Fala-se por aí de um tal ‘plano de recuperação e resiliência’, cujo principal objetivo parece apontar para um investimento de 12,9 mil milhões de euros, nos próximos seis anos, sobretudo com dinheiro proveniente da União Europeia.
As áreas de intervenção – logo de gasto de dinheiro…muito dinheiro – apresentam-se em três aspetos: resiliência, transição climática e transição digital.
Vejamos os campos específicos de cada uma destas áreas e os dinheiros envolvidos:
* Resiliência: envolve vulnerabilidades sociais,
potencial produtivo, competitividade e coesão territorial... num total de sete
mil milhões de euros, com as seguintes verbas previstas – 3,200 milhões para
serviço nacional de saúde, habitação e respostas sociais; 2.500 milhões de
euros em investimento e inovação com qualificações profissionais; 1.500 milhões
para competividade e coesão territorial.
* Transição climática: envolve
mobilidade sustentável, descarbonização, eficiência energética e energias
renováveis... num total de 2.700 milhões de euros com os investimentos
seguintes: transportes – 975 milhões; descarbonização – 925 milhões; eficiência
energética de edifícios, estratégia para o hidrogénio e gases renováveis – 800
milhões.
* Transição digital: envolve digitalização
das escolas e equipamentos infraestruturas e recursos humanos e educativos,
além do apoio à transição digital das empresas... num total de três mil milhões
de euros.
Este ‘plano de recuperação e resiliência’ vai ser apresentado a 14 de
outubro no parlamento português e no dia seguinte à Comissão Europeia.
Este ‘plano’ enquadra-se no Plano de Recuperação Europeu, que pretende mitigar
os efeitos da pandemia da covid-19.
= Mais uma vez estamos confrontados com uma enorme quantidade de dinheiro que nos vem da Europa. Atendendo às experiências anteriores precisamos de não deixar que sejam sempre os mesmos a beneficiar desta torrente de milhões de euros por dia…
Agora que os responsáveis governamentais estavam a olhar para os dedos sem terem que distribuir, eis que surge este PRR, de onde brotarão largas maquias para continuarem a iludir o país, senão com atos ao menos com verborreia… e estórias do ‘sem-nunca’!
Diante desta abundância toda veio-me à imaginação a imagem de um ‘avô rico’ lá para as bandas da Bélgica, que nos deixou uma fortuna (dita) incalculável para gastar. Nunca vimos nem escutamos o tal avô, pois ele é muito chato com as recomendações que faz aos netos mais travessos… Sobre uns tios rezingões mais aplicados, que nos dizem que devemos saber governar as nossas economias, deixadas em herança, ainda mandamos umas bocas, pois parece que nos querem fazer poupar, quando o que desejamos é gastar à tripa-forra, trabalhar o menos possível, vivermos a nossa vidinha, sem nos interrogarmos de onde vem tanto dinheiro… desde que não tenhamos de prestar contas aos tios mais forretas.
E se fecham a torneira do ‘avô rico’? Teremos capacidade de sobrevivermos nos hábitos já adquiridos, sem o dinheiro fácil e abundante? Os mais rebeldes poderão prometer mundos-e-fundos aos seus descendentes, sem olhar ao futuro? Conseguirão dar tudo e o resto, quando as contas bancárias forem canceladas e já não houver nada para distribuir? Com este aglomerado de familiares tão díspares continuaremos a viver nesta aparente comunhão de bens não-adquiridos, mas facilmente esgotáveis?
Uns parentes da zona da Rússia também tinha uma quinta bem organizada, mas que faliu, há cerca de trinta anos… Foi o descalabro, deixados à solta os primos de Leste passaram por grandes dificuldades, muitos deles vieram trabalhar para nós, quando começamos a receber os primeiros trocos do ‘avô rico’… Em pouco tempo ninguém os distingue nem pela língua nem pela força de trabalho.
= À luz do ‘plano de recuperação e resiliência’ apetece-me trocar as palavras, embora a sigla possa ser a mesma: não será mais uma artimanha para vermos a ‘remanescência’ de um país que teima em continuar a ser autónomo, mas cada vez mais dependente de terceiros… psicológica e economicamente. Até quando?
António Sílvio Couto
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