Quem
tenha visto os resultados da primeira volta das eleições presidenciais, em
França, no passado dia 10, poderá (ou deverá) questionar-se seriamente. Os
números da candidata socialista revelam algo de muito significativo e
preocupante: ela teve 1,8% dos votos expressos, numa conjugação de dados que
têm tanto de objetivo, quanto de necessitado de interpretação...lá como por cá.
1. Ainda há
dez anos atrás o candidato vencedor, nas Gálias e arredores, foi François Hollande
(presidente de 2012 a 2017), socialista. Agora a candidata do mesmo partido
obteve somente aquela percentagem citada. Se virmos a erosão das ideologias na
França compreenderemos como mudou, por lá tanta coisa, destacando-se o
desaparecimento de forças que foram representativas das tendências do
eleitorado, tais como as ditas de ‘esquerda’ e arreigadas no marxismo... Tal
mudança não conterá lições que devemos captar e aprender?
2. Algumas
questões, mais de âmbito de proximidade, que ouso colocar, em jeito de
preocupação, que não de mera provocação. Que tem isso (ou aquilo) a ver
connosco – país onde reina o socialismo com maioria absoluta? Que inquietações
podem ser transferidas para o nosso contexto? Não andaremos, de facto, vinte
anos atrasados? Como entender que, quando os resultados no partido comunista
por cá ainda eram viçosos, por lá já tinha quase-desaparecido do mapa
eleitoral? Que sinais nos fazem destacar pela resistência? Com os dados mais
recentes adivinha-se, nas nossas hostes, um acerto, a médio prazo, ao ritmo de
outros países e nações? Se sim, para quando uma leitura cá dos resultados de
lá?
3.
Efetivamente, cada um – pessoal, familiar, social ou politicamente – tem o que
merece. Não haja a menor dúvida. Por isso, se compreende que tenhamos um país
onde os governados são o retrato dos governantes e vice-versa. Com efeito,
vivemos em excesso dependurados no ‘estado-patrão’, o mesmo que poderá
significar: papão, controlador, condicionador, investidor, manipulador,
distribuidor...numa palavra – dono do dinheiro, das mentalidades e, por que
não, dos valores... cívicos, éticos/morais, económicos, etc.
Setores
vitais como a saúde, a educação, a segurança ou mesmo a economia (agricultura,
comércio, turismo) ou os transportes estão nas mãos do Estado ou em regimes subsequentes
da sua funcionalidade, ficando a sensação de que algo subterrâmeo emerge de vez
em quando, para que nos apercebamos do vulcão sobre o qual nos movemos e
existimos...
Dados
recentes diziam que haverá, em Portugal, quatro milhões de pessoas com seguros
de saúde (individual ou de grupo), acumulando com o (dito) ‘serviço nacional de
saúde’... Que dizer também das escolas, nos vários níveis de ensino: a
designação ‘público’ ou ‘privado’ tem a ver com qualidade de ensino-aprendizagem
ou com gastos-resultados? A acentuação desta dicotomia a quem serve: às pessoas
ou à ideologia? Alguma vez se viu, verdadeiramente, uma empresa estatal a dar
lucro: será por má gestão ou por incapacidade de torná-la competitiva sem a
desmotivação do suporte do patrão-estado? Não são os privados que pagam os
impostos e que suportam as desgraças da estatização? Qual a razão para que os
transportes, quando estão estatizados, são de inferior qualidade e com
prejuízos acumulados? Será por que o patrão está longe e o controle não é tão
efetivo?
4.
Desgraçadamente vemos tanta gente a reger-se ainda pelos conceitos,
nomenclaturas e diretrizes de ‘O capital’ do pensador K. Marx. Alguns, por
razão de maturidade dos anos, foram-se adaptando às leis do mercado, mas ainda
estão presos à cartilha por onde estudaram e no qual gastaram tanto do seu
tempo de juventude. Que dizer, por exemplo, das propostas de taxar os lucros de
empresas que têm sucesso? Será um rebate de marxismo, querer nivelar tudo e
todos pelo igualitarismo orwelliano? O pior de tudo isto é usarem meios e
truques deslocados das razões primeiras, isto é, querem repartir aquilo que não
produziram e fazer participar naquilo para o qual não deram nem dão nenhum
contributo. Um dia se descobrirá as façanhas!
António Silvio
Couto
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