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sábado, 26 de dezembro de 2020

Que lições podemos colher do ano de 2020?

 Como podemos/devemos interpretar o ano de 2020? Que lições – ainda que envoltas em tanta penumbra – poderemos colher? Que há de novo e de diferente neste quase-fatídico ano bissexto? Desejamos todos ajudar-nos a discernir os ‘mistérios’ deste ano de (des)graça? Não correremos o risco de confundir análise com discernimento?

O Papa, na sua mensagem para o 54.º dia mundial da paz deixa-nos uma linha de avaliação. «O ano de 2020 ficou marcado pela grande crise sanitária da Covid-19, que se transformou num fenómeno plurissectorial e global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática, alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos».

À luz desta perspetiva do Papa Francisco poderemos encontrar vários itens. Deixamos alguns:

 * Crise sanitária… e quase cultural

Segundo dados mais ou menos fiáveis esta pandemia da Covid-19 terá atingido, ao nível mundial, os números seguintes: mais de 79 milhões de infetados, quase dois milhões de mortos, cerca de quarenta e cinco milhões de recuperados…Os países mais atingidos foram os EUA, Brasil, Índia, México e Reino Unido.

Em Portugal aos dados andarão em conformidade proporcional, sendo referido que já tivemos quase quatrocentos mil infetados, com mais de seis mil falecidos, num total, em finais de dezembro de quase setenta mil casos ativos e ainda com mais de trezentos mil recuperados…

Embora os sintomas sejam variados e variáveis nas diversas pessoas, eles atingem sobretudo as vias respiratórias, sendo, por isso, essencial resguardar a boca e o nariz, sobretudo com a máscara, e desinfetar-se cuidadosamente, desde as mãos até às superfícies tocadas ou contaminadas.

Mudaram as formas de relacionamento social, agora mais sob a suspeição e o medo! A máscara deixou os olhos à mostra, mas estes parecem estar ainda mais infetados de preconceito e até de ruindade!

 * Fenómeno plurissectorial e global

Nesta época de globalização a pandemia de 2020 tornou-se uma manifestação daquilo que podemos considerar o colher dos frutos da mobilidade de pessoas, de bens e de trocas económico-financeiras… De facto, se anteriores epidemias como que se reduziam a espaços um tanto limitados, esta crise sanitária tornou-se pandémica devido à constante e intensa mobilidade das pessoas – aquilo que se declarou na China em finais de 2019, difundiu-se rápida e fatalmente por todo o mundo, sobretudo onde havia trocas comerciais e humanas entre si…É nitidamente a globalização da desgraça!

Com que facilidade se foram criando estigmas discriminatórios para com certos grupos etários e sociológicos. Lugares que, anteriormente, eram ignorados pela sua função social de acolhimento aos mais velhos, começaram a ser vistos como espaços de suspeição e quase-mortandade. Certos ‘iluminados’ preferiam lançar o labéu sobre todos – particularmente se fossem não-públicos – almejando serem donos da vida alheia… Pasme-se que se tenha ainda aprovado a legalização da eutanásia em maré de pandemia!  

 
* Situação inter-relacionada (climática, alimentar, económica, migratória)

Alguns mais renitentes parecem começar a compreender um tanto melhor esse grito do Papa Francisco sobre a defesa da ‘casa comum’, que é a natureza e tudo quanto com ela se relaciona, entre os quais os humanos nas suas mais diversas implicações.

Vimos surgirem sinais de desconfiança. Percebemos que algo se tornou mais receoso, fazendo com que momentos, antes de convivência, se possam tornar focos de contaminação. Certas ações coletivas/comunitárias – desde desportivas às religiosas e às (ditas) culturais – passaram primeiro a serem restringidas, depois condicionadas e posteriormente selecionadas…num confinamento recorrente.

Confesso que foi com vergonha que vi celebrações católicas a serem controladas, desde a inscrição prévia até à restrição nos atos litúrgicos. Normas higiene-sanitárias vieram coartar a vivência dos sacramentos e de tantos outros momentos necessários à expressão comunitária da fé… O mal tem artimanhas! 

 

António Sílvio Couto

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