O Papa,
na sua mensagem para o 54.º dia mundial da paz deixa-nos uma linha de
avaliação. «O ano de 2020 ficou marcado pela grande crise
sanitária da Covid-19, que se transformou num fenómeno plurissectorial e
global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática,
alimentar, económica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e incómodos».
À luz
desta perspetiva do Papa Francisco poderemos encontrar vários itens. Deixamos
alguns:
Segundo
dados mais ou menos fiáveis esta pandemia da Covid-19 terá atingido, ao nível
mundial, os números seguintes: mais de 79 milhões de infetados, quase dois
milhões de mortos, cerca de quarenta e cinco milhões de recuperados…Os países
mais atingidos foram os EUA, Brasil, Índia, México e Reino Unido.
Em
Portugal aos dados andarão em conformidade proporcional, sendo referido que já
tivemos quase quatrocentos mil infetados, com mais de seis mil falecidos, num
total, em finais de dezembro de quase setenta mil casos ativos e ainda com mais
de trezentos mil recuperados…
Embora
os sintomas sejam variados e variáveis nas diversas pessoas, eles atingem
sobretudo as vias respiratórias, sendo, por isso, essencial resguardar a boca e
o nariz, sobretudo com a máscara, e desinfetar-se cuidadosamente, desde as mãos
até às superfícies tocadas ou contaminadas.
Mudaram
as formas de relacionamento social, agora mais sob a suspeição e o medo! A
máscara deixou os olhos à mostra, mas estes parecem estar ainda mais infetados
de preconceito e até de ruindade!
Nesta
época de globalização a pandemia de 2020 tornou-se uma manifestação daquilo que
podemos considerar o colher dos frutos da mobilidade de pessoas, de bens e de trocas
económico-financeiras… De facto, se anteriores epidemias como que se reduziam a
espaços um tanto limitados, esta crise sanitária tornou-se pandémica devido à
constante e intensa mobilidade das pessoas – aquilo que se declarou na China em
finais de 2019, difundiu-se rápida e fatalmente por todo o mundo, sobretudo
onde havia trocas comerciais e humanas entre si…É nitidamente a globalização da
desgraça!
Com que
facilidade se foram criando estigmas discriminatórios para com certos grupos
etários e sociológicos. Lugares que, anteriormente, eram ignorados pela sua
função social de acolhimento aos mais velhos, começaram a ser vistos como espaços
de suspeição e quase-mortandade. Certos ‘iluminados’ preferiam lançar o labéu
sobre todos – particularmente se fossem não-públicos – almejando serem donos da
vida alheia… Pasme-se que se tenha ainda aprovado a legalização da eutanásia em
maré de pandemia!
Alguns
mais renitentes parecem começar a compreender um tanto melhor esse grito do
Papa Francisco sobre a defesa da ‘casa comum’, que é a natureza e tudo quanto
com ela se relaciona, entre os quais os humanos nas suas mais diversas
implicações.
Vimos
surgirem sinais de desconfiança. Percebemos que algo se tornou mais receoso,
fazendo com que momentos, antes de convivência, se possam tornar focos de
contaminação. Certas ações coletivas/comunitárias – desde desportivas às
religiosas e às (ditas) culturais – passaram primeiro a serem restringidas,
depois condicionadas e posteriormente selecionadas…num confinamento recorrente.
Confesso
que foi com vergonha que vi celebrações católicas a serem controladas, desde a
inscrição prévia até à restrição nos atos litúrgicos. Normas higiene-sanitárias
vieram coartar a vivência dos sacramentos e de tantos outros momentos
necessários à expressão comunitária da fé… O mal tem artimanhas!
António Sílvio Couto
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