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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

‘Ano da família’ conflitua com ‘ano de São José’?

 


Num breve espaço de tempo, o Papa Francisco convocou a Igreja católica a viver dois ‘anos’ de reflexão, de espiritualidade e, certamente, de caminhada pastoral: o ‘ano de São José’, convocado a 8 de dezembro e que prosseguirá até à mesma data no ano 2021 e um outro ‘ano’, anunciado a 27 de dezembro (festa litúrgica da Sagrada Família) e como o ‘ano especial dedicado à família’ à luz da ‘Amoris laetitia’, a decorrer entre 19 de março de 2021 – quinto aniversário da publicação desta exortação apostólica – e até à celebração, a 26 de junho de 2022, do X encontro mundial das famílias, a realizar em Roma.

 = Desde logo se podem colocar algumas perguntas sobre esta (possível) sobreposição de ‘anos’ em contexto católico. Refletir sobre São José não inclui já a família e a família não implica olhar José como modelo de pai? Atendendo às questões familiares não será possível e oportuno meditar sobre a dimensão paterna de São José? Como poderemos perscrutar a ‘alegria do amor’ pela meditação de São José na família sagrada e na Igreja? Quais os desafios que nos colocam as figuras de São José e de Maria, em contexto familiar e mesmo social, num mundo órfão de pai e com tiques quase matricidas? A ideologia de género não quis introduzir conceitos atentatórios da noção judeo-cristã de família? As mais recentes mudanças culturais no âmbito da família não serão vexatórias das famílias que pretendem viver cristãmente o seu compromisso de vida e de fé? A quem interessa subverter o binómio ele/ela, pelo ele/ele ou pelo ela/ela?    

 = Vejamos, então, sucintamente, quais os objetivos, de cada um destes ‘anos’:

* ‘Ano de São José’

«Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e uma guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação» – Papa Francisco, ‘Patris corde’, introdução.

Os diferentes sinais de ‘pai’ em São José – pai amado, pai na ternura, pai na obediência, pai no acolhimento, pai com coragem criativa, pai trabalhador e pai na sombra – entrecruzam-se como desafios prospetivos para a Igreja e no mundo.

* Ano ‘Família amoris laetitia’

«O Ano “Família Amoris Laetitia” é uma iniciativa do Papa Francisco, que pretende chegar a todas as famílias do mundo por meio de várias propostas de caráter espiritual, pastoral e cultural, a serem realizadas nas paróquias, dioceses, universidades, no contexto dos movimentos eclesiais e das associações familiares. O objetivo é oferecer à Igreja oportunidades de reflexão e estudo para viver concretamente a riqueza da exortação apostólica Amoris Laetitia.
A experiência da pandemia pôs em evidência o papel central da família como Igreja doméstica e a importância dos laços comunitários entre as famílias, que fazem da Igreja uma autêntica “família de famílias” (AL 87).

Esta merece um ano de celebrações, para que seja colocada no centro da solicitude pastoral e da atenção de cada realidade pastoral e eclesial» – Conferência Episcopal Portuguesa, Secretariado-geral…poucos dias depois do anúncio solene deste ‘ano da família’ ao ritmo da exortação apostólica papal.

Os destinatários deste ‘ano da família’ à luz da ‘Alegria do amor’ são todas as famílias – sejam quais forem as latitudes ou as amplitudes – com doze percursos já delineados pelo Dicastério para os leigos, a família e a vida.

 = Postos os parâmetros de cada um destes dois anos, na Igreja católica, poderemos tentar cruzar aquilo que São José significa na dimensão da família e tudo quanto esta tem a aprender com o ‘santo pai do silêncio’ nas questões da vida familiar…tão posta à prova cada dia.

2020 foi duma dureza extrema. Queira Deus que 2021 possa ser de mais paz, saúde e bênção!

 

 António Sílvio Couto


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