparate, há uma que, de alguma forma, me intriga, aquela que se refere ao ‘serviço fúnebre’, não só pelo significado do mesmo – quanto às pessoas – mas sobretudo pela alcance que se desejará conferir a tal ‘cerimónia’. Para além do invólucro em que é colocado o ‘defunto’ – vulgarmente designado de caixão – que outros adereços serão apresentados? Haverá velório? Que tipo de flores serão sugeridas? Onde será enterrado o ‘defunto’? Qual o epitáfio a colocar? Se for o caso de ser incinerado, qual o destino a dar aos restos? Já teremos columbários para os animais defuntos? Serão privados ou autárquicos?

2. É notório que os animais – em geral e os ditos de estimação e/ou de companhia – foram conquistando adeptos, defensores (mais ou menos aguerridos), promotores dos ‘seus’ direitos e mesmo de regalias em manifestações algo exotéricas, senão até ideológicas. Vai crescendo uma tendência de quase trocar o cuidado dos humanos pelos animais, numa cultura que tem tanto de inédita, quanto de servidora de outros intentos nem sempre claros aos mais atentos. Repare-se que há quem coloque como designação de identificação nomes que, anteriormente, eram colocados a pessoas e agora são dados aos (seus) animais...

3. Na cultura do nosso tempo há quem chame a esta corrente de excecionalidade quanto à natureza humana, de ‘animalismo’, como posição – filosófica e política – de quem procura a defesa dos animais, advogando medidas de salvagurada do seu bem-estar e liberdade, opondo-se a atividades que envolvam algum tipo de sofrimento ou exploração animal... quase equiparando (ou sobrepondo) os animais aos humanos. Certas agremiações políticas e de defesa dos animais, nalguns casos, parecem ser mais lutadoras pelos ‘seus’ animais do que pelos humanos. Temos visto exageros que parecem corresponder a desequilíbrios de alguns humanos, não se sabendo se estes não precisarão de alguma terapia para se compreenderem e amarem corretamente...sem entrarem em compensações para com os animais!

4. Vejamos o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre esta temática dos animais, desde a sua integração na ‘obra da criação de Deus’ até à sua relação com os humanos e passando pelos cuidados a prestar-lhes condignamenrte.

- «O sétimo mandamento exige o respeito pela integridade da criação. Os animais, tal como as plantas e os seres inanimados, são naturalmente destinados ao bem comum da humanidade, passada, presente e futura. O uso dos recursos minerais, vegetais e animais do universo não pode ser desvinculado do respeito pelas exigências morais. O domínio concedido pelo Criador ao homem sobre os seres inanimados e os outros seres vivos, não é absoluto, mas regulado pela preocupação da qualidade de vida do próximo, inclusive das gerações futuras; exige um respeito reli­gioso pela integridade da criação» (n.º 2415).
- «Os animais são criaturas de Deus. Deus envolve-os na sua solicitude providencial. Pelo simples facto de existirem, eles O bendizem e Lhe dão glória. Por isso, os homens devem estimá-los. É de lembrar com que delicadeza os santos, como São Francisco de Assis ou São Filipe de Néri, tratavam os animais» (n.º 2416).
- «É contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas. É igualmente indigno gastar com eles somas que deveriam, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, mas não deveria desviar-se para eles o afeto só devido às pessoas» (n.º 2418).



António Sílvio Couto

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