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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Carta aberta ao presidente da ‘fundação JMJ’

 

Tenho admirado o esforço colocado em levar por diante a realização das ‘Jornadas mundiais da juventude’ em 2023, no próximo mês de agosto, em Lisboa. As diversas iniciativas e os vários momentos de visibilidade dados ao acontecimento como se percebe e se pretende que seja mais celebrativo do que mero ajuntamento de pessoas. De tudo quanto se tem visto para concretizar o projeto se pode ver que tem havido uma tentativa de coordenar os múltiplos intervenientes.

Mais uma vez se quis transformar um espaço lúgubre e de má imagem num lugar que há de ser mais bonito do que era anteriormente: de um aterro poderá surgir um jardim…

Apesar de certas controvérsias sobre os gastos, temos visto uma aferição ao essencial, numa tentativa de coadunar o evento com a personalidade do Papa Francisco: assim se consiga o testemunho da dignidade com a dignificação.

A receção aos símbolos das JMJ – a cruz e o ícone de Nossa Senhora – tem sido nas diferentes dioceses um verdadeiro apelo à participação dos jovens com uma referência ao essencial da nossa fé, centrada na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, como nos diz o apóstolo. Por vezes o burburinho social nem sempre é acompanhado por sinais de maior evangelização e interpelação de todos…os de boa vontade.

1. Tenho, no entanto, ficado um tanto desiludido, senão mesmo apreensivo, para com a ausência de uma proposta clara da mensagem que, certamente, motivará a deslocação de tantos jovens a Lisboa e arredores.

Eles não procurarão condições ultra-especiais para alojamento, até porque já estarão habituados aos condicionalismos de outros eventos – religiosos ou não tanto – em que têm participado.

Eles não exigirão oportunidade de refeições supra-reconfortantes, pois já estão treinados na frugalidade de outros momentos de encontro e de convívio.

Eles não se eximirão a sacrifícios de vária ordem, até porque se desinstalarão para aqui virem e disporem do tempo como oportunidade de novas experiências… de vida e de fé.

2. É perante estes dados assaz positivos e reveladores da riqueza dos jovens do nosso tempo que considero e questiono:

– Temos feito a apresentação clara, séria e serena da mensagem do Evangelho ou temo-nos entretido com questiúnculas de teor mais material?

– Conseguimos falar de Jesus, como o centro da nossa fé ou andaremos derramados em posições sociológicas que já deviam ter sido resolvidas?

– Onde estão pública e notoriamente as catequeses (ou com outro termo) de caminhada para a grande celebração da semana das JMJ?

– Atendendo à possibilidade de virem jovens de muitas partes do Planeta, temos olhado com atenção para os problemas que os afligem ou ainda nem percebemos de onde veem e para onde vão?

– Mais uma vez recordo a frase – ‘não importa por que vem, mas como vão’ – teremos programado algo que lhes respondo ao mais fundo da sua procura?

– Não andaremos a depreciar os nossos jovens, dando-lhe uma eventual comida – espiritual e religiosa – recessa, que já nem os adultos lhe pegam?

– Não será que certas devoções ocasionais já estão desarticuladas com as questões que os jovens querem ver respondidas em palavras, gestos e sinais?

– Teremos, de facto, dado a entender aos jovens que queremos aprender com a sua disponibilidade e não impingindo-lhes temáticas que eles já não querem nem apreciam?

3. Já estamos a menos de seis meses das JMJ e paira no ar um tempo de apreensão. Mais de quatro anos decorridos sobre a atribuição do evento a Lisboa e parece que só agora acordamos para uma realidade que marcará – para o bem ou para o mal – o nosso país nas próximas décadas. Será que teremos uma renovada JPII (juventude João Paulo II) em decisão cristã e compromisso? Não está a faltar nada de essencial?



António Sílvio Couto

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