Desgraçadamente somos a toda-a-hora-e-momento
metralhados com imagens de guerra, tanto da invasão russa à Ucrânia como de
outros conflitos exibidos nas televisões e noutros meios de difusão noticiosa…nessa
espécie de guerra de audiências, com a cativação de espetadores e, sobretudo,
numa manipulação dos públicos. Deste modo a imagens de guerra tem-se tornado
também guerra de imagens, onde nem sempre se saberá o que é verdadeiro ou
aquilo que nos querem impingir por estratégia de comunicação…
1. Decorridos quase quarenta dias do conflito
ucraniano-russo começamos a ver imagens inconcebíveis: mortos às centenas,
destruição irremediável, prejuízos irreparáveis…pessoas em fuga, combatentes em
estado de confronto, situações ignóbeis a toda a classificação. De facto, o
homem é lobo do homem, deixando emergir, em força e sem controlo, o que há de
mais animalesco, primário ou selvático. Aquelas imagens de guerra são a pior
amostra do ‘caim’ que há em cada ser humano… As vidas ceifadas clamam por
justiça diante de Deus!
2. Os órgãos de comunicação como que se deleitam com
o espetáculo com que se entretém a difundir. Dizem que as imagens são
violentas, suscetíveis de melindrar os mais vulneráveis, mas mesmo assim gastam
horas e horas em emissão. Se dúvidas houvesse de que a comunicação social é
servidora do mal, os tempos mais
recentes se encarregam de confirmar o estado
doentio da nossa sociedade. Com tantos abutres a farejar a morte podemos
perceber que este tabu foi destronado, mas não foi ultrapassado…Não se
justifica que as televisões portuguesas tenham enviado repórteres especiais à
Ucrânia. Não se justifica que se gastem tantos meios e recursos para dar
cobertura a coisas tão nefastas e sem nexo…para pessoas equilibradas, sensatas
e humanamente respeitadoras da dor alheia.
3. Foi um corrupio aquele que vimos desenvolver-se
para acudir – nos primeiros dias – aos milhões de deslocados/refugiados
procedentes da Ucrânia. Meios e campanhas de socorro apareceram em vários pontos
do país, num vai-e-vem de levar coisas e de trazer pessoas. Se aquelas foram
sendo distribuídas, estas (as pessoas, sobretudo, mulheres e crianças) chegaram
aos milhares – dizem que mais de quinze mil. Muitos foram para casas de
familiares, já por cá residentes e uns tantos vieram mais à deriva.
Passado um primeiro impacto de simpatia, torna-se
essencial dar passos de boa organização, criando as condições suficientes para
que se cuide de quem nos procura, muito para além das prestações materiais, sem
nunca esquecer que estas pessoas deslocadas merecem respeito na sua integridade
psicológica e espiritual. Podem não saber a (nossa) língua, mas entendem a
linguagem, essa universal da boa-fé, da sinceridade e mesmo da simpatia bem
manifestada.
Certas iniciativas de algumas entidades ‘oficiais’
– de autarquias e do governo central/centralista – mais parecem tendências para
aparecer nalguma foto de propaganda do que para serem projetos em ordem a
dinamizar, seja quem for, os de lá ou de cá!...
4. Neste como noutros momentos de acutilância humana
e de fragilização das pessoas aparece pouco, de forma clara, a referência a
Deus. Veja-se a forma algo sobranceira como foi tratado o momento de
consagração da Rússia e da Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria, que ocorreu
no passado dia 25 de março. Para alguns parecer situar-se o assunto na esfera
de menos interessante, senão mesmo lateral. Como se a paz não fosse um dom
divino! Até um largo setor católico primou pela ausência e pela indiferença
pessoal e comunitária. Não tivesse o Presidente da República trazido o assunto
para a luz da memória, pela sua presença no ato decorrido no santuário de
Fátima, e nem numa nota de rodapé mereceria…
5. Se o Presidente-comediante, Zelensky se tem
comportado como um herói, os cidadãos do Ocidente mais parecem palhaços de
feira em maré de saldos, tal a inoperância e a falta de bom senso ético e
cultural! Se os ucranianos merecem respeito e admiração, muitos outros povos
deixaram a nu a falta de sentido de nação!
António
Sílvio Couto
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