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terça-feira, 15 de dezembro de 2020

‘O racismo está na moda’ – sim, não ou talvez?

 

Um treinador de futebol teve esta reação – ‘o racismo está na moda’ – para fazer a sua interpretação sobre um episódio – tão inócuo, quão bizarro ou mesmo fedorento de base – em que um tal elemento de uma equipa de arbitragem se desentendeu com um outro participante de uma equipa técnica de futebol, rotulando o possível prevaricador de ‘racista’ pela simples razão de ter apelidado o antagonista de ‘negru’ (não foi de preto!)…na sua língua materna.

As palavras mudam de significado se ditas por um preto ou por um branco? A tez da pele faz tanta rutura e cria tantos engulhos, assim, em quem pensa de forma diferente do racismo reinante e subserviente? Os que não têm a pele negra terão de pedir desculpa por, possivelmente, se destoarem ou destacarem daqueles que apresentam tal coloração? Algo de grave está, de verdade, em curso. Saber discernir tais riscos poderá parecer inteligência e não mera acomodação! Pensar com a cabeça bem arrumada pode fazer a diferença, seja qual for a cor da pele!

De facto, o alarido foi crescendo de dimensão, obrigando a que, quem queira ter aceitação nas flutuações consideradas ‘normais’, tenha de concordar com o desfecho da jogatana interrompida ou que deva assumir comportamentos que, uns tantos mentores duma certa ’maioria negra’, levam a que se faça o papel de figurante numa representação ridícula e quase farsante. Que dizer do número de teatro – manipulado, indecente e confrangedor – daquele ajoelhar no relvado, antes de alguns jogos? Recusar-se-iam ajoelhar diante de Deus e dos momentos sagrados da sua fé, mas ali prestam-se à ‘adoração’ de um fetiche manipulante e manipulador de quem, querendo discordar daquele ‘circo’, tem de fazer o papel de quase papalvo na configuração pública do fenómeno do futebol…

 

= Tem havido e há, podendo continuar a verificar-se exageros em detrimento de tantos que, em razão da sua pele – que é muito mais do que da sua raça – não foram devidamente valorizados. Mas não houve casos em que, tantos dos pobres, foram marginalizados por não terem meios de sobressaírem na hora mais correta e acertada? Que o digam tantos dos rapazes, em meados do século vinte, tiveram nos seminários diocesanos os espaços mais adequados de aprenderem a pensar, a terem ‘armas’ de afirmação e até de valorização humana, intelectual e cultural. Uma boa parte deles não seguiu a vida sacerdotal, mas receberam valores que ainda hoje os fazem serem cidadãos cultos e empenhados nas suas localidades de proximidade.

Não é nem nunca será uma frase de circunstância, essa nota de apresentação de alguns de nós na hora de sintetizar vivências de antanho: ‘fez os estudos nos seminários diocesanos’. Digo de mim mesmo e de tantos outros – em 1970 éramos quinhentos nos quatro primeiros anos de seminário menor de Braga – que à míngua de condições de vulgarização do ensino aprendemos a amar a Deus, a pátria e a Igreja, seja ela a instituição ou a família no sentido estrito.

 = O racismo por agora apresentado faz da diferença matéria de contestação, mas não valoriza condignamente tantos dos gestos de fraternidade vividos em muitos dos espaços eclesiais, pois aí não se olha à (dita) cor da pele, mas às pessoas que desejam crescer mais por aquilo que une do que pelo que, potencialmente, separa. Efetivamente, muitos dos racistas simulam-se nos gritos sem nexo e as provocações sem razão. Quantos deles se encobrem sob a capa da defesa dos mais vulneráveis, mas atiçam outros para a revolta sem rosto nem assunção das suas responsabilidades. Nota-se que as lições de dialética – recebidas, assimiladas e propostas – noutros tempos e com outros interesses ideológicos regem mais as tomadas de posição do que o conhecimento das verdadeiras causas e do combate às reais consequências.

Numa palavra: em Portugal não há racismo…sobretudo tendo em conta esse que dizem deambular em certas áreas, setores e vetores, pois não passa mais de uma falácia do que de um projeto mais ou menos bem orquestrado, servido e vendido.

Sim, o racismo configura-se como uma razoável artimanha da moda…política, social e mesmo cultural…que interessa mais a quem defende o dito do que à maioria dos portugueses. Não brinquemos com coisas sérias, hoje como ontem!

  

António Sílvio Couto

 


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